Capítulo 93

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ALLYRIA
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Sinto uma grande mistura de sentimentos junto com meu coração batendo bastante acelerado enquanto observo minha antiga casa.

Tristeza, pois voltar para a casa não é a mesma alegria imensa de antes. Arrependimento, pois tudo o que queria era voltar no tempo e visitar mais meus pais e meu irmão. Receio, pois agora eu sei a verdadeira história da minha família e não é mais a mesma coisa e não sei como me sinto por isso. E saudades, muitas saudades.

Enquanto Leon nos ajuda a descer de Brody, não consigo deixar de olhar para cada canto desse lugar e lembrar do passado.

Lá está a árvore em que papai ensinou eu e Leon a escalar, onde tivemos várias quedas e brigas por causa de competição para saber quem subia mais alto. O cantinho na grama onde nós três gostávamos de deitar e olhar para o céu estrelado. As pedras onde eu e meu irmão andávamos imaginando que estávamos em uma montanha alta e perigosa. O quintal onde eu tinha as melhores corridas com Leon, as melhores quedas e os melhores ferimentos nos braços e joelhos. O lugar onde colocávamos água e comida para os cachorros que vinham até nossa casa atrás de abrigo. O balanço velho na árvore. A varanda onde eu gostava de sentar com minha mãe enquanto ela penteava meu cabelo e sempre me dizia que eu era a garota mais bonita desse mundo. A janela onde dava para ver quem estava se aproximando da nossa casa. As paredes de madeira mais firme e do melhor marrom.

Tudo, simplesmente tudo, me faz lembrar de algo bom da minha infância.

— Você quer entrar?

Saio do meu choque quando escuto a pergunta hesitante de Leon.

Estava fazendo tudo sendo guiada pelo choque e a nostalgia das lembranças que nem percebi que agora nós três estamos bem perto da casa, olhando para a porta da frente.

Olho com confusão para meu irmão, esquecendo o que ele perguntou, e ainda bem que ele repete.

— Você quer entrar lá, Allyria?

Eu quero? Quero reviver ainda mais lembranças? Quero me lembrar de quando eu achava que minha mãe era a melhor mãe do mundo e não uma traidora?

Mas…

Mas…o passado é o passado, não é? Ele tem que ficar onde está, lá atrás, e não podemos deixar ele influenciar nosso presente. Entrar dentro dessa casa não vai acabar com minha alegria, com toda a felicidade que tenho hoje, nem as revelações da minha verdadeira história vai destruir minhas boas lembranças. Não posso deixar isso acontecer. Eu fui muito feliz aqui e tenho que lembrar desse lugar assim.

Se Leon tem forças para entrar lá dentro depois de tudo, eu também tenho.

— Sim. — respondo meu irmão em um tom baixo, então respiro fundo e ergo o olhar determinado para ele. — Sim, acho que…acho que quero pegar algumas coisas dos nossos pais. Ainda estão lá, não é?

Leon concorda com um pequeno aceno e olha com um olhar triste para a casa.

— Sim, guardei tudo em baús antes de partir.

Faz anos que ele não vem aqui e é uma sorte que ninguém tenha invadido e roubado os pertences da nossa família. A cidade não é disso, mas podia aparecer um forasteiro mal intencionado por aqui. Ainda bem que isso não aconteceu.

— Então vamos entrar.

Respirando fundo, dou o primeiro passo em direção a casa, então mais um e mais um e mais um. Makenna e Leon me seguindo de perto até estarmos nós três parados na frente da porta e olhando para a madeira por alguns segundos sem saber o que fazer.

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