Capitulo 9: Um Segredo entre as Realezas

1.4K 154 0
                                    

Cornell a olhou.
Seu vestido azul com um cinto baixo, marcava sua silhueta sensualmente. Os cabelos loiros soltos até a cintura estavam lindamente arrumados com uma pequena tiara de diamantes.
Ela era incrivelmente bonita.
Cornell sentou-se na mesa  e ela viu Arved,  surgir discretamente de um canto do quartos e lhes serviu uma taça de vinho. Primeiro onrei, e depois a princesa, que permanecia em pé, e quando tomou a taça da bandeja,  suas mãos tremiam, trazendo uma tristeza só olhar do velho criado.
-Pobre Princesa! Ter que enfrentar o rei naquele estado de humor!
Cornell o conhecia como a palma de sua mão. E sabia que embora não demonstrasse seu humor estava péssimo. Ele andava ás turras, desde o jantar de apresentação da  bela princesa de Hawuise.
Discretamente, ele se colocou perfilado ao lado da porta.
-Pode sair Arved. Não quero ser incomodado.
O criado saiu e deixou os dois sozinhos, rezando para que o rei tomasse a decisão mais justa para a jovem lady que seria sua futura esposa, a rainha do povo de Dalibor.
Beatrice não sabia o que fazer diante do total silêncio. Estava se sentindo uma criança que iria tomar um castigo de seu pai.
-Não. Ele não era parecido com meu pai. -Pensou Beatrice. Por muito menos seu pai já a teria surrado, que era o que ele fazia com quem o desobedecia.
Ficou enjoada com esse pensa e então, tomou um gole grande gole de vinho, tomando cuidado para parecer sofisticada, embora o gosto apurado do vinho não lhe agradasse muito.
Olhando para o líquido dentro da taça de ouro, reparou o lindo contraste das cores dos dois elementos. Não saberia mais quanto tempo demoraria até que o rei finalmente, fosse lhe dar a honra de falar com ela.
Discretamente o olhou.
Ele estava sentado com as pernas em cima da mesa.
Seu corpo era muito vigoroso e suas pernas eram longas e torneadas.
Nunca em toda a sua vida, ela tinha sozinha com um homem. Ainda mais em seus aposentos particulares. Ainda mais com um rei. Com ele.
Não sabia mais o que fazer.
Ansiava por saber por saber o porque, que ele a havia convocado aquela noite. Curiosa e cansada do longo silêncio, ela decidiu interrogá-lo, mas quando ia abrir a boca, ela lembrou-se de todas as orientações de Agnes, e a principal delas era falar somente quando o rei lhe dirigisse a palavra.
Mas parecia que ele não tinha pressa.
O rei continuou sentado, bebericando seu vinho lentamente.
E ela continuava em pé. -Que falta de consideração da parte dele! Um verdadeiro cavaleiro, nunca faria uma coisa desse tipo!!
O estado estado emocional de Beatrice estava péssimo e ela não suportava bebidas alcoólicas, mas mesmo assim, diante do que estava vivenciado,  decidiu tomar outra gole grande do líquido arroxeado.
Por mais que a bebida surpreendentemente, tivesse um gosto  doce e leve, ela sentia que estava bebendo uma taça,com um gosto amargo de fel.
Ela estremeceu.
-Que pensamentos horríveis_pensou.
O rei, continuava posicionado como estava, e com  o cair  da noite, sua figura  ia sendo tragada pela penumbra e escuridão.
Beatrice continuava imóvel. Estava começando a achar que o castigo que  o rei lhe daria , seria ela fazer o votos de silêncio, atividade muito apreciada pelos padres e monges locais.
Encoberto pela penumbra faz noite o rei decidiu que ali era um excelente lugar para estar, e assim calmamente, poder observa-la.
Ele sabia que estava causando um constrangimento a ela, mas não se importava. A princesa bem merecia sentir o desconforto que estava sentindo depois de tudo o que se atreveu a fazer.
Ele continuaria ali mesmo. Apenas a olhando, enquanto ela, parecia querer sair correndo dali.
Depois de alguns minutos, Cornell calmamente se levantou e acendeu os vários candelabros com velas que ornamentavam o ambiente.
O quarto ia clareando a medida que as luzes iam tomando os lugares das sombras.
Beatrice o olhava discretamente. Estava bastante confusa e ligeiramente surpresa pelo rei acender seus próprios castiçais.
Seu pai nunca faria isso. Seu pai não fazia nada sem que um servo estivesse ao seu lado fazendo aquilo que muitas vezes, ele poderia fazer, caso estivesse sozinho sem seus aposentos.  A atitude do Rei Cornell era no mínimo, inusitada e sem se dar conta do que fazia, sorriu.
O Rei a flagou com o sorriso no rosto.
-Então além de cuspir no meu prato, empunhar uma adaga no meu peito e querer me tocar sem minha permissão, agora está rindo porque acendo as luzes do meu quarto? Estou parecendo Domenico? O bobo da corte?
Beatrice o olhou assustada.
-Ohhhh não...Me perdoe por favor... eu... eu... nunca pensaria isso de Vossa Majestade!
Cornell sentou-se na mesa e se serviu de pão e um pedaço de carne.
Com a mão, fez um gesto para que ela se sentasse.
Beatrice caiu na cadeira a sua frente, consternada.
Tudo o que ela fazia, era errado. Meu Deus! O que iria acontecer com ela agora? Estava sem saída. Será que todas as vezes que o encontrasse faria algo errado? Assim ele a acharia uma tonta.
-Do que ria?
Beatrice ficou surpresa com a pergunta, mas aliviada, sorriu com travessura.
-Imaginava se sua majestade, meu pai, saberia acender seus próprios candelabros, já que os servos o tratam como se ainda fosse um infante.
Cornell parou e a olhou impaciente.
-Isso tem graça?
Impulsivamente, Beatrice iria responder que sim, que ela  conhecia seu pai, e que ele, embora fosse um exímio guerreiro, não conseguiria sequer cortar seu próprio pedaço de carne.
-Não Vossa Majestade . Não sei porque disse isso. Peço..
Cornell a olhou com um olhar frio.
-Se pedir desculpas novamente, mando você pra masmorra! Agora, coma!
Beatrice ia beber  mais um gole do vinho, mas a bebida já estava deixando sua cabeça rondando. Ela não estava acostumada a beber vinho e sentia que seus movimentos estavam mais lentos do que o normal.
Mas, quanto a comida, decidiu acompanhá-lo na refeição. Estava mesmo com fome, pois não havia conseguido comer nada desde que fora informada da sua audiência com o rei.
Em cima da mesa, havia um grande cesto de prata com frutas e flores comestíveis. Ela Pegou uma figo e o abriu em dois suculentos pedaços, levando-os a boca com as mãos.
Cornell desviou o olhar. Aquela mulher mexia com ele de uma forma misteriosa. Sua presença angelical exalava sensualidade, e ao mesmo tempo uma pureza maravilhosa.
Ele sentia que estava ficando ereto só ao estar na presença dela e ao ver sua boca abrir e comer a droga daquele figo.
Ele procurou parar de pensar no que ela lhe fazia sentir, porque estava bem perto de tomá-la em seus braços.
-Tomei algumas decisões.
Beatrice parou. Pronto! Ele ia devolvê-la ao pai e causar possivelmente uma guerra entre os dois reinos e tudo aquilo por causa das suas impulsividades infantis.
Baixou a cabeça. Ela iria aceitar seu destino fosse ele qual fosse.
Beatrice sentiu o seu coração parar de bater. Pronto! Estava feito!
Cornell tomou um gole do seu vinho enquanto olhava ela empalidecer.
-Vamos nos casar daqui a 07 dias. Já avisei minha mãe e ela já está providenciando a festa de casamento.
Beatrice o olhou sem entender muito bem o que tinha ouvido e de repente começou a rir descontroladamente após saber da notícia maravilhosa.
-Ela ia se casar! E não morrer! Graças a Deus!
Cornell a olhou sem entender.
Aquela mulher definitivamente era diferente de todas que ele havia conhecido na vida.
-Perdão vossa majestade, mas eu achei que iria ser devolvida para meu pai causando o caos entre os dois reinos, e se permite dizer, estava pensando que iria perder a minha própria vida.
Cornell levantou as sobrancelhas.
-Iria ser bem merecido, pelo seu comportamento imprudente.
Beatrice ficou séria. Então era isso que ele pensava dela? Imprudente? Sua vontade era responder que nunca na sua vida fôra imprudente. Muito pelo contrário.
Precisava ser prudente o tempo todo para se livrar das atitudes maldosas de sua própria mãe e do comportamento agressivo  de  membros da corte de seu pai. Salvando a si mesma e a seus cinco irmãozinhos menores.
Sua boca abriu para lhe falar tudo isso, mas resolveu se  calar. Precisava aprender a se controlar diante desse homem. Ele era o rei, e ela lhe devia respeito e obediência.
Ela suspirou.
Obediência a um rei estrangeiro, seu marido,?um homem de que não sabia nada, um verdadeiro estranho de quem estava noiva quando ainda era uma criança.
Agnes descobriu que a cinco anos atrás, o rei havia ficado viúvo. Então passado o luto de sua majestade, o Rei Ozzil e seu pai providenciaram o noivado e o posterior casamento quando ela completasse 17 anos. Segundo Agnes, o rei de Dalibor não se casaria com uma criança, embora isso fosse muito comum entre os casamentos da época.
Ele tinha 29 anos. Era um homem formado, um homem obstinado, e ela  deveria aprender a se comportar e deixar de agir como ela era. Impulsiva. Talvez um pouco impulsiva demais.
-Eu obedecerei o que vossa majestade decidir.
E fez uma pequena reverência diante dele.
Cornell a olhou recostando-se na cadeira.
-Não é questão de você aceitar ou não.São negócios. São acordos. Não quero guerras com a chegada do inverno, levando meu povo a morte por fome e frio nos campos de batalha, por causa do mal comportamento de uma jovem mimada.
Beatrice sentiu seu coração doer. Porque aquelas palavras lhe causavam essa sensação tão penetrante?
O rei continuou.
-Nosso casamento tem um objetivo legítimo.E o objetivo é continuar o legado de minha família. Preciso de um filho. É isso que resume o nosso casamento, milady.
Beatrice o olhou surpresa. Aquelas palavras ditas daquela maneira eram simplesmente revoltantes.
Ela fora criada para aquilo. Sabia desde os 7 anos de idade que seria assim. Casaria com um rei, sem conhecê-lo, sem amá-lo...
Mas porque? Porque isso de repente, lhe parecia tão errado?
Cornell sabia que estava sendo duro.Mas ela era uma jovem e possivelmente tinha sonhos de amor cortês. Precisava ser sincero para que ela pudesse compreender como seria o relacionamento entre eles.
-Por isso não precisamos mais de um noivado longo, como sempre acontece. Daqui a pouco o inverno chega e o clima aqui fica muito frio e úmido e nossos convidados terão dificuldades de chegar a Dalibor. E para mim, quanto antes terminarmos com isso, melhor.
Beatrice ouvia tudo calada. Ela tinha muitas perguntas. Mas será que valia a pena fazê-las?
-Quanto ao seu comportamento lastimável, eu vou relevar. Relevar por que há um objetivo muito maior a ser cumprido aqui.
-Um herdeiro._Ela sussurrou.
Cornell assentiu.
-Sim, um herdeiro. Portanto, eu a perdôo de todos os seus comportamentos impulsivos contra mim e minha coroa. Esse será nosso segredo, princesa.
Beatrice o olhou com os olhos semicerrados.
-Um segredo entre realezas? O primeiro deles.
Cornell a olhou com os olhos frios e distantes.
-O único.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora