Capítulo 26

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LEON
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Eu tinha muitos receios antes de aceitar compartilhar meu corpo com Cattleya, como não ter o controle ou ela me deixar de lado e no escuro. Mas não aconteceu nada disso.

Cattleya se mostrou alguém gentil e respeitosa. Antes de fazer alguma coisa, ela pede permissão, e já me avisou que pode pegar o controle sem pedir em situações urgentes e se desculpou adiantado.

É fácil conviver com ela.

Ela que está me acalmando durante o voo em Brody — aquela criatura boazinha que eu não podia saber seu nome antigo, então lhe dei um novo. Ele e Cattleya aprovaram. É um nome muito legal, fiz uma boa escolha, mesmo com minha falta de criatividade.

Não estou com mais medo do voo em si, mas sim porque estou sendo levado para nossa primeira luta contra uma das criaturas que precisamos pegar a essência para derrotar a Primeira Mulher. Estou surtando só de pensar nisso, e voar não está ajudando em nada. Céus, eu sou um ex-espião que consegue escalar uma torre alta sem ter medo algum, mas voar acaba comigo. Meu estômago fica todo embrulhado e tenho medo até de me mexer, e fica pior com a ansiedade me consumindo.

Tenho que superar isso logo.

Para me ajudar, Cattleya falou com Brody e o fez controlar o vento para que eu não o sentisse tão forte em meu rosto. Isso ajudou um pouco, bem pouco. Então ela começou a falar comigo. Me contou como ajudou as pessoas que foram escravizadas três séculos atrás.

De dia, ela se infiltrava entre os nobres como um homem poderoso para descobrir tudo o que podia, as rotas, os horários de trabalhos, transportes e execuções. E as pessoas que eram contra a escravidão. De noite, ela se transformava em raposa e ia conversar com os escravos, conhecê-los melhor. Ao decorrer do tempo, os escravos começaram a seguir aquela linda moça que se transformava em uma raposa. Ela se tornou a esperança deles, porque não aceitava ser chamada de líder, pois as pessoas que encontravam a força que precisavam e seguiram os líderes certos durante a rebelião.

Cattleya juntou as pessoas que eram contra a escravidão para lutar pelos presos e, quando ela tinha tudo o que precisava, ela e sua resistência libertaram o primeiro grupo de escravos e, junto com eles, foram libertando um por um e matando aqueles que ousaram matar e machucar seus irmãos. Assim que todos estavam livres, ela caminhou pelo mundo com aqueles que queriam um lar melhor. Caminharam até encontrar o terreno perfeito para construir uma aldeia segura para eles, uma aldeia que viria a se tornar Mount Shingcal. A aldeia da liberdade. Ela criou a barreira de proteção e a ligou ao líder deles, o primeiro guardião, e fez com que a linhagem dele nascesse com o poder necessário para continuar protegendo a aldeia e qualquer outra pessoa pelo mundo que precisasse.

Por um tempo, ela ficou com eles. Ajudou-os a construir as primeiras casas, a plantar as primeiras hortas, a cavar, a criar canções e histórias, até que a solidão voltou a tomar seu coração e ela se tornou uma raposa por um longo tempo, tendo que voltar a vagar pelo mundo sozinha.

— Você é A Cattleya, as pessoas te conhecem como a deusa da Criação, você tem um poder forte e incrível, como não conseguia se livrar dessa maldição? Como não conseguia se livrar da forma de raposa quando ela toma o controle? — perguntei com curiosidade, depois que ela terminou sua história.

Não entendo como um feitiço de uma feiticeira comum a prendeu na forma de raposa.

— Porque eu não quero. — senti a tristeza tomando conta dela assim que me respondeu. — Eu errei com a minha mãe...eu perdi tudo o que eu amava...e eu nem sempre tinha forças para ignorar a maldição e ser A Cattleya, a poderosa. A solidão, a tristeza, me consumia e a maldição aparecia. Eu não conseguia controlar quando ela me prendia porque estava presa na desolação. É complicado lidar com isso e você sabe bem.

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