XLIII

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Depois da fala de Lionel, eles comeram em silêncio. A mulher só assentiu, não querendo questionar o porquê dos pais não poderem saber, era claro que iriam esconder algo tão errado quanto aquilo. Cristiano, por sua vez, terminou de lanchar e ficou esperando o argentino acabar também. A mãe já tinha ido de encontro aos netos, deixando -os sozinhos para conversarem.

- Cris... -- o pequeno falou depois de terminar sua refeição. -- Eu não quis deixar passar uma falsa impressão. Tenho orgulho de estar com você.

Ele coloca uma das mãos na própria cadeira e vira o corpo de lado, o olhando. O português manteve um olhar sério para um ponto fixo qualquer.

- Amor... -- falou em voz mínima, o fazendo perder um pouco da marra. -- Minha família é muito voltada à igreja. Eu só tive uma namorada de verdade, eles acharam e ainda acham que nós vamos voltar um dia. Não iam entender o "nós". -- torce os lábios e abaixa a cabeça, brincando com os dedos. -- É... Eu já era estranho antes por ser o que sou, imagina se soubessem... Queria ter um pouco da sua confiança e achar que não, mas não é assim. Me desculpa.

Ele não tinha mentido, realmente tinha uma boa relação com seus pais, e o resto da família, mas sempre sentiu como se fosse o esquisito entre eles. Então sempre quis o melhor, mas se manteve afastado, ora por não saber como agir, ora porque tinha medo. Contudo, sentia saudades, e queria vê-los alguma hora. Cristiano suspirou, virando-se para o lado, colocando sua mão em cima da dele que antes brincava com os dedos, e o olha.

- Não irei apressar você. Não se preocupe. -- o viu assentir, ainda olhando para baixo. - Ei. Está tudo bem. -- inclina um pouco o rosto para que o olhasse. -- Tenho certeza de que, quando virem que sou eu, vão gostar. -- sorri convencido.

O menor ri com o que foi dito, confirmando com o balançar da cabeça.

- Claro. Como não gostar de você que é tão humilde? -- ele o vê ficar surpreso.

- Ei, você não era assim.

- Estou assim desde a Copa. -- o olhou, fazendo um sorriso largo se formar no rosto do português. Era o momento em que tinham se conhecido oficialmente e aproximado.

- Então estou fazendo bons discípulos. -- se levantou. -- Por que não dorme aqui?

- Não acho uma boa ideia depois daquilo. -- fez o mesmo, saindo da sala com ele. -- Não seríamos bem vistos.

- Bom, a casa é minha. Meu filho te adora, tenho certeza que os outros também irão. -- anda com ele pelo lugar. -- E quanto mais elas te verem comigo, mais rápido se acostumam. -- coloca as mãos nos bolsos, olhando para frente.

Embora Lionel quisesse acreditar, duvidava um pouco. Ele sentiu que a mãe realmente não tinha aceitado tão bem, quanto a ex-mulher, não tinha a visto, mas poderia dizer o mesmo, já que provavelmente o estaria evitando. Quando estavam a subir as escadas, a porta da grande sala se abriu, mostrando a mulher com umas sacolas na mão, e segurando um dos filhos com a outra.

- Tudo bem, pode ir, mas cuidado para não machucar. -- o solta, então a criança corre pela sala.

Cris olha para trás pedindo para que Léo o esperasse e desceu novamente os degraus, pegando um dos filhos mais novos no colo.

- Oi, amor. -- sorriu beijando suas bochechas. -- Divertiste bastante, an?

Georgina respirou fundo controlando seu humor quando o viu por lá. Dando um sorriso meio forçado, ela passou por ele ajeitando as sacolas e começou a subir as escadas, arregalando os olhos vendo Messi ali o aguardando.

- Oi. -- ele diz baixo, não fazendo contato visual.

A mulher olha para frente e para os lados, não sabendo se o ignoraria ou daria meia volta para sair de lá, mas optou por ser educada, por mais que ainda se lembrasse da barbárie que tinham feito.

- Oi. Como está? -- subiu rapidamente, não dando o tempo para que respondesse.

Cristiano já tinha se virado com o filho nos braços para observar a cena. Ele não tinha gostado do que viu, porém podia saber que não seria nada fácil serem aceitos. Em alguns passos, voltou a subir a escada com eles, logo colocando o filho no chão.

- Vai para o quarto recolher seus brinquedos, tenho certeza que está uma bagunça. -- o virou para o baixinho. -- E cumprimente seu novo amigo.

- Oi. -- o argentino sorriu, se abaixando um pouco. -- Gosta de bagunçar?

- Uh-hum. -- a criança responde, ainda não sabendo falar corretamente, e olha de um para o outro, logo se escondendo atrás das pernas do pai, fazendo os dois rirem.

- Mateo, não seja mal educado. -- Cristiano o repreendeu, enquanto o outro o olhava.

- Mateo... -- Messi repetiu, dando um breve sorriso. --... Sabe que é um nome muito bonito? -- Cris sorriu balançando a cabeça e mandou o filho ir.

Meio relutante, ele segue seu percurso tropeçando um pouco em seus próprios pés, mas indo até o quarto em que dividia com os irmãos. Os dois continuaram o caminho até irem novamente ao quarto de Cris. Ele tinha dito que não iria dormir por lá, realmente não deveria, só que são raras pessoas que conseguem dizer não ao português, e com certeza, Messi não queria ser um deles, por mais que o tivesse dado território e importância o suficiente para isso.

O resto da noite se seguiu tranquilamente. Os dois poucos saíram do quarto, não quiseram atrapalhar o bom clima que tinham conseguido, apesar de certas coisas tentarem impedir a paz. Na televisão, um jogo de mais cedo do Olympiacos e Marseille passava. Cristiano mantinha um dos braços atrás de sua nuca, enquanto a outra era apoiada no ombro do menor que estava deitado com a cabeça em seu peito, por cima dele.

- O juiz deveria ter dado o cartão aí. -- o camisa 10 comentou.

- Creio que não, foi só um contato. -- ouviu a réplica.

- Contato? Mas o homem ali caiu!

- Consequências do contato, normal.

- Então o que o Ramos fez em mim foi contato também? -- ergueu a cabeça para olhá-lo.

- Claro que não! -- diz sem acreditar naquela comparação. -- Estás a comparar ele tentar lesionar com uma forma de parar o cara que estava a jogar ali? -- indica a TV.

- Sim, parece que para você é a mesma coisa. -- o argentino se sentou ao lado, olhando para frente. -- Sei que não estava querendo agir, era seu amigo ali, eu podia estar agonizando que iria querer defendê-lo.

Pela primeira vez, Lionel estava brincando com a cara de alguém. Como não costumava fazê-lo, o homem ao lado não sabia que se tratava de uma brincadeira, então franziu o cenho, sem saber o que fazer, com um pouco de raiva.

- Ora, não ponha palavras na minha boca. -- olha ele. -- Ponha outra coisa que eu estou querendo, mas não palavras, ainda mais que eu não disse ou fiz.

O camisa 10 sentiu seu rosto queimar por alguns instantes, o fazendo perder o rumo da brincadeira. Que sorte, quando tentou fazer graça, ficou sem ela.

- Hum... -- virou um pouco a face para o lado esquerdo, evitando com que Cris o olhasse, mas foi em vão, já que o mesmo teria sido puxado devagar.

- Eu não te defendi lá? O que quer mais de mim? -- ergueu a sobrancelha.

Lionel sabia que tinha passado dos limites, podia ver em seus olhos que estava levando à sério. Então se questionou se deveria continuar ou não, mas lembrou-se de algo que o incomodava em seu íntimo, o restando apenas dizer:

- Defendeu, mas porque ele feriu seu ego.

E amaldiçoou-se por tê-lo dito, provocando no outro, pela primeira vez, um silêncio torturador e a decepção em seus olhos.

For him  ✪ | CR7 & Messi | BoyxBoyOnde histórias criam vida. Descubra agora