Quando a vida começa

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- ela morreu? - perguntou uma vozinha angelical.

- claro que não, bobão! - respondeu de forma contudente uma menina de olhos claros e cabelos loiros. Ela olhava para o irmão mais novo como se ele tivesse falado a coisa mais absurda de se ouvir.

A verdade era que era mesmo.

- Dite, não chame seu irmão de bobão- disse Mama, com um sorriso nos lábios, enquanto acariciava os cabelos negros da criança que estava sentada em seu colo e que fora o autor da pergunta.

A irmanzinha dele, de oito anos, estava na cadeira ao lado de Mama, com um gato de pêlo assanhado entre as pernas que insistia em fugir do colo dela,enquanto ouvia Mama contar a história que, embora conhecida por eles, era novidade para o irmão mais novo de 6 anos.

Mama observou, achando  graça da cena, quando a garotinha idêntica a Dite resolveu salvar o pobre gato dos braços da irmã. Dite aceitou entregá-lo à irmã. Para ela, era como se ela e Loty fossem a mesma pessoa;ela ainda estaria pegando aquele gato rebelde se ele estivesse nos braços de Loty.

- se vocês continuarem, Mama não poderá terminar a história- ameaçou o irmão mais velho, um rapaz com cabeleleira loira, abaixo das orelhas, Diego.
Tinha 14 anos, e embora ainda muito novo, já possuía liderança entre os irmãos mais novos, que o respeitavam e obdeciam. Não com uma espécie de medo mas sim como se ele fosse o próprio Peter Pan e eles os meninos da Terra do nunca.

Diego gostava de ouvir a história dos pais. Sempre que Mama insinuava que a ia contar, ele se enconstava na mureta de madeira da varanda da casa e ficava lá ouvindo em silêncio enquanto seus olhos contemplavam o céu e sua mente viajava para 1966, quando seu pai era o garoto mais descolado da cidade e seu avô o homem mais aventureiro que já ouvira falar.

- termine, Mama. Termine a história. - pediu Martim. O garoto de 10 anos, que assim como os demais, já ouvira a história dos pais, mas estava ansioso para ouvir mais uma vez.

Mama sorriu para ele. Martim gostava de usar um boné,ganhado por sua avó paterna, o que era uma pena, pois Mama achava aqueles cabelos pretos lindos e para ela, ele era a versão de como Augusto devia ser na infância.

- tudo bem, Martim. Vou continuar.  Em que parte parei?

- Quando mamãe ficou tão doente que vovô teve que voltar antes do casamento dela com o velho Tom. - completou Rebeca sorrindo assim que ouviu os irmãos deixarem um "eca" escapar. Os castanhos olhos de Rebeca combinavam com a calma e serenidade em que a menina vivia. Dali a poucos meses faria 12 anos e então, poderia pela primeira vez fazer uma longa viagem com avó, Margarida, que prometera como presente levá-la à Paris.

- ah, sim. É verdade. - concordou a velha mulher.

" Quando Luísa abriu os olhos, seu quarto estava em uma claridade angelical. Por milésimos de segundos, ela imaginou que estivesse morta.

- Luísa.- chamou o pai. Ela então o distinguiu da claridade. Se ela estivesse morta então ele também estaria.

Ele se aproximou da cama dela, só então Luísa enxergou o estado do pai: o rosto abatido e olheiras fundas abaixo dos olhos, indicava que ele não dormia a dias.

- pai.. - embora quissesse falar com ele sua voz saiu fraca e baixa. Ele pousou a mão na testa dela.

- shhhh, está tudo bem. Não faça nenhum esforço. - pediu.

A voz dele  calma e serena, fez Luísa perceber o quanto ela queria que ele voltasse de viagem e o quanto o queria ali com ela.

- papai...- as lágrimas começaram a sair se seus olhos - o senhor veio...- seu corpo expulsou todas as lágrimas que ela guardara por anos, fingindo que não se importava com a indiferença do pai.

Quando escolhemos amar(Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora