☾~•Vinte e Três

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já separa o baldinho pra vomitar com esse capítulo.

MEREDITH:
•~🌙~•

Addison realmente se foi, mesmo após eu propor que tentássemos resolver tudo, ela me deu as costas e foi embora. Era de se esperar que em algum momento ela iria questionar nossa relação, eu só não imaginava que fosse tão cedo. Todos os dias em que estivemos juntas, a mulher sequer tentou abordar assuntos sobre nossos sentimentos uma com a outra, ou a proporção de nosso “relacionamento”. Acabei por entender que ela estava de acordo, não podia imaginar que, na verdade, ela reprimia suas emoções.

Como sempre reprime.

Estávamos bem, tudo estava fluindo bem. Mas Addison tem questões muito além, que incapacitam-na de aproveitar os momentos. Ela precisa dar-lhes uma forma, implicar racionalidade a tudo; e isso me irrita. Mas eu não quero, de forma alguma, desistir de mostrar-lhe que a vida é tão mais do que uma organização.

Apenas não sei se ela está disposta a enxergar.

ADDISON:
•~🌙~•

Já havia se passado uma semana desde a última noite que vi Meredith, quando tivemos uma pequena desavença. Ao menos vi-a no hospital, e acho que isso foi bom para eu poder pensar. Eu precisava pensar. Analisar meticulosamente a nossa situação e tentar traçar um caminho a ser seguido em prol de nossa reconexão.

Porém, eu sentia uma aterradora saudade dela, sua falta doía-me até o peito. Até mesmo desaprendi a dormir sozinha, e às vezes acordava sonhando com ela durante a madrugada. Como eu queria receber uma ligação sua, dizendo que ainda queria tentar; que me perdoava pela atitude impulsiva que tive. Mas não aconteceu.

E, de qualquer forma, eu também poderia ter ligado; mas não o fiz.

Eram onze da noite e, como sempre, se tratando de Seattle, fazia frio. E a minha melhor companhia estava sendo aquele copo de whisky no canto escuro do bar do Joe. Amélia e Carina dançavam no centro do ambiente, juntamente aos outros casais. Todos pareciam tão felizes, era possível enxergar às faces que o amor era o elo que os unia no mesmo plano. Como espectadora, eu poderia julgar todos como “perfeitos um para o outro”, e então ocorreu-me o questionamento se eu e Meredith também somos do tipo “perfeitas uma para a outra”. Para mim a resposta era sim.

Mas a resposta certa era essa?

Todos aqueles casais pareciam tão normais, sorrindo entre si, com toques afáveis e beijos sublimes. Eu e Meredith não somos isso, somos em excesso. Quando estávamos juntas era como se nós fossemos tudo e ao mesmo tempo nada.

Eu a olhava e então sentia o meu peito arder, a beijava e sentia meu coração palpitar, tocava seu corpo e sentia minha pele queimar. Mas eu nunca soube se era por vazio ou exceção. Era ambíguo demais.

Não. Nós não somos como esses casais, não nos entendemos, somos muito diferentes. Nossos corpos até podem se compreender e interligar-se pelo calor humano, mas ideias se chocam; então ocorre um atrito enorme.

Talvez o “nós” não fosse pra ser.

— Ei. — Amélia tocou meu ombro — Vamos dançar — convidou gentilmente.

— Só se for pra eu chorar. Essa música lenta já está acabando com o resto de sanidade do meu corpo — bebi o resto do whisky, me aprontando a pedir outro.

— E esse whisky vai acabar com o seu resto de consciência. É melhor parar, eu levo você pra casa.

— Não. Não mesmo — neguei e pedi o barman outro copo enquanto Amélia se sentava ao meu lado.

Does love overcome pain? - 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑙𝑢𝑖́𝑑𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora