Capitulo 39: Não é o fim

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Uma fila de cavaleiros  com armadura pesada  marchavam atrás das catapultas, enquanto as bandeiras se alinhavam atrás,com os lanceiros a pé e a cavalo, os  reis e os duques vassalos que os apoiavam cavalgavam no meio da comitiva e os escudeiros, cavaleiros dos concelhos, também  conhecidos  como cavaleiros-vilão, e os cavaleiros da espora dourada vindo  na retaguarda,  e por último, os peões, isto é, os que possuíam propriedades de menor valia
Eram aproximadamente 600 guerreiros marchando uniformemente a caminho da ponta elevadiça que levava a entrada do castelo de Dalibor.
Ao longo do caminho, os camponeses das vilas próximas, se juntaram a cavalaria com armas rústicas feitas por eles mesmos.
Cornell daria recompensas para esses bravos homens, que mesmo não sendo treinados para o campo de batalha, estavam dispostos a participar de um embate, mesmo tendo muitas coisas a perder, podendo sofrer todos os tipos de perseguição devido ao envolvimento da igreja no processo de julgamento.
Cornell estava se sentindo profundamente comovido e também agradecido a todos. Haviam conseguindo em pouco tempo, mobilizar seus vassalos e senhores feudais amigos que aceitaram participar daquela empreitada.
Não seria fácil, pois as acusações contra Beatrice eram graves. Ter conflitos com padres e bispos era motivo de muita intriga e perda de poder político. Lutar contra um membro da igreja poderia ser uma decisão fatal para qualquer soberano.
A solução encontrada por sua mãe era perfeita, mas ele temia que a rede de conspiração engendrada por Gregor pudesse ter garras que talvez, um dia, pudesse se voltar contra eles novamente .
Mas Cornell não se importava. Ele moveria céus e terras para estar com  Beatrice  novamente e a queria viva! Ele nunca iria abandonar Beatrice e seu filho naquele lugar, com aquelas pessoas sem que lutasse por ela até a morte.
Seu coração se apertou. Queria poder aninha-la em seus braços, cuidar das suas feridas e nunca  mais deixá-la sozinha.
Nas torres do castelo, Cornell podia ver os lanceiros  em posição de ataque, nos telhados,diversos arqueiros nas seteiras, que são fendas posicionados especialmente para os arcos e flechas,  voltados diretamente para eles.
Mas a cavalaria entrou sem maiores problemas. A paliçada que  havia sido providenciando por Cornell meses atrás, havia sido reforçada, e a terra de chão batido  havia sido  batido recentemente, deixando claro que aquilo foi feito para apagar os vestígios de sangue que deviam ter estado ali.
Cornell saltou de Amis e reconheceu que apesar da rotina do castelo aparentar normalidade, havia um ar de medo e  aflição.
Ele sabia que demoraria um  tempo até que tudo voltasse a ser como antes.
Imediatamente ele se dirigiu aos seus servos que o esperavam como sempre faziam. Eles fizeram uma reverência e em seus rostos pálidos ele pode ver medo e  ao mesmo tempo, confiança.
Olhando para cada um silenciosamente, ele parou em frente a Eda, a cozinheira.
-Arved?
A velha senhora agarrou seu avental e o levou aos olhos para disfarçar o choro. Ela simplesmente balançou a cabeça, deixando Cornell transtornado. Seu coração estava destroçado.
Malditos! Eles pagariam por isso com suas próprias vidas!
Cornell olhou ao redor furioso. A cavalaria que o acompanhava já estava a postos e Derek e Theo estavam bem próximos, com as mãos na espada.
Os cavaleiros de Gregor baixaram as armas, mas sem descuidar da sua segurança.
Quando eles entraram na sala do tribunal, Cornell viu Gregor sentado à direita do trono vazio. Cornell entrou devagar e viu  alguns  nobres reminescentes de seu conselho todos devidamente armados com suas espadas e o olhando com ar de superioridade.
Ali estavam os canalhas achando que tinham vencido.
Cornell decidiu sentar no seu trono e o fez, silenciosamente.
Metade das pessoas que estavam na sala demonstravam desconfiança do que poderia acontecer. A outra metade torcia para que tudo desse errado para Cornell.
Dragomir estava sentado duas cadeiras depois de Cornell e ele sequer o olhou. Cuidaria dele mais tarde. Agora, era a hora da representação. Iria dar a eles o que eles queriam
-Soube vossa reverência que houve um julgamento e uma condenação aqui.
O arcebispo Gregor estufou o peito ao falar:
-Vossa Majestade está com razão como sempre.
Cornell olhava para o arcebispo querendo voar em sua garganta. Não estava acostumado com diplomacia.
-E de que se tratou o julgamento?
Gregor estava satisfeito pelo rei ter aparentemente ter aceitado toda a situação. Seu narcisismo o cegava.
-Vossa Majestade, lady Beatrice de Hawuise foi julgada e condenada por tentar matar o rei no estábulo, cuspir no prato do rei e não respeitar as regras do matrimônio, mesmo no estado da sagrada gravidez, quando uma rainha se equipara à própria Virgem. Este comportamento foi considerado pelo tribunal uma heresia contra o rei e a igreja.
Cornell estava furioso. Mas precisava demonstrar uma frieza que não sentia. Precisava mostrar uma calma que estava prestes a explodir em pura fúria.
-Traga a prisioneira,
Após alguns minutos Beatrice adentrou a sala do tribunal. Seus cabelos loiros estavam soltos, rebeldes caindo pelo seu corpo como um véu, seu rosto estava pálido e abatido e em seus olhos ele via o pavor instalado.
Seu ventre estava sobressaindo no corpo magro. Em seu pescoço, um colar de ferro e suas mãos pequenas a frente de seu corpo presas por uma algema de ferro.
Cornell a olhou e queria de alguma forma fazê-la entender que  estava tudo bem, e que em breve, tudo iria terminar.nMas precisava aguardar. Precisa manter na estratégia feita por eles. Agora que tinha certeza  que ela estava viva, seu coração se acalmou. Ela estava alquebrada, mas viva!
Então ele falou:
-E qual é a pena que o tribunal institui para Lady Beatrice, rainha consorte de Dalibor?
Beatrice o olhou. Ela não sabia o que estava acontecendo. Estava nauseada e suas pernas mal a mantinham em pé.
Queria sair correndo dali e se aninhar nos braços de Cornell e nunca mais sair dali, mas ele parecia estar aceitando a sua condenação!
O arcebispo Gregor parecia satisfeito. Tudo estava correndo conforme o esperado. Quem afinal de contas, iria se opor a uma decisão eclesiástica?
-A fogueira, vossa Majestade.
Cornell sentiu que Beatrice ia desmaiar. Ele fez uma leve menção de ir ampara-lá, mas Derek que estava ao seu lado, murmurou:
-Não faça isso.
Cornell estava tenso. Ele então viu  a figura da mulher cair no chão com seus cabelos lhe cobrindo o ventre . Sua mulher. Seu filho. Cornell olhou para a mãe com aflição. A rainha Heloise fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Cornell levantou -se num ímpeto e todos os cavaleiros presentes colocaram as mãos sob suas espadas. Ele então faz um gesto para Ricard, que formalmente se apresentou av frente de todos:
-Sua majestade convoca a Duquesa de Clement, Arquiduquesa de Dalibor e Viscondessa de Di Gavignano, Heloise di Conti.
O arcebispo Gregor  virou -se para Heloise  lentamente. Seus olhos pequenos a fitaram com um ódio mortal.
Heloise ficou parada no meio do salão do tribunal, sua figura se destacando com  o manto e a coroa herdada de sua família com o brasão da família de Segni.
-Então seria assim.
A maldade o havia cegado! O bom combate é aquele que você tem certeza de que vai ganhar. Com o coração aos pulos,  o arcebispo fez uma reverência a Heloise.
Sabia que  havia perdido o combate. Pelas mãos de uma mulher! Maldosa como a Eva.
Heloise esperou com a paciência dos tempos que todos no salão se acalmassem.
Olhou para Beatrice penalizada. Ela estava muito machucada, sua vontade era arrancar a cabeça de  Gregor com suas próprias mãos, mas a diplomacia naquele caso seria mais cruel e duradoura. Pois para ele será a morte em vida.
Cornell já estava no piso inferior. Ele queria acabar logo com aquilo e poder socorrer Beatrice, que jazia quase inerte no chão.
-O que tem a contribuir nesse caso milady?
Heloise então falou:
-Não sei se é de conhecimento de todos, mas sou Heloise di Conti, sobrinha legítima do Conde Trasimund de Segni, pai de  Lottario dei Conti di Segni, que vem a ser o Papa Inocêncio III, meu primo.
Como todos sabem, sua santidade está em
Avinhao, o seu cativeiro babilônico e enviou uma mensagem.
Heloise então dramaticamente retirou o pergaminho com o selo papal de seu alforje e leu que todos os parentes próximos e distantes do papa estavam livres de julgamentos de qualquer ordem feito por alguém que não fosse o mesmo.
-Portanto vossa reverência, creio que o julgamento e condenação, se encerra aqui.
O arcebispo Gregor estava pálido. Em seus devaneios de vingança, ele não havia sequer se lembrado que Heloise era parente direto de sua santidade,
Sem perder a atitude, o clérigo falou:
-Espero que vossa alteza relate a sua santidade que apenas cumpri com minhas obrigações diante da Mater Igreja.
