Capítulo 60

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LORCAN
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Depois de horas treinando, sinto vontade de ficar um pouco sozinho, longe de todo o barulho e aglomeração que tem por cada canto do castelo, então vou a procura de um lugar calmo.

Dias atrás, tudo o que eu não queria era ficar sozinho. Ficar sozinho intensificava meus pensamentos sombrios, me fazia lembrar de tudo o que eu sofri, me fazia desabar no chão e surtar. O silêncio era um gatilho que me lembrava do tempo que eu fiquei no escuro, sofrendo nas garras da criatura que me despedaçou por horas, pedacinho por pedacinho. Mas agora eu consigo controlar isso, consigo controlar os pensamentos que tentam me dominar quando o silêncio aparece.

Eu precisei aprender bem rápido a controlar, pois eu preciso estar bem focado para a batalha que se aproxima. Se eu quero sobreviver, eu preciso deixar tudo para trás e focar no momento. Se eu quero ficar bem até chegar a hora de salvar Allyria, eu preciso focar, ser corajoso, esperto, o mais forte que posso ser. Quando tudo isso acabar, posso dar um passo para trás e lutar de vez contra meus pensamentos sombrios.

Não deixo o pensamento "se eu sobreviver, se eu não morrer" tomar conta da minha mente, de jeito nenhum. Um pensamento assim pode desestabilizar qualquer um. Eu tenho esperança que vou sobreviver. Não sei o que vai acontecer no futuro, se as pessoas que eu amo estarão ao meu lado, mas eu vou sobreviver por eles, e por mim. Quando tudo acabar, não importa o que aconteça, vou encontrar meu propósito. Tenho uma família para pensar, minha mãe, meu primo, meus tios e meus irmãos que irão precisar de mim quando tudo acabar e eu for buscá-los nas montanhas.

Quero que todas as pessoas que eu amo estejam ao meu lado quando tudo acabar, mas também sei que elas iriam querer que eu continuasse se elas não estivessem mais aqui. Eu iria querer isso para eles. Allyria mesmo me pediu para eu viver, me cuidar, e eu pretendo seguir essa promessa se a gente for se reencontrar no Outro Mundo daqui uns anos. Se ela sobreviver, vou viver ao lado dela, amando-a todos os dias da nossa vida. Se ela sobreviver e eu não, espero que ela siga o próprio pedido, que ela seja feliz ao lado de sua família e nossos amigos.

Enfim, tenho muitas certezas consumindo minha mente e, consequentemente, uma pergunta que nunca desaparece. Estou fazendo o certo de pensar assim? E essa pergunta não me deixa em paz, me faz ficar maluco e confuso. Por isso preciso do silêncio, o barulho de tanta gente junta não me deixa combater tal pensamento.

Só posso encontrar paz em um único lugar daqui, na torre mais alta do castelo. Ninguém nunca sobe até ela porque não conseguem aguentar os vários degraus da escada em espiral, e se sentem sufocados pelas paredes e pelas poucas janelas que tem pelo caminho. Já eu, com minha super velocidade, chego lá em cima rapidinho.

Vim aqui pela primeira vez com meu pai, o único além de mim no castelo que tinha super velocidade para aguentar subir. Também era o lugar onde ele buscava paz, e um dos motivos para isso é a bela visão que tem aqui em cima. De um lado, dá para ver todos os campos verdes que tem nos arredores do castelo, no outro lado, dá para ver todas as montanhas. E também tem o céu, com seu azul esplêndido e suas nuvens brancas. Hoje o céu está nublado, sem sol — alguns acham uma visão sem graça, mas eu acho que ainda é uma visão linda. E o único som aqui é o som do vento. A perfeição em forma de lugar.

E é uma perfeição ainda maior agora que tem várias criaturas voando pelo céu.

Provavelmente, na antiguidade, essa torre tinha a função de ser um lugar para um vigia, alguém que iria ver os inimigos chegando e avisaria a todos. Mas outras torres foram construídas pelos terrenos do castelo com a mesma função, sem uma escada sufocante, e essa foi esquecida.

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