Capítulo 40

327 58 19
                                    

MARIGNY
__________


Não consigo desviar o olhar de Lótus.

Os olhos dela estão perdendo o brilho a cada segundo. Cada pessoa tem um brilho diferente no olhar, um brilho único, e o de Lótus está se apagando. Conforme o tempo vai passando, tenho mais certeza que ela não me sente mais ao lado dela, que ela está perdendo as esperanças. E eu ainda não consigo lembrar um feitiço que pode ajudá-la.

Um feitiço poderoso.

Eu lembrei de um, mas não é poderoso o suficiente.

Não é poderoso o suficiente para salvá-la. Ele demora demais, não dará tempo de curá-la, de salvá-la da morte.

Estou desesperada.

Parece que tem uma praga no meu cérebro me deixando paralisada, surda e sem a capacidade de pensar em uma solução. Uma praga chamada medo e pavor.

Não sabia que eu podia ficar assim. Eu sempre soube me controlar. Eu me controlei quando Undin apareceu, me derrubou do cavalo e me roubou Tea, eu conseguir deter ele, mas não estou conseguindo me controlar agora. Quando eu mais preciso.

Como eu salvo Lótus? Como tiro essa planta enorme do estômago dela e a curo? Preciso de um curandeiro, preciso de ajuda, não vou conseguir curar ela desse ferimento enorme sozinha, mas não tem ninguém pensando em nós agora. Estão todos correndo para salvar suas vidas. Quero muito me levantar daqui e ir ajudá-los, mas não posso deixar Lótus. Não posso deixar minha amiga sozinha. Mesmo que eu não saiba como ajudá-la. Se eu arrancar essa planta...eu sei que ela morre em segundos, não vou ter tempo de usar o feitiço. Mas ela já está morrendo aos poucos, perdeu muito sangue e continua perdendo.

Não sei o que fazer. Não sei o que fazer. Não sei o que fazer.

Se meus amigos que partiram estivessem aqui, eles saberiam o que fazer, eles saberiam...não, eu sei o que eles realmente iriam me dizer.

Você não pode esperar que as pessoas te ajudem em tudo, Marigny. Você precisa ser inteligente e corajosa.

Sim, eu preciso ser inteligente e corajosa.

Eu preciso pensar em alguma coisa. Está difícil, mas preciso pensar. Preciso acreditar que eu consigo. Preciso vencer o medo e o pavor.

E eu vou conseguir.

Começo primeiro respirando fundo. É respirando fundo que volto a escutar o que está acontecendo ao meu redor. Os gritos. O barulho da correria. O barulho de espadas e flechas. O cheiro do fogo e morte. Estão destruindo o acampamento, estão atacando o meu povo.

Não me atacaram ainda porque não me encontram. Hulda estava bem escondida com o cavalo, me levou direitinho para a sua armadilha para que ninguém visse ela me atacando até ser tarde demais. Provavelmente acham que ela conseguiu me matar e por isso não estão atrás de mim. Isso é bom, porque não quero deixar Lótus sozinha aqui. Mas também é ruim, porque não posso ir lutar. Sei que Kalin, Hadun e Soren estão protegendo as pessoas e as ajudando a fugir, mas preciso pensar em algo logo e ir ajudá-los. Não posso deixar que eles morram.

Todos precisam conhecer Phyzank. Nós temos que conseguir construir uma nova casa.

Pense, Marigny, pense.

— Marigny!!

Por alguns segundos, acho que estou alucinando ao ouvir uma voz conhecida gritando meu nome. Ele não devia estar aqui, ele devia estar protegendo as pessoas e as ajudando a fugir. Foi por causa desse pensamento, da certeza que ele está protegendo as pessoas junto com Soren e Hadun, que eu ainda estou aqui, vencendo o medo e conseguindo pensar em algo para ajudar minha amiga.

Vingança DivinaOnde histórias criam vida. Descubra agora