Pássaro Branco

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" O pássaro branco entrou na gaiola Ele já não está livre.
O pássaro entrou na gaiola
Ele brigou com seu amor
Seu peito está rasgado
De dor."
( Marrie Flores)

"Juro que voltarei" foram as palavras dele. Ela o olhou entrar no caminhão que o levaria para os campos de batalha. E o olhou piscar para ela, com aquele olhar sedutor, que ele sempre tivera, enquanto o carros se afastavam ao solavancos provinientes da estrada lamacenta.

" Juro que volto, cigana"

Luisa sentiu um desconforto ao ser chamada de cigana. Não, ela não era uma. Pelo contrário. Mas o rapaz fardado, com a arma nas costas e de partida era o seu Augusto. Não era? Ela poderia jurar que a dor de vê-lo partir rasgaria o seu coração.

Dois tiros foram dados. O campo de lama estava banhado de sangue. Homens caídos, mortos e feridos estavam espalhados pelo chão. Ela olhou bem quando Augusto alvejou o oponente. E aquela assustadora cena a fez acordar do pesadelo.

Quando seus olhos abriram, a escuridão do quarto a imergiu. A respiração dela estava acelerada, e ao sentir um desconforto,sentiu enjôo. Há alguns dias vinha tendo pesadelos como este. Mesmo Augusto a tendo consolado. Alegando que ele não estaria indo pra guerra. Aquilo era exagero dos jornais. Era apenas uns confrontos no sul do país de oponentes do governo, mas nada mais.

Relembrando a si mesma, na intenção de se acalmar, Luísa tocou no cordão que enfeitava o seu pescoço, ganho por seu amor.

***

- onde está indo?- a voz amargurada de Margarida a pegou de surpresa. Os passos de Luísa pararam em frente a casa.

Margarida cruzou os braços.

- indo encontrar aquele rebelde?

Luísa sentiu-se ameaçada. Se seu pai ouvisse aquela suspeita seria o fim.

- estou indo à árvore vovó, confessou

- claro que está. Só me pergunto como tem a coragem de vê-lo depois de tudo o que ele fez ao seu pai. Ou acha que que eu não sei ?

Os olhos de Luísa se arregalaram.
- eu já sei Luísa, eu a segui e a vi com ele. Só não contei ao seu pai para não matá-lo de desgosto.

Luísa mordeu a isca no momento em que a rebateu.

- ele não fez nada

Os lábios de Margarida se curvaram para cima, vitoriosa.

- é mesmo?...

***

Os passos de Luísa foram dados pesadamente sobre a grama. Sua mente variava entre o que sentia e sobre o que achava. Não! Margarida não podia está falando a verdade. Aquilo não devia ser verdade. Mas a medida que pensava naquilo, na noite em que o caminhão do pai foi encendiado,na festa, tudo se encaixou.

Ao levantar a cabeça e olhar para frente, lá estava ele, vestido com a roupa de soldado, encostado na árvore vovó. Ao olhá-la, ele sorriu. Mas o sorriso dele se desfez ao perceber o estado dela. Lá no seu íntimo, Augusto suspeitou o motivo.

Aquele dia foi marcado como um dia doloroso para ambos. Mesmo tempos depois, flashes da briga permaneceram na mente deles.

- era o meu pai! Como você foi capaz de fazer isso com o meu pai?!- interrogava ela, em uma mistura de raiva e de lamento.

- eu não tive escolha, Luísa, me escuta...

Mas as palavras de Augusto não surtiram efeito, Luísa ficou inconsolável, a medida que Augusto se explicava  uma parede se levantava entre eles. Naquela noite ela foi dormir chorando, lembrando de todo o ocorrido, lembrando que só gritava com ele, enquanto este tentava se explicar. Mas por alguma razão, ela não conseguia se lembrar das palavras que o fizeram ir embora. Por alguma razão, ela não conseguiu se lembrar, mas seu coração lhe dizia que elas o haviam ferido profundamente.

Continua...

Quando escolhemos amar(Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora