Capítulo 1 O Rei está de volta

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Reino de Dalibor, Primavera de 1212.

O Rei Cornell fixou o olhar e pôde ver ao longe as sombras do seu castelo  de pedras que ficava no alto de uma montanha com  um belo campo circundado pela vila, onde moravam seus vassalos. A bruma naquela manhã, cobria as várias torres redondas que serviam de segurança para todos que moravam ali.
Fazendo o caminho de volta pra casa, Cornell olhou com carinho para seu povo que o saudava alegremente ao vê-lo passar em seu cavalo negro de guerra ricamente enfeitado. Um destriero de 16 palmos de altura.Um grande e portentoso animal que agora, cavalgava em ritmo lento, enquanto Cornell acenava com a cabeça para todos os homens e mulheres que jogavam pétalas de flores para saudar o rei e seus cavalheiros-guerreiros.
O Rei era um amante dos cavalos. Dizem que o único momento que ele demonstrava contentamento era em cima do seu grande e alto cavalo que o transformava   numa figura quase mítica.
Após a passagem das bandeiras do reino, os aldeões se curvaram diante da figura gloriosa do Rei e só após sua passagem e dos cavalheiros da ordem do rei, os miles,eles festejaram efusivamente junto aos soldados que pareciam exautos, muitos com feridas expostas mas que mesmo assim demonstravam orgulho, e mantinham uma posição ereta em  seus belos cavalos de batalhas.
O povo de Dalibor amava o Rei Cornell como amaram seu pai,  o Rei Ozzil, o Velho,   e sua mãe a rainha guerreira Heloise.
Ambos, haviam libertdo seu povo das maldades do Rei Píer e trazido a paz e fartura para o reino de Dalibor.
Desde então, estavam há muitos anos sem invasões, as colheitas anualmente eram fartas e o rei não admitia que fizessem injustiças aos aldeões, porque além de rei, ele era também, o senhor feudal das suas terras.
Cornell suspirou profundamente ao ver a grande ponte levadiça se levantar .
Ele estava cansado, alguns ferimentos de flechas ainda doíam profundamente.
Ele havia ganhado mais uma batalha, e mais algumas cicatrizes no seu corpo já marcado por tantas delas.
Essa batalha foi mais uma, entre tantas, que ele lutou juntamente com seus amigos Derek e Theobald. Desta vez,  estiveram juntos novamente, para lutar contra o Reino de Brugnaro, que ameaçava o sul do Reino de Walden, o Vale da Madeira, que era governado por   Theobald, também conhecido como o "Rei Bastardo".
A união dos "Três Reis" como eram conhecidos naquela parte do mundo, era famosa. Os três eram conhecidos por serem reis e senhores feudais justos, diligentes e protetores. Porém, a fama deles também era reconhecida por serem homens corajosos, audazes e ferozes guerreiros que não fugiam de um campo de  batalha.
Mas, somente as pessoas que conviviam com eles, sabiam dos demônios que cercavam os Três Reis e as inúmeras dores  que os atormentavam. Dores e mazelas que foram acumulando ao longo dos anos e moldando o caráter e personalidade de cada um.
O Rei Cornell, o Belo, como era conhecido, era chamado de o "Rei sem Coração". Seus profundos olhos azuis, constrastavam com seus cabelos castanhos claros. Era um homem muito bonito, introspectivo e de poucas palavras.
Gostava de ler, caçar, adorava ir ao tribunal e elaborar leis.
A solidão era a sua companheira e ao mesmo tempo, sua resistência.
Olhando ao redor, Cornell viu seus servos correndo de um lado para o outro para revê-los e recebê-los com a habitual cortesia.
Arved, seu criado pegou as rédeas de Amis, e pegou o escudo e o elmo de Cornell e alegremente falou:
-O saúdo, meu rei! Espero que vossa Majestade tenha feito uma boa campanha.
Cornell se sentia recompensado pelo cuidado de Arved.
-Muito boa campanha, Arved.
Embora houvesse uma grande recepção com a chegada da comitiva, Cornell queria escapar da confusão de vozes e dos poemas recitados em voz alta cantada pelo trovadores em homenagem ao retorno dos bravos guerreiros.
Mas  olhando seus homens, cansados e alquebrados, sentiu que precisava estar junto com eles. Precisava estar presente na companhia daqueles cavaleiros que com honra e coragem dariam suas vidas por ele.
Cornell apreciava a companhia de seu exército. Ele aprendeu com o próprio pai, a ser grato pelo companheirismo e lealdade de seus bravos companheiros de luta.
E, então, num gesto de partilha, brindou com uma caneca de cerveja a vitória de Brugnaro e a saúde de Theobald.  Mas tão logo ele pôde, deixou o grande salão e correu escadas acima  para o refúgio dos seus aposentos que ficavam na segunda torre do castelo.
Ao entrar no seu quarto, Arved já o esperava para ajudar a tirar a armadura e a cota de malha. Ele colocou sua espada e seu alforge em cima da mesa de carvalho e aceitou a  ajuda de Arved e  dos vários servos que estavam no quarto servindo vinho e comida fresca.
O desejo de Cornell era ficar sozinho.
Precisava de um banho, e quem sabe dormir um pouco. Estava  acordado a várias noites, pensando em estratégias de guerra, dormindo em tendas e num estado permanente de vigilância.
-Podem sair.- Disse ele aos servos. Arved se juntou a eles e quando ia fechando a porta, o servo falou:
-É muito bom tê-lo de volta Vossa Majestade.
Antes que o velho  criado fechasse a porta, Cornell falou:
-Arved.... Obrigado.
O criado sorriu disfarçadamente e fechou a porta deixando o rei finalmente, sozinho.
Sozinho com seus fantasmas.
Fantasmas que rondavam  o seu quarto, e a grande e macia cama coberta de peles de animais.
Ele sentiu o seu coração apertar.
Joanne...
O seu quarto era amplo e muito masculino, mas ele ainda sentia a presença feminina em pequenos objetos que ele autorizou que Joanne modificasse, como as leves cortinas que voavam ao vento.
Joanne com seus lindos cabelos ruivos que iam até os pés, com um pequeno sorriso que traduzia sua timidez e ao mesmo tempo amenizava seu rosto  anguloso de olhos verdes escuros.
Joanne não era considerada uma beldade.
Mas foi uma boa esposa. Trouxe ao castelo de Dalibor a arte e a cultura. Gostava principalmente dos recitais de poesia, dos bufões e das tardes teatrais.
Quando ela chegou ao castelo para o casamento, ele a recebeu como uma obrigação a ser cumprida.
Eles se conheceram no dia do casamento, e Joanne  pareceu aceitar o contrato  entre as famílias, aparentemente como uma tradição a ser cumprida, sem desejar que o amor cortês fizesse parte do relacionamento de ambos.
Seu casamento com ela era como todos os outros que conhecia: um arranjo econômico que  com o tempo se transformou numa relação estável, distante  e fria.
Não havia amizade e nem cumplicidade entre os dois.
Cornell decidiu entrar na grande tina de madeira que os servos haviam deixado ali com uma água agradavelmente aquecida.
Seu corpo doía em tantos lugares que possivelmente precisaria chamar Thri, a boticária, para lhe fazer uns chás e  emplastros para acabar com aquelas dores incômodas.
Ele precisava relaxar um pouco.
Estava cansado. A solidão era um bálsamo e uma maldição.
Seu corpo estava sentindo falta de um pouco de paixão. Sentiu seus músculos se retesarem...
Há muito tempo não dormia  com uma mulher.Sempre havia inúmeras candidatas para frequentar a cama do Rei, mas ele era extremamente reservado.
Porém, hoje, , ele daria o seu reino por uma boa noite de sexo, ao lado de uma mulher carinhosa, que pudesse satisfazer seu desejo acumulado.
Seus olhos se voltaram para a cama.
Durante os cinco anos que viveu com Joanne, ele nunca viu o seu corpo nú. Ela nunca permitiu. Julgava que se fizesse isso, estaria cometendo uma heresia, um pecado mortal. Nas noites em que estiveram juntos, ela se cobria completamente com as mantas e ele a penetrava  apenas pelo furo no lençol.
O sexo para eles era apenas para...
-O que estou pensando?
Pobre joanne.
Fechou os olhos. Queria banir todas aquelas lembranças dolorosas que iam e voltavam sempre que ele abria o portal do passado.
Enquanto relaxava no banho, Cornell se tocou.
Tinha desejos.
Muitos. Fortes.
Ele teve a oportunidade de dormir com as prostitutas que acompanhavam as bandeiras dos Reis durante as batalhas, e também poderia como senhor feudal, tomar  qualquer mulher por direito, dormir com as jovens em idade de casar ou até mesmo desvirginar a noiva em sua primeira noite de casada.
Mas ele nunca usou da prerrogativa de rei, para estar com uma mulher, embora essa atitude fosse considerada normal e até esperada.
Seu corpo estava vazio, sentia  falta de algo que não sabia bem o que era.
Um vazio gigantesco que lhe trazia tristeza e ansiedade.
Tocou seu membro entumecido e duro.
-Ah como precisava de uma mulher aqui e agora...
Sua cabeça então se concentrou no seu prazer. De repente em sua mente, uma figura de mulher se formou: linda, loira, sorridente... e tirava suas roupas para ele... seus seios duros foram tomados por sua boca sedenta...A mulher da névoa,  jogou os longos cabelos para trás, e abriu às pernas para ele entrar com seu membro pronto para ela.
Devagar, ele chegou ao orgasmo.
Sozinho.
De novo.
Um vazio gigantesco.

Um vazio gigantesco

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