Capítulo 57

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ALLYRIA
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Não tenho mais nenhum pingo de força para me erguer.

Mas eu também não quero, não tem porquê, não quando eu só vejo e escuto morte atrás de morte. Continuo no pequeno casulo que criei, cheio de paz, cheio de lembranças da minha vida, algo que afasta um pouco a escuridão.

Estou esperando. Ainda ansiando pela minha liberdade, ainda esperando a morte chegar.

Parece que estou presa há séculos, há uma eternidade, mas eu tenho consciência que o tempo na escuridão é diferente. Sei que só faz alguns dias desde a última vez que falei com Lorcan, provavelmente algumas poucas semanas. E ainda é um alívio saber que ela não o encontrou, não o matou, não cumpriu a promessa de me fazer matá-lo. Na realidade, ela esqueceu disso bem rápido ao se concentrar em sua busca, a busca pela deusa Lyrita. A vingança contra os deuses é mais importante para ela. No caminho de sua busca, várias vilas, cidades e aldeias foram destruídas, dizimadas, e milhares de pessoas inocentes foram mortas — tive que me esforçar para conseguir parar de ouvir seus últimos gritos.

Estou tão cansada de ver, ouvir e sentir tantas mortes. Ela nunca para.

Mas me concentro no que importa para passar o tempo, que meus amigos e meus irmãos ainda estão vivos, que o meu amor ainda está vivo. Ela não fez nada com eles, e Terlock não veio se vangloriar de tê-los matado.

Não sei como eles estão, o que estão fazendo, mas fico aliviada de saber que todos ainda estão vivos. Ainda estão lutando pela sobrevivência.

Eles podem e devem fazer isso, diferente de mim. Eles tem um futuro, eu não.

Tudo o que eu quero é que eles sejam muito felizes, não importa as circunstâncias, que eles aproveitem cada dia da vida. Na hora certa, quando o destino escolher, eu irei reencontrá-los novamente no Outro Mundo. Vou poder abraçá-los, beijá-los e passar a eternidade ao lado deles. Mas só na hora certa, não quero encontrá-los tão cedo, pois quero ouvir muitas histórias quando eu os ver.

Logo os gritos chegam novamente até ao meu casulo para me torturar. Ela sabe que isso me machuca, então os manda até mim, porque ela me odeia ainda mais agora. Eu estraguei seu progresso. Quando a controlei, tirei um pouco da força dela com meu poder, e agora está demorando mais para todo seu imenso poder voltar para ela. Ela queria usar Lorcan para se tornar forte mais rápido, achando que torturá-lo em minha frente eu iria me esforçar para entregar tudo de mim para ela, mas foi ao contrário, eu estraguei tudo. Agora ela não pode tirar todo o meu poder se não quer que eu morra, e ela não quer perder sua única chance de voltar a ser a divindade toda poderosa que pode destruir o mundo.

Ela usa todo meu poder nela, deixa pequenos vestígios, mal espera eu me recuperar e rouba todo meu poder para reconstruir o dela novamente. É assim sucessivamente.

Sei que ela está destruindo outra cidade nesse momento, matando mais inocentes, tornando seus corpos em cinzas e deixando alguns para as suas preciosas criaturas comerem. Se alguém não faz parte do seu exército, ela mata, não tenta controlá-los com seu poder ou convencê-los com poder e glória para trazê-los para as sombras, acha que já tem gente demais sob seu controle.

Ela nem gosta desse exército que criou — por ela, mataria todos —, mas os usa para saber tudo o que acontece no mundo. Sei que ela está esperando a hora certa para acabar com tudo, mas antes ela quer matar os deuses que ainda estão vivos.

Eu torço para ela nunca encontrar esses deuses, assim minha família e meus amigos terão mais tempo para viver. Faz semanas que ela não encontra nenhum, então isso me dá mais esperanças. Talvez eles consigam fugir dela por muitos anos, conhecem-a o suficiente para saber como se esconder. Espero com toda minha alma que seja isso.

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