Heloise enrolou o pergaminho, não sem antes Cornell olhar e ver que não tinha absolutamente uma linha escrita no pedaço de linho!
Sua mãe havia mentido! Ela havia enganado a todos! Não sabia se beijava seus pés ou se a mandava direto para masmorra.
Mas o que importava era que acabou! Então ele correu para Beatrice e deitou sua cabeça em seu colo.
Ouviu Heloise dizer ao arcebispo:
-As chaves.
O arcebispo tinha uma atitude dócil e derrotada. Em seus olhos, ela pôde ver ódio e medo.
Ele entregou as chaves e Heloise se abaixou para retirar as algemas e o colar de ferro de Beatrice. Pobrezinha!
Cornell então levantou-se e disse para Gregor.
- Saia imediatamente das minhas terras e reze para que eu nunca mais ponha os olhos em cima de milorde!
Então virou-se para Dragomir, que estava em pé com as mãos em concha, como que pedindo perdão.
Cornell olhou para Theo que estava bem ao lado de seu antigo ministro e então, ele empunhou sua espada e todos viram a cabeça do homem rolar pelo chão.
....
Algumas dias depois Cornell esperava Beatrice acordar. Thri havia sido chamada e estava cuidando dela com carinho e total atenção. Cornell estava angustiado. Queria que ela acordasse e pudesse lhe dizer todas as palavras que ela sempre quis ouvir.
Quando Thri saiu, ele deitou-se do seu lado e viu as marcas roxas em seus pulsos e pescoço.
Maldito Gregor! A história com ele ainda não havia acabado. Ele esperaria a hora certa para agir.
Quando Beatrice abriu os olhos. Ele a beijou na boca.
-É um sonho, meu rei?
Cornell sorriu de verdade em muitos anos.
-Não meu amor.É a realidade.
...
Passado alguns meses, Cornell e Beatrice receberam a visita de Ozzil e Heloise.
Todos conversavam alegremente, quanto Ozzil decidiu ensinar Beatrice a jogar Xadrez, e ela aceitou prontamente.
Ficando sozinhos, Cornell falou com sua mãe.
-Milady poderia ter nos contado que o pergaminho estava em branco.
Heloise deu um riso jovial.
-E fazê-los ficarem preocupados por um detalhe?
Cornell olhou para mãe. Imprudente. Impulsiva. Maravilhosa.
-Se eu tivesse falado, vocês iam criar outras estratégias e nada podia sair errado. O que importava além da minha gloriosa estirpe era o selo papal que pedi que retirassem de uma mensagem de tia Claricia, mãe do primo Lotario. É claro que terei que explicar ao meu primo todo o teatro que fizemos aqui. Por isso, eu e seu pai partiremos para Avinhão, tão logo deixarmos Dalibor. Quero estar de volta para ver meu neto, ou neta nascer.
Cornell suspirou comovido. De súbito, pegou as mãos da mãe e as beijou.
-Obrigada por tudo, mãe.
-Enquanto estiver por aqui, pode contar comigo, meu filho.
Abraçados os dois se juntaram a Ozzil e Beatrice que num gesto rápido e certeiro disse:
-Xeque mate.
Ozzil soltou uma gargalhada.
-Acho que só vou ganhar esse jogo do meu neto.
Heloise puxou o rei pelo braço para deixar o casal sozinho.
-Até ele vestir calças curtas.
..
Cornell e Beatrice ficaram sozinhos e o rei acariciou o ventre protuberante de sua mulher.
-Dentro de alguns dias, seremos três. - Ela disse.
O rei acariciou seu rosto com carinho.
-Quando penso que quase a perdi, eu fico louco.
Beatrice beijou as mais do marido.
-Agora me aprecia meu rei?
Cornell a beijou noz lábios.
- Muito. Não só te aprecio, como te amo Beatrice. Eu te amo com toda a força do meu coração. Que agora tem uma dona. Uma mulher obstinada que me ensinou a amar.
Beatrice sentiu as lágrimas descendo pelo seu rosto. E repousou a cabeça no peito de Cornell.
-Eu também te amo tanto... te amo tanto...,
Agnes entrou no salão para servir uma bebida para o rei e a rainha.
Ao vê-los abraçados, Agnes chorou.
Enfim sua princesa tinha encontrado o que lutou com tanta obstinação.
Fechando a porta, Agnes os olhou novamente.
-O amor venceu!
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Queridos leitores, agradeço imensamente a Leitura de vocês. Como sabem, este é o primeiro livro da trilogia Os três Reis.
Não será continuação, mas vocês terão notícias desse casal: Cornell e Beatrice e seu filho. Ou filha.
Aguardem a história de Derek e Roshlyn
Beijos.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora