- ele está morto, Margarida. O marido dela os achou. Ambos morreram. Eu sinto muito. - ela leu o profundo pesar nos olhos dele, mas ao invés de se sentir consolada, teve raiva dele.
- a culpa foi sua! Sua!- ela pulou para cima dele, socando seu peito com suas delicadas mãos. Ele segurou as mãos dela, e a abraçou. Ela tentou desvencilhar-se, mas ele a apertou contra si.
- eu sinto muito, meu bem-
As lágrimas escorriam do rosto dela.
- não! Você não sente!- ela conseguiu desvencilhar-se no momento em que ele relaxou o gesto.
Ela saiu do quarto e foi para o jardim. Lá, ela se escondeu entre as flores e debruçada no chão, chorou.
- senhora? - para a surpresa dela, Théo ainda estava lá, aos sábados ele só trabalhava até o meio dia, e já passava de meio dia e meio.
Ela tentou enxugar as lágrimas. Mas falhou.
- ele está morto. Morto.- sua voz saiu em um murmúrio.
Ele se agachou em frente a ela. Seus olhos solidários a capturaram.
- eu sinto muito.
Ele lhe estendeu um lenço.
- você já pode ir, já está...-
- ficarei o tempo que precisar para vê-la melhor. Se ficares aqui, também ficarei. -
As lágrimas ainda caiam, mas algo na maneira em que ele a olhava e falava a fizeram se acalmar.
- eu nunca mais vou ver meu irmão. Nunca- ela mergulhou o rosto no ombro dele, chorando. Ele correspondeu a segurando firme. Uma de suas mãos, acariciando os cabelos dela.
O silêncio e o gesto de consolo dele valeram mais que mil palavras para ela.
- e então é assim que vai ser? Ficarei sozinha neste mundo? -
- não. Não vai mesmo.
E então, enquanto afastava o rosto dela de seu ombro, ele lhe falou, olhando profundamente nos olhos dela.
- não enquanto eu viver...
ela já não era mais a senhora daquela casa, mas sim, apenas uma mulher. Ela, lentamente, deixou que os lábios dele se aproximassem dos dela.
E assim, ainda agachados, eles se beijaram.
O beijo durou poucos segundos, mas foi o suficiente para deixar as coisas claras entre eles.
- não posso..isso
Ele segurava o rosto dela entre as mãos.
- pode sim. Você não merece a vida que está levando e sabe disso. Não é culpa sua.
Ainda com os olhos banhados em lágrimas, ela se permitiu ser beijada mais uma vez.
- podemos mudar isso.- completou ele.
Ela, vagarosamente, se levantou.
- eu preciso ir agora e eu acho que você também deveria ir- foi tudo o que disse. Mas suas palavras não soavam como comando. Ela fungou e então deu as costas para ele,saindo do jardim.
°°°°°°
Ao entrar na casa Margarida encontrou Mama em pé, perto da porta da cozinha.
- onde está Pedro? - quis saber ela.
- saiu logo após a sua ida ao jardim, foi buscar Luísa no cemitério.
Mama permaneceu parada, olhando fixamente para Margarida.
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Quando escolhemos amar(Concluído)
RomanceQuando o amor acontece em meio a guerra, rastros do passado ecoam no presente. Foi isso que Luísa e Augusto herdaram dos pais. Ambientado nos anos 66 e 45,acompanhe a trajetória do casal que luta para permanecer junto apesar dos fantamas que os cerc...