Capítulo 59

346 65 33
                                    

LEON
______


Quando abro meus olhos e encontro o céu iluminado pelo sol da manhã, toda minha alegria da noite anterior se foi e o que tem no lugar é um embrulho no estômago.

Estou sentindo algo ruim. Um presságio terrível no ar.

Não preciso que meu poder me mostre o que vai acontecer, eu consigo imaginar. Está chegando a hora. Falta pouco até eu lutar contra a Primeira Mulher, falta pouco até meu destino ser decidido. Morrer ou viver.

Será o meu fim ou terei mais alguns anos de vida ao lado da minha esposa, da minha família e dos meus amigos?

Eu irei ver minha irmã novamente? Claro que vou, mas em qual mundo? Dos vivos ou dos mortos? Eu irei conseguir salvá-la? Irei conseguir trazê-la de volta à vida?

Se eu morrer, quero que pelo menos minha irmã tenha uma nova chance e recupere sua vida, seja feliz, e que cuide dos meus filhos junto com Caswell e Jonny. Ame-os por mim. Podemos nos reencontrar no Outro Mundo daqui alguns anos, cheios de histórias para contar.

E quanto a Caswell e nossos filhos…

Me viro de lado e observo minha esposa dormir. Provavelmente a noite anterior foi um dos últimos momentos em que estivemos felizes, sem nenhuma preocupação. Um dos últimos momentos que eu a beijei, em que rimos, em que brincamos sem nenhuma preocupação. Em que dormimos lado a lado, alegres e apaixonados, sem nenhum perigo se espreitando ao nosso redor.

Talvez esse seja um dos últimos momentos em que terei essa oportunidade de vê-la dormir tão pacificamente, imaginando o que ela está sonhando, de poder passar minha mão por seus belos e lisos fios loiros, de acariciar seu rosto e de contornar seus traços delicados com meus dedos. Talvez esse seja um dos últimos momentos em que terei a oportunidade de colocar minha mão em sua barriga e sentir a presença de nossos filhos, que estão crescendo saudável dentro dela.

Provavelmente eu só irei conhecê-los quando eles forem para o Outro Mundo, cheios de histórias de suas vidas para me contar. E eu irei abraçá-los, beijá-los e dizer o quanto eu os amei antes mesmo deles nascerem e que continuo a amá-los imensamente.

Demoro alguns minutos para notar que as lágrimas estão deslizando silenciosamente pelo meu rosto, e que meu peito está ainda mais apertado, agora cheio de saudades antecipada, de dor, de sofrimento.

Eu quero viver por eles, mas não sou eu que decido isso.

Essa incerteza de se eu irei morrer ou não irá me acompanhar até o último instante, quando a decisão for tomada pelo destino.

Por enquanto, a preocupação vai me consumindo, preocupação com tudo, principalmente com as imagens que aparecem em minha mente.

Meu poder me mostrando o exército inimigo aparecendo nos portões do castelo de Hemort, bem na calada da noite, usando o elemento surpresa e esperando encontrar o exército dos aliados todo desorganizado para acabar com eles.

Como meu poder não me mostra o que acontece depois disso, eu acredito que ainda não aconteceu, que o inimigo ainda não está em Hemort. Mas tem esse presságio ruim no ar, então sei que irá acontecer logo. Talvez hoje a noite, talvez amanhã. Só sei o horário, porque vi a posição da lua na minha visão.

Talvez eu consiga chegar em Hemort a tempo de avisar a todos pessoalmente, assim não seremos pegos de surpresa e não perderemos um grande número de soldados na primeira hora da batalha. Mas, para isso acontecer, a criatura fujona tem que colaborar. Ela tem que aceitar se sacrificar para nos ajudar.

Vingança DivinaOnde histórias criam vida. Descubra agora