Pedaços

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Quando ele soube da morte do pai, seu coração pareceu parar de bater. Ele chorou. Chorou nos braços de Luísa.

O cemitério estava vazio. E em frente ao túmulo do pai, a meio metro de distância, havia uma árvore. Foi debaixo dela que eles estenderam um cobertor, onde passaram aquela melancólica tarde abraçados.

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Dessa vez, as férias não foram divertidas e animadas. Augusto passava a maior parte do tempo em casa.  Apenas Luísa o conseguia convencer a sair. E quando o fazia, passava a maior do tempo aéreo.

- ensine aquela oração pelos doentes, Mama.- pediu Luísa uma certa vez.

A mulher estranhou o pedido.

- para quê, criança. Não se sente bem?

- não é isso. É para um amigo. Ele vive deprimido. Temo que ele adoeça.

A mulher, que preparava o almoço, colocou as batatas para cozinhar.

- entendo. Te ensino, sim. Mais tarde, na  hora de dormir, vou até o seu quarto para te ensinar.

- certo!- respondeu, satisfeita.

Ao olhar sua menina, Mama se recordou que a anos atrás, também tinha recebido esse mesmo pedido.

Quando a guerra acabou, Edgar demorou três anos para retornar para casa, e quando o fez, voltou muito doente. Mesmo no hospital, os médicos temiam que ele não escaparia da morte. Naquela época, Mabele tinha 16 anos e ela a  pediu para  ensiná-la a rezar.

- por favor, Ana. Os médicos dizem que só um milagre pode salvá-lo. Irei rezar por isso então.

Mama a assim fez. Mabele decorou rapidamente a oração  e então, todos os dias, quando ia visitá-lo, rezava.

Foi em um dia de outono, de manhã cedinho, quando Mabele a arrastou para o hospital para visitá-lo, que ele abriu os olhos. A febre a dois dias o tinha deixado.

Mama se lembrava que naquele dia teve a certeza dos sentimentos de Mabele por Edgar. A menina tinha abrido um grande sorriso de alivio, e não conseguiu controlar as lágrimas quando ele pareceu reconhecê-la mesmo depois de três anos.

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Quando as férias acabaram, Augusto já tinha no rosto a expressão de alguém recuperado. Os conflitos no sul já tinham acabado. O governo conseguiu contornar as rebeliões com suborno e alguns acordos. Isso significava que Diogo tinha voltado para casa e para os braços de Sofia, o que era uma alívio.

Depois do Ano Novo, as aulas na escola do Velho Lago retornaram.
A volta do rebelde Augusto não passou dispercebido. Na primeira semana, como forma de boas vindas, o grupo armou uma.
Algo naquelas peraltices os faziam recordar como as coisas eram antes dele partir para o quartel.

Gritos de nojo e susto ecoaram pelos corredores da escola. Dois porcos enumerados 1 e 3 com tinta em suas costas corriam soltos.

A voz de um dos professores ecoou pelo alto falante. Queria saber quem eram os responsáveis por aquela brincadeira. 

Ninguém, sabia. Ou ao menos fingiam não saber. Sem provas, era impossível acusar. Durante toda a manhã pequenos grupos de adultos vasculharam a escola à procura do porco número 2.

- essa é a piada- disse um dos rapazes, enquanto estavam reunidos em uma lanchonete, próxima a escola. As aulas tinham acabado mais cedo.

- não existe porco número 2.-

Os rapazes caiam na gargalhada quando enfim as Lindas perceberam a audácia deles.

- você são terríveis- comentou uma delas.

Quando escolhemos amar(Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora