Capitulo 11: O Arcepisbo Gregor

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Cornell estava sentado no seu trono ao lado de sua  mãe Heloise, diante de todo o Conselho Real e também do recém chegado Arcebispo Gregor, que veio com sua corte e seus clérigos para realizar a cerimônia de casamento.
Beatrice também se encontrava no grande salão, no tablado menor juntamente com a sua corte e membros da nobreza de Hawuise.
Ao de  lado Agnes, Beatrice tentava manter as aparências, embora seu coração saltasse toda vez que olhava para Cornell.
Aquela reunião  com todos os presentes, havia sido proposta pelo próprio arcebispo que foi comunicado da antecipação do casamento que iria ser ser realizado em exatamente 5 dias.
O Arcebispo queria saber o motivo de tanta pressa, já que aquele noivado não passava de 5 anos e a noiva estava em Dalibor a aproximadamente um mês.
Indagado pelo velho padre, Cornell quase suspirou.
A igreja tinha uma importância grande nos reinos naquela época  e se ele não conseguisse convencer o velho Gregor sobre um motivo concreto, com certeza não haveria casamento.
Cornell o olhou com o semblante sério e inflexível.
-Muito simples, Vossa Eminência.  Os acordos e certidões já estão preparados há alguns anos. Meu pai, o Rei Ozzil e o Rei Roland de Hawuise, já estipularam os dotes e as trocas de terras entre os reinos. O acordo foi que assim que a princesa Beatrice fizesse 17 anos, o casamento poderia ser realizado a qualquer momento.Não há porque esperar mais. Até porque o inverno se aproxima e as estradas ficam péssimas nesta época do ano. Desnecessário dizer que,  será impossível receber convidados no inverno.
O arcebispo Gregor se encaminhou lentamente até a Princesa Beatrice.
Ele olhou fixamente e fez uma pequena reverência.
-Vossa Majestade, quero que saiba de antemão que compreendo perfeitamente sua preocupação e gentileza com o conforto de seus convidados. Mas... penso que um noivado longo seria o ideal para Vossa Majestade e vossa Alteza.
Ele disse isso olhando de Cornell diretamente para Beatrice.
-Hummm, a princesa é muito bela! -pensou o arcebispo com uma ruga de preocupação.
Uma verdadeira tentação aos olhos de qualquer homem.
Sua jovialidade transbordava na sua pele macia como um pêssego e os  cabelos loiros adornados com uma pequena coroa de rubis era de beleza que era quase pecaminosa.
-Vossa Alteza, Princesa Beatrice de Hawuise, se parece deveras com sua mãe, a Rainha Bárbara.
Beatrice esboçou um pequeno sorriso.
-Obrigada, Vossa eminência revendissima.
O Bispo Gregor levantou a sobrancelha e a olhou fixamente.
Ohhhh.... Ela ousou lhe responder e ainda sorria publicamente sem o menor pudor. Tentação.
O arcebispo se encaminhou até a frente do trono e fez novamente uma reverência para o rei.
- Vossa Majestade, já que os acordos estão garantidos, as certidões redigidas, creio que casamento poderá ser realizado dentro do prazo estipulado.
Beatrice sentiu seu coração bater mais rápido. Então, estava feito! Dali a 5 dias se tornaria a esposa do Rei Cornell.
Seria conhecida como Rainha Beatrice de Dalibor.
Suas mãos tremeram e ela olhou discretamente para Cornell. Ele estava impassível sentando no seu trono.
-Então, creio que não há mais nada a ser dito, podemos dispersar.
O arcebispo então levantou a mão direita e abaixou a cabeça para o rei.
-Creio majestade que  é necessário relembrar publicamente algumas normas do casamento real, suas obrigações e resignações.
Cornell assentiu, a contragosto,
O arcebispo então, subiu no tablado onde ficavam as mesas de refeições dos nobres de estirpe mais baixa e começou a falar.
-Devo lembrar aos noivos que o casamento é uma obrigação entre a realeza, onde o sexo casto deve ser feito apenas para procriação.
Beatrice sentiu o coração parar de bater e sentiu seu rosto enrubescer quando o arcebispo a olhou de uma maneira inconveniente.
-Lembro também aos noivos que as relações carnais entre ambos deve se dar apenas durante a noite, duas vezes na semana, completamente vestidos e sem  nenhuma volúpia ou gestos e palavras indevidas:
Cornell quase gemeu.
Como poderia cumprir aquelas regras propostas ali, na frente de  todos? Seria considerado uma heresia se soubessem o que se passava na sua cabeça naquele momento.
Os seios duros de Beatrice vieram a sua mente. Aqueles seios lindos...
Como queria tocá-los, com as mãos, com a boca... a qualquer hora do dia ou  da noite.
Seu corpo reagiu a esse pensamento, e ele discretamente, ajeitou  seu manto, de modo que, cobrisse seu membro ereto de desejo.
Por ela.
O Arcebispo continuava a falar sem parar.
A doutrina era muito importante para ele. Cornell estava impaciente.
E os nobres tinham no rosto um ar condescendente, enquanto algumas camponesas que estavam ali para servir vinho e pão, abaixavam a cabeça entre envergonhadas e maliciosas.
Entre os camponeses, o sexo era livre e natural. Acontecia nos bosques, nos estábulos, aonde o desejo acontecesse.
Também havia sentimentos nas relações deles. Eles se casavam por amor. Nada parecido com o que se via ali.
Como se pode  domar o desejo de um casal? Como se domar um homem como o Rei Cornell?
-Todos muito bem sabem o que o sexo em excesso faz ás pessoas.
Continuou o velho arcebispo.
-A nossa vida? É encurtada. Não chegarão ao 40 anos fazendo sexo todos os  dias, além é claro de reduzir o cérebro e... destruir  completamente a visão. Podem ficar cegos! Cegos, meu lordes! Nunca mais verão a luz do sol ou da lua. Então, creio que sabendo disso, os noivos terão como meta uma vida tranquila e feliz longe do pecado da carne, senão cumprirem com as obrigações, suas atitudes os levarão ao precipício do inferno.
Beatrice olhou para Cornell. A aflição lhe corroía. E tudo aquilo que sentiu com ele na outra noite? Era errado? Não podia ser. Não podia ser errado aquela sensação maravilhosa no seu corpo. Ele queria um contato. Um pequeno e breve contato. Estava assustada.
Ele então a olhou.
Seus olhares se cruzaram. Cornell viu a preocupação estampada em seus lindos olhos azuis. Queria poder lhe afagar e dizer que nada do que sentiram naquela noite era errado.
Cornell se assustou com seu pensamento e desviou o olhar  dela rapidamente.
Heloise abaixou os olhos.
Notou claramente os olhares trocados entre o filho e a futura nora.
Aqueles dois pareciam bastante constrangidos. O rosto de Beatrice mudava de cor entre pálido e vermelho, dependendo do que o Arcebispo Gregor dizia. Heloise quase riu. Mas aquilo seria uma heresia sem perdão diante de um alto membro do clero.
Ela iria conversar com sua futura nora. Era preciso que ela entendesse como funcionava a vida de um casal na intimidade do quarto.
O arcebispo continuou.
-E ainda, gostaria de lembrar aos lordes presentes que os tocamentos indevidos é um pecado gravíssimo, pois desperdiçam, solitários em seus quartos, a preciosa semente da vida.
Cornell estava impaciente. Queria terminar logo com aquilo. Já estava ciente disso tudo, mas no seu quarto, noite após noite, ele  sonhava com ela. Com ele jorrando sua semente da vida, na delicadeza da feminilidade, sonhava que ela o tomava com a sua boca doce... uma boca que ele ainda não havia provado, mas que desejava muito...
Sabia que não era certo pensar em Beatrice daquela maneira, mas ele havia simplesmente tinha desistido de tentar.
O arcebispo nessa hora olhou para Cornell.
-Vossa Majestade, para finalizar nosso colóquio, gostaria de saber se na noite de núpcias receberão na câmara real, os nobres, seus pais e convidados para assistirem ao defloramento e eventual castidade da futura rainha.
Cornell se remexeu no seu trono desconcertado. Havia um suspense no ar, enquanto todos esperavam a resposta do rei. 
De jeito nenhum iria permitir que entrassem em seu quarto enquanto ele a teria para si pela primeira vez!
Todos sabiam que essa regra era uma coisa obsoleta, que havia muito tempo que essa obrigação havia sido desfeita pelo papa.
Porque o Arcebispo Gregor queria impor essa regra de conduta novamente? Velho pervertido! -Pensou.
-Não. Não haverá essa tradição na noite de núpcias da Princesa Beatrice. -Disse o rei com a voz baixa e fria.
Quem o conhecia bem, como seus guerreiros que o acompanham, sabia que o rei estava com os nervos a flor da pele.
Nunca que o rei, sendo reservado como ele era, permitiria que uma coisa dessas acontecesse.  Justamente com sua noiva!
O arcebispo não gostou  da resposta e pareceu bastante decepcionado por não ter essa regra cumprida. Coçando seu cavanhaque, ele estava pensativo. Sentia que havia algo mais entre aqueles dois.
A princesa Beatrice era uma linda e jovem mulher, e  poderia facilmente levar o Rei Cornell às portas do inferno.
O arcebispo decidiu capitular.
O Rei de Dalibor era um rei muito poderoso, além de um próspero senhor feudal, que era muito generoso com sua igreja. Não, não iria se contrapor a ele. Ainda não.
Mas decidiu, por cautela, observar aquele casal com mais atenção.
-Vossa Majestade, será feito conforme a sua vontade.
Beatrice suspirou aliviada.
Finalmente aquilo havia acabado.
Ela se sentia como um pobre cervo correndo de seu algoz na floresta.
Quando Cornell deixou o salão e todos se dispersaram, a Rainha Heloise se aproximou da jovem princesa.
Beatrice fez uma reverência.
-Minha lady.
Heloise pegou as mãos pequenas de sua futura nora.
-Creio que precisamos conversar sobre a noite de núpcias.
A aguardo na minha câmara, após o descanso do almoço.
-Sim, minha Lady.
Beatrice acompanhou a saída do rei. Ele estava tão bonito com seu traje de assembléia. O manto de couro de animal, as longas botas, a coroa que deixava o seu belo cabelo castanho levemente desarrumado.
O coração de Beatrice bateu mais rápido.
-Ah! Céus!  como o apreciava!
Antes de sair do salão, Beatrice olhou par trás e viu  o arcebispo se aproximar  do rei. Ambos começaram a conversar.
Viu que o rei pediu que seus soldados se afastassem e a conversa se tornou reservada somente entre os dois.
Cornell tinha o semblante fechado enquanto olhava para o Arcebispo.
-Oh céus!Sobre o que eles falavam? Será que o arcebispo ia convencê-lo a cumprir com aquela tradição tão humilhante? Ela era casta! Nenhum homem a havia tocado, antes do Rei Cornell... Oh!!! Será que ele iria contar ao velho padre, o que ele fizeram duas noites atrás?
Agnes se aproximou.
-Creio que podemos nos retirar Vossa Alteza.
Beatrice assentiu sem tirar os olhos dos dois homens.
Sobre o que eles falavam?
.............
-Vossa Majestade, sinto ter que lhe perguntar como cumprimento do meu cargo, porque  não quis cumprir com a tradição da noite de núpcias?
Cornell olhou para o arcebispo friamente.
Não acreditava  que ele ainda insistia nesse assunto.
-Porque não acho necessário provar a castidade da Princesa Beatrice.
O Arcebispo levantou a sobrancelha.
-Vossa Majestade se sentiria a vontade para me explicar o porque?
Cornell o olhou seriamente.
-Não. Como disse antes. Essa tradição está dispensada, V. Eminência.
Dom Gregor o olhou com curiosidade.
-Sabe o poder que as mulheres têm de nos levar para o inferno.
Cornell começou a andar com o Arcebispo um passo atrás.
-Vossa Majestade deve se lembrar que pecado de Eva contra Adão causou a ira de Deus. É isso pode acontecer com Vossa Majestade também.
Cornell lembrou-se de Beatrice comendo os figos  no seu quarto.
-Está me ameaçando?
O Arcebispo continuou com sua longa lista de proibições.
-Em hipótese nenhuma, meu rei. Estou apenas a lhe lembrar, que relações  sexuais são  proibidas, aos domingos, que é o Dia do Senhor, também às quintas-feiras e sextas-feiras que como sabe, são dias consagrados para a preparação da comunhão.
O rei parou.
-Não esquecerei.
O Rei deu as costas novamente para o Arcebispo.
Queria se livrar imediatamente da presença daquele homem.
-Vossa Majestade. Apenas mais uma coisa.
O Rei parou, mas não virou-se para o padre.
O que ele pretendia com toda essa história?
-Lembre-se das palavras  de alerta de Santo Agostinho: "É também adúltero, o homem que ama com demasiado ardor sua mulher".
Cornell olhou  com os olhos cerrados para o arcebispo.
Não. Não iria se contrapor a ele. Ainda não. 
O poder que aquele homem tinha o tornava muito perigoso.
-Não esquecerei, Vossa Eminência.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora