For him ✪ | CR7 & Messi | BoyxBoy

XLIV

Quais são os defeitos de Cristiano Ronaldo? Por anos, o gajo teve que aguentar as enumerações de resposta à tal indagação. Pessoas que não fazem nem esforço para conhecê-lo pensam que podem falar o que quiserem, apenas pelo que parece ou por ter ouvido outro dizer e acreditado nisso. Qual era o problema em ser confiante? Nem ele sabia. Infelizmente, há pessoas que são tão cheias de si que se acham no direito de julgar alguém, apenas porque quer, sem motivos. E, aquilo para Cris, era algo imbecil de se fazer.

Após a declaração de Léo, o clima teria acabado. O português sentia-se bastante decepcionado com ele e consigo mesmo por ter passado essa sensação. Mas, acima de tudo, tinha ficado magoado por a pessoa da qual não esperava que fosse fazer jamais, também insinuou seu ego. O problema era: qual ego? Autoconfiança? Seu jeito de ser? Saber que é o melhor por treinar-se todos os dias de sua vida e saber exatamente do que está falando, já que reconhece seus defeitos, corrige, e se mantém no topo? Eram várias incógnitas das quais queriam saber em qual foi baseado essa definição sobre ele. Lionel sabia que tinha errado em falar aquilo, na verdade, não era o que pensava, apenas falou sem pensar.

- Me desculpa.

Ele disse segundos depois, só que não adiantaria mais. O cara apenas balançou a cabeça e o deu o controle para que desligasse quando fosse dormir e se virou para o lado. Não demorou muito para que o pequeno fizesse isso e se virasse para o lado oposto. Se sentiu horrível por ter agido como todos que não o conhecem. Desde quando se lembrava, Cristiano nunca tinha sido grosseiro com ele, nem o tratava mal. É verdade que tinham encontros explosivos em campos, o português já tinha admitido que o caçoava com os amigos, mas fora dele, cara a cara ou pela mídia, não tinha visto nada negativo. Era ao contrário. E depois de tudo que passaram, e são, o argentino foi tão estúpido em dizer. Não era o que pensava. Estranhou que não o tenha defendido em primeiro momento, nas repetições do jogo o viu acanhado por instantes, não que fosse sua obrigação em agir, só que teria achado que o menor não era digno para que brigasse com amigos de longa data. Era assim que se sentia. Só que essa conclusão podia não ser verdadeira. Ele sempre fazia tudo, Messi tinha que estragar. O desfecho, é claro, nenhum dos dois tinha conseguido dormir. As horas passavam devagar como se contasse os minutos de forma provocadora. Vez ou outra, se mexiam na cama tentando encontrar uma posição melhor para espairecer os pensamentos inquietantes, mas não conseguiam. Ficavam próximos, só que Lionel não tinha coragem de aproximar-se mais, mesmo querendo pedir mais desculpas e quebrar esse gelo entre eles. Cristiano não queria por agora, já estava com suas palavras em repetição na mente. Apenas quando deu 3 horas da manhã, o camisa 7 não aguentou mais ficar naquilo e se levantou. Ele foi ao banheiro jogando a água no rosto e escovando os dentes antes de se dirigir ao closet, pegando uma bermuda e uma regata, logo se vestindo. O argentino permaneceu deitado, fingindo que estava dormindo, não queria incomodá-lo, então apenas o observou sair do quarto. Ao mesmo tempo em que se questionava onde ele estaria indo, as pernas de Cristiano já sabiam bem para onde o conduziam: seu próprio campo de treinamento. As luzes eram acessas. Não eram fortes o suficiente para atrapalhar o sono de sua família, mas bom para que conseguisse enxergar algo em meio à escuridão da ainda madrugada.

Ele logo se alongou e deu algumas corridas ao redor do campo para se aquecer. Não iria dormir mesmo, então não fazia mal praticar aquilo que sabia fazer. Ficar no seu próprio mundo em que se entendia e moldava. Por fim, acionou um dispositivo que disparava as bolas em direções diversas e em diferentes velocidades. Ele começou em uma mais lenta para se acostumar, conseguindo pegar a bola rapidamente até ir acelerando mais, lançando o objeto de pé em pé antes de "matar" outra no peito, fazendo uma jogada para o lado.

