O fim que eles não tiveram

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O cheiro de cigarro podia ser sentido. O sr. Augusto não se importava mais se aquilo lhe faria mal ou não.

Edgar o analisava em silêncio.

- você quer que eu leve Helena para a Europa?

O Sr.Augusto fez que sim com a cabeça.

- soube que lá há tratamento para pessoas no mesmo estado que ela. E essas pessoas demostraram melhora significativa.

Edgar, sentado em uma das poltronas da sala, examinava o irmão em pé, perto da janela, com o olhar para além dela.

- quando quer que eu faça isso?

O irmão pigarreou, fazendo um careta para Edgar, por o forçar a dar aquela resposta.

- após a minha morte. Augusto já perdeu um irmão, vai perder um pai, não quero que ele perca a mãe também.

Edgar permaneceu em silêncio, não ia contrariar o irmão quanto a sua fala.
Percebendo o sutil incômodo que causara no irmão, Augusto falou:

- apesar dos apesares, Edga, é a mim que ele ver como pai.- aquela fala pesou mais que o silêncio sobre eles.

- ou você quer mudar esse fato?- remendou ele.

Edgar se levantou da poltrona.

- não há por quê, há, irmão?

Edgar sabia que não.

- ele vai herdar tudo que tenho, Edgar. Vai poder estudar e ter uma vida boa. Bem diferente da que teria se tivesse sido criado por você.

Em resposta, Edgar colocou as mãos no bolso.

- aquilo é passado, irmão.

Apesar de parecer cruel, o que pensava precisava ser dito.

- se ele descobrir, vai o seguir para onde for, Edgar. E você não quer isso, quer? Você quer ser livre, sem ser preso a ninguém-

As palavras ditas por Augusto deixaram escapar o que ele estava sentindo.

- eu não o vou arrancar de Helena, Augusto. Não se preocupe. Ele ama ela e jamais a deixará.

Sentindo um balde de água fria cair sobre si, Augusto se deixou cair na poltrona.

- não quero que você o envolva em seus negócios sujos. Eu o criei a minha maneira. Não jogue tudo para o alto, não deixe que ele desperdice a vida dele. -

Ele levou a mão ao queixo, passando os dedos pela barba crescida que já aumentara em número de cabelos brancos. E então lágrimas começaram a rolar pela face daquele homem. A lembrança de seu filho mais velho entopeceu seus sentidos...

O erro de Edgar influenciara na vida de todos os arruinando para sempre. E ambos tinham consciência disso.

Na noite em que o primogênito foi morto era a ele, Edgar, quem os bandidos estavam a procurar. Era a ele que queriam, mas ao invés disso...

Ele se aproximou do irmão, e pousou a mão em um dos seus braços.

- ele terá uma vida longa e feliz, irmão. Eu prometo. Ninguém mais invadirá essa casa e ninguém tocará em seu herdeiro.-- agora mais perto Edgar podia sentir o cheiro de álcool no irmão, ali estava o motivo daquilo tudo.

Ao se levantar Augusto pousou a cabeça no ombro dele.

- não tenho mais tanto tempo, Edgar. Acho que não vou conseguir esperar ele voltar.- disse por fim, com um demorado suspiro.

Quando escolhemos amar(Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora