Capítulo 22

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LEON
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Volto a consciência várias vezes, mas acabo sempre desmaiando segundos depois. Não aguento a dor em meu corpo. É uma tortura. Parece que todos meus ossos estão quebrados e retorcidos.

Na primeira vez que abro os olhos, vejo o céu azul acima das copas das árvores. É lindo. É uma beleza que me confirma que eu ainda estou vivo.

Na segunda vez, sinto algo peludo em cima de mim e, quando consigo olhar, vejo um coelho branco e fofo.

Na terceira vez, ouço vozes, mas não fico consciente o suficiente para indentificar quem está falando. A voz me faz sonhar com Caswell. Não lembro mais do sonho, mas lembro da sensação, lembro que era um sonho feliz.

Em outra vez, ao abrir os olhos, fico surpreso ao ver chifres e um cabelo vermelho roçando meu peito nu. Desmaio assim que vejo um ferimento aberto e horrível em minha perna, sendo tratado por uma mulher.

Consigo vislumbres da mulher a cada vez que acordo. Longo cabelo vermelho. Chifres longos e enrolados. Olhos azuis e suaves. Pele bronzeada. Cascos ao invés de pés e pelagem marrom clara nas pernas.

Ela cuida dos meus ferimentos. Os animais ficam próximos dela. Ela conversa com alguém que não vejo e nem escuto antes de desmaiar. Falando sozinha, talvez?

Tenho muitas perguntas quando acordo de vez, me sentindo muito melhor. A primeira delas é: onde estou e como não morri depois daquilo tudo? Lembro de desmaiar naquele furacão, um alívio, e lembro dos impactos das árvores em mim. A pior dor e tortura.

Agora que consigo mexer a cabeça sem sentir nenhuma dor, observo o lugar que estou. Não fico surpreso ao ver que é uma clareira e logo suponho que ainda estou no Bosque de Haeshym.

O furacão não me levou para longe dele, graças aos céus.

Me sento e observo o lugar com mais atenção. Aqui parece que o sol brilha de forma diferente, mais forte. É um lugar calmo, bonito e consigo ouvir a cantoria dos pássaros. Estou deitado em um lugar macio e confortável e, assim que olho, vejo que é algum tipo de folha de árvore.

Quase pulo de susto quando um coelho se aproxima de mim. Eu estava sozinho, até agora. O mesmo coelho branco que vi em cima de mim quando eu acordei por alguns segundos. Mas talvez seja outro? O coelho se aproxima de mim e cheira minha mão. Ao se dar por satisfeito, se aproxima mais e lambe minha mão e meu braço.

É quando noto as cicatrizes avermelhadas. Meus braços estão todos arranhados. Tem uma cicatriz maior na minha perna direita e lembro do ferimento horrível que vi que me fez desmaiar. No meu abdômen tem algumas outras cicatrizes, de diferentes tamanhos. Agora eu sei porque estava sentindo tanta dor e por isso não conseguia ficar consciente.

Mas...se meus ferimentos estão curados, então...faz dias que estou aqui? Inconsciente?

Começo a me desesperar quando me pergunto há quantos dias estou aqui, quanto tempo eu perdi.

Será que Caswell e Jonny estão bem? O pessoal, a aldeia, o mundo, ainda estão em pé?

Me levanto rápido do chão. Preciso sair daqui. Preciso encontrar meu caminho. Se eu não achar Cattleya, preciso voltar para casa logo.

Caswell deve estar preocupada comigo, deve estar achando que eu estou morto. Não suporto pensar nela sofrendo pela possibilidade da minha morte.

— Ei.

Levo minha mão ao meu quadril, procurando por meu punhal, ao ouvir uma voz atrás de mim. Mas meu punhal não está comigo. E, percebo agora, eu estou com o peito nu. Caramba, cadê minha camisa? E cadê minhas botas?

Vingança DivinaOnde histórias criam vida. Descubra agora