"Até eu consigo driblar, papai"

Lembrou-se da frase do próprio filho. Ele deveria ser capaz de fazer tudo, ser a inspiração, e se limitou tanto na parte de decisão, do que em mostrar que era e que podia ser capaz de lances e jogadas bonitas. Ele ainda queria ousar. Recebendo outro arremesso, ele olha para um obstáculo e dá uma leve pedalada, tentando montar um drible. Estava lento. Não conseguiria se fosse tentar por agora.

"Só não garanto que irá driblá-los, isso eu o ajudo."

Mas não se importou em continuar a tentar. Se sua limitação, no momento, fosse não saber mais ousar em campo, ele iria conseguir de novo. Então o gajo tentou. Falhou. Tentou novamente, e não conseguiu.

"Nem tudo é sobre você. Tem que parar de ser tão egocêntrico."

A voz daquele argentino metido tomou vez. Em uma raiva súbita, Cris conseguiu fazer seu primeiro drible com sucesso. Era lento, mas tinha conseguido encaixá-lo. Então se lembrou daquelas inúmeras postagens em redes sociais que falam sobre ele, citando sua idade, e sempre tentando chutar quando iria parar, em qual clube ou se ia até aguentar a próxima Copa. Cristiano deveria ter uma data de validade? Não, ele definitivamente não era descartável.

Dessa forma, ele pegou outra bola jogada, e a lança de letra, já tendo a posse de outra que lhe era arremessada. Léo não conseguia ficar quieto na cama, ele queria saber para onde foi, se teria ido embora ou preferiu ficar em outro lugar que não fosse ter sua presença. Ao se aproximar da janela do quarto, notou uma luz um tanto forte vinda do campo que treinaram mais cedo. Não seria possível que o português estava treinando a essa hora. Contudo, estava. Pôde perceber vendo as costas largas do outro fazendo algumas jogadas e correndo pelo gramado.

- Ele não é normal... -- murmurou consigo mesmo, tendo seus olhos completamente fixados na figura do maior.

Não era longe, então podia ver bem o homem, e se manteve a olhá-lo. Há pessoas que se viciam em séries, outras em músicas, drogas, comidas ou qualquer outra coisa, Léo simplesmente se viciou na cena que acontecia em sua frente. Vê-lo tão focado junto ao esporte que amava, era a perfeição que nunca pensou que iria gostar tanto. Mas algo o incomodava, ele não era tão fissurado a ponto de estar em plena madrugada apenas para treinar. Não era saudável ou comum. Algumas peças começaram a se encaixar em sua cabeça. Cristiano estaria assim pelo que falou. Então ele também não teria dormido e queria provocar ao contrário.

- No creo en eso...

Passou a mão pelo rosto, meio incrédulo. Não sabia se deveria ir para lá impedi-lo, então continuou parado tentando entender o porquê errava tanto quando deveria apoiá-lo. Deveria ser umas quatro e vinte da manhã quando Cristiano se sentou na grama, extremamente cansado. Seu coração estava em disparada, o ar faltava e sua boca era entreaberta. Ele queria tomar um banho e ir se deitar, finalmente. Messi tinha achado a brecha em que podia ir, o viu se levantar, e correu em se retirar de perto da janela, saindo do quarto. Ele só não imaginava que aquela mulher que estava na casa também, teve a mesma ideia de se encontrar com o gajo e foi mais rápida. Chegando na sala, ele parou na metade dos degraus, vendo a figura da moça sentada no sofá com um robe que não lhe cobria em nada o corpo, e a porta se abrindo. O argentino deu alguns passos para trás sem fazer barulho e se manteve no corredor, observando tudo escondido.

- Gina? -- ele se assustou assim que abriu a porta por vê-la acordada e lá.

- Cris. -- ela suspirou apoiando o controle ao lado. -- Quer conversar? Acho que você não está muito bem. -- diz enrolando uma mecha de cabelo nos dedos, se encostando no sofá, enquanto seu olhar o percorria.