36. Ser comigo

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Sabe aquela sensação sufocante quando o chão sob seus pés não é tão firme quanto imaginava ser? Em cada passo sentindo que se pisar forte demais pode se partir e te engolir inteira? É a terceira vez na minha vida que a sinto. E é ainda pior que as primeiras vezes conseguiram ser.

Dyana... — Eu sentia o problema no tom carregado de Taehyung, como se não fosse capaz de digerir as palavras e estivessem entaladas na garganta. — eu não sei o que aconteceu, ela não estava respirando.

Uma mesa de empresários cercam a sala silenciosa mas meu coração parece romper as barreiras pulsando tanto que eu sinto que todos ouvem, como ele deixou de bater um segundo para acelerar de uma maneira insuportável?

— Cadê o Jungkook?

— Ele acompanhou Nari na ambulância. — Uma frase, um sopro de ar que desvia de mim.

Minhas pernas levantam embora não sinta conseguir segurar meu peso, solto uma desculpa vaga esperando que seja o bastante porque agora não importa, não mais.

— Como isso... qual o hospital?

Antigamente tinha a percepção que o caminho de casa para o enterro do meu pai tinha sido o mais longo da minha vida, foram minutos que duraram horas sentada no banco do carro esperando para dizer adeus ao melhor homem da minha vida.

Mas nas surpresas desagradáveis que a vida oferece de bom grado aqueles que amam eu soube que estava errada, errada da maneira mais dolorosa imaginável ouvindo a risada alegre da minha filha enquanto seguia desnorteada pelas ruas. "Ela não estava respirando" a voz se repetiu em minha mente longe, porque de repente eu estava sem ar.

A recepção fria de um hospital nunca me foi atraente, o cheiro de desespero misturado com álcool enquanto rostos tristes vagavam, enquanto outros sorriam alegremente com a cura. A desigualdade é como saber que nem todos dividem os mesmos aromas de felicidade.

Taehyung olhou para mim, uma centelha de alívio misturado com angústia corroendo suas feições normalmente sedutoras.

— Senhora. — A mulher falou e tive impressão de ser uma de muitas vezes chamando-me. — Em que posso ajudar?

— Min Nari Wang. — Digo. — Ela deu entrada a pouco, é minha filha. Quero vê-la.

— Eu preciso de algumas informações primeiro.

— Você não entendeu, eu preciso ver a minha filha. — Não me sinto tão forte, minha visão embaçada mostra que talvez não precise ser. — Agora.

— Senhora o procedimento...

— Eu normalmente me orgulho da minha educação mas vamos ter um grande problema se eu não ver a minha filha, essas informações não valem o meu desespero. — Ela pede calma e a raiva se junta a frustração. — A minha filha está dentro de uma sala desconhecida sozinha e eu posso te arrastar pro inferno se de alguma forma não conseguir chegar a tempo de dizer que tudo vai ficar bem, que estou com ela você entendeu?

Minha respiração se torna densa, areia moventisa engolindo meus pulmões e a exaltação que torna uma fala calma em uma declaração urgente, necessitada. Os olhos parecem hesitantes no entanto ela pede que a siga, outro longo trajeto, penso comigo mesma.

Virando-me encontro Jungkook que parece ter notado minha presença, os olhos dele estão úmidos a postura impecável parece derrotada depois de uma longa guerra, olhá-lo é como ver minha dor refletida em outro ser.

Entretanto não consigo parar, meus passos assim como minha vida estão com Nari e não posso me sentir culpada por isso, mas Jungkook parece sentir culpa por todos nós.

Xeque Mate • Jjk • LongficOnde histórias criam vida. Descubra agora