☾~•Dezesseis

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NARRADORA:
🌙

Addison estava se sentindo mais leve do que nunca após dançar algumas músicas com Meredith — que teve que insistir durante longos minutos. Sabia que no dia seguinte teria reclamações do vizinho de baixo, por conta do barulho de passos, porém não deu importância.

Meredith tinha um fôlego incrível — pensou Addison — e acompanhá-la era um verdadeiro desafio, mas se empenhava. As canções eram divertidas, leves, e faziam com que a ruiva apaziguasse um pouco do nervosismo que vinha crescendo gradativamente em seu âmago.

Mas, estritamente tudo na mulher, mudava de um segundo a outro como passe de mágica. Quando Meredith pousou as mãos em sua cintura, chacoalhando-a ao ritmo da música característicamente animada, Addison sentiu o desalinho a acometer novamente — como uma praga, que nunca se esvai e sempre está ali para desestabilizar quando menos se espera.

E o sorriso de seu rosto dissipou-se, como o cosmo que é destruído pelo caos.

A mais nova, percebendo a inquietação que emergia através do olhar da outra, soltou-a e desligou a música. Pensou, então, que ela fosse chorar como mais cedo; mas só mesmo a neutralidade a preencheu. O oco, o vazio, escureceu seu coração.

A ruiva sentou-se no tapete felpudo da cor bege da sala, encostando a coluna no pé do sofá bem atrás de si. Entremeou os dedos nos pelinhos do tapete, puxando-os vez ou outra. E Meredith, apesar de querer dar-lhe espaço para compreender suas próprias questões, acabou por sentar ao seu lado.

Não se tocaram, mas nem era necessário. Ambos os corações, inefavelmente, se compreendiam; entrelaçavam-se entre si e dançavam uma música suave. Bastava o contato dos olhos em tons diferentes de verde para que os corpos se alinhassem no mesmo plano.

Meredith foi perfeitamente capaz de captar o estado da outra, sabia que ela tinha coisas a dizer visto que abria a boca cinco vezes por segundo porém nenhuma palavra saía; abaixava o olhar para os seus próprios dedos. Logo a garota pensou que Addison jamais era a mesma de quando a conheceu. Aquela mulher autoconfiante, desprendida, que poderia fazer qualquer um vislumbrar o inferno em seu olhar; agora vulnerável, quieta, tão cinza quanto o céu em dias nublados.

O que fizera-a mudar? Era o que a loira tanto almejava saber.

— Se você ficar esperando o momento certo chegar pra dizer o que precisa, nunca vai conseguir. O momento certo não existe, nós o fazemos — sua voz soou tranquila e aveludada para os ouvidos de Addison, que mal podia ser acometida por boas sensações que já sentia as lágrimas irrompendo seus canais lacrimais.

Percebeu então, que a loira estava coberta de razão, ela estava sim adiando o momento de fala querendo ser acometida pela coragem ou por um simples impulso que a capacitasse dizer.

Resfolegou, enfim.

— Addie... — a garota levantou seu rosto com um toque no queixo, a fim de visualizar sua face — Eu estou bem aqui e não vou sair. Jamais vou julgar você ou algo do tipo, pode confiar em mim. — logo pegou sua mão e lhe proferiu um beijo no dorso — Externalize o que te machuca.

Após um suspiro, começou:

— Hoje faz cinco anos que meu pai se foi, e dois anos que me divorciei — suspirou novamente, dessa vez mais profundo.

Meredith reprimiu os próprios lábios, sentindo o peso daquelas palavras causarem aspectos negativos no corpo e rosto da mulher. Continuou, então, olhando-a e mantendo um carinho em sua mão, querendo mostrar-lhe amparo. Logo encorajou-a a continuar.

— Mesmo não tendo tido muito contato com meu pai em minha infância e adolescência, por ele ser militar, sinto a dor aterradora de não tê-lo mais. — houve uma pausa pra respirar — Eu me lembro dos nossos poucos momentos juntos, nós tínhamos tanto em comum. Se eu soubesse como doeria perder Capitão, faria qualquer coisa para aproveitar mais ao seu lado.

Does love overcome pain? - 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑙𝑢𝑖́𝑑𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora