Capitulo 8: Do Outro Dia

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-Vo..vossa Alteza fez o que?
Beatrice esfregava as mãos uma nas outra, irritada. Mal havia acordado e sua cabeça continuava confusa depois daquele encontro com o Rei Cornell.
- Não está escutando direito querida Agnes?-perguntou um pouco áspera 
A dama de companhia ajudava a princesa Beatrice a vestir sua túnica azul e a calçar seus sapatos e nunca a viu naquele estado.
-Muito pelo contrário, minha princesa, estou ouvindo muito bem. Agora, não vou ter paz, até saber o que Sua Majestade vai fazer com milady. A senhora não se sentiu satisfeita de cuspir a carne no seu prato? Precisava apontar uma adaga para ele?
Beatrice caminhou até a janela da primeira torre, onde se encontrava os quartos dos convidados da Rainha Heloise.
-Eu não tive culpa se engasguei com a carne. E também não tive culpa de usar a adaga, quando me encontrava sozinha no estábulo...
Agnes fez um sinal para ela para não falar mais nada.
-Milady sabe bem que não deveria estar no estábulo aquela hora da noite E, essas desculpas de nada valem quando se trata do próprio rei.
Beatrice sentou -se na cama. Estava aflita.
-Por favor Agnes, não me deixe mais nervosa do já estou. Não sei o que ele vai fazer comigo. Mas... eu estava apenas me protegendo, não era minha intenção ameaçar a vida de Sua Majestade, e... Oh céus! muito menos  cuspir  em seu prato!
Agnes balançou a cabeça.
-A única coisa que não sai da minha cabeça, é porque milady não levou seu guarda pessoal para esta visita noturna aos estábulos. Aliás, como saiu às escondidas e foi parar lá sozinha no meio da noite?
Beatrice sorriu.
-Precisava ver ser minha garota estava bem.
Agnes revirou os olhos.
-Vossa Alteza, pelo amor que tem a sua vida, da próxima vez, pense duas vezes. Aliás, não, pense dez vezes antes de fazer alguma coisa desse tipo novamente. E caso continue pensando, fale comigo imediatamente, que lhe digo se é aprovável ou não.
Beatrice pegou as mãos de Agnes e a sentou na sua cama, deitando sua cabeça no colo da dama de companhia.
-Oh Agnes! Preciso  ainda te falar sobre mais uma coisa.
-Oh céus! Não sei se tenho saúde, Alteza para tantas emoções num só dia.
Beatrice não sabia se ria ou se chorava.
-Ontem, o rei Cornell não se sentiu ameaçado pela minha adaga.
Agnes sorriu sentindo -se leve com aquela notícia.
-Não? Tem certeza? Graças a Deus!
Beatrice levantou-se e pegou uma maçã na fruteira de prata em cima da mesa.
-Não. Mas... aconteceu uma coisa.
Agnes sentou -se no chão aos pés da princesa.
-Por favor,milady. Tenho medo que não saia dessas terras com vida.
Beatrice gargalhou. Um riso frango e jovial.
-Notei que as partes de baixo dele, ficaram... é é...estranhamente crescidas... não entendi muito bem como isso aconteceu...
Agnes abaixou os olhos, escondendo um sorriso maroto.
-Ohhhh milady, isso é uma boa notícia...nem tudo está perdido então...
Beatrice a olhou desconfiada.
-Eu não sei. Ele ficou diferente. Com os olhos diferentes. Parecia que queria me engolir, como um... como um javali!
Agnes sorriu. Como iria explicar aquilo  para a princesa tão pura e casta?
Por ser criada apenas por amas, Beatrice não teve a iniciação da vida adulta que geralmente é feito pelas mães. Agnes ao contrário, vivia na corte há muito tempo e teve algumas experiências com nobres que viviam no castelo  ou até mesmo com alguns artesãos que iam para as feiras anuais em Hawuise.
Beatrice continuou.
-E depois ele pegou nos meus cabelos... nos meus cabelos!!! E os cheirou...Ai então, eu pedi para tocar o seu rosto, mas ele ficou diferente e me tratou com frieza novamente.
Agnes levantou-se rapidamente, colocando uma mão na cabeça e a outra no peito.
-Vossa Alteza não fez isso, fez? Pediu para tocar  Sua Majestade?
Beatrice assentiu com a cabeça.Naquele momento ela parecia uma criança que não tinha ganhado um doce da cozinheira.
-Sim. Eu queria muito tocar no rosto dele. Ele é tão bonito, é tão forte, poderoso, mas também é um homem muito estranho...
Agnes tapou a boca de Beatrice com as mãos.
-Shiiii! As paredes do castelo escutam nossas vozes... não fale assim de Sua Majestade . Creio princesa Beatrice de Hawuise, que hoje teremos um dia bastante movimentado.

......

Heloise estava indo no quarto de Beatrice, mas parou para ouvir a conversa entre a princesa e sua dama de companhia.
Nunca pensou em seus cinquenta anos que viraria uma velha alcoviteira, mas lá estava ela. Ouvindo atrás das portas.
Sorriu.
Sim, as coisas estavam caminhando como deveriam. O que ela mais queria era que o filho encontrasse a sua alegria de viver novamente.
Ele havia se casado com Joanne, para acumular  terras e riquezas. O casamento foi um fracasso total. Podia-se ver a infelicidade de Cornell  conforme os anos iam passando.Ele não se agradou de Joanne desde o princípio. Ela era esnobe e distante e  muito obediente ás ordens de sua mãe, a obstinada Rainha Ursulla, que insistia em mandar em tudo, como se ela fosse a castelã  de Dalibor.
Com o passar do tempo, eles conseguiram se adaptar às diferenças, vivendo em alas separadas do castelo e Cornell enfim, conseguiu governar trazendo prosperidade para todos. Mas o que aconteceu depois mudou ele completamente. Ela rezava para que dessa vez, tudo fosse diferente.
Que ele tivesse sorte de encontrar em Beatrice tudo aquilo que ele nunca teve com Joanne.
Diante do que ouviu, se afastou.
Havia uma festa de casamento a ser planejada imediatamente!
.....

Beatrice chegou na porta da câmara do rei e seus pés não queriam andar.
Ele a havia convocado para ir até aos seus aposentos.
Parada ali agora, viu o quanto suas ações desde sua chegada haviam sido desagradáveis e desrespeitosas.
O rei de Dalibor podia mandá-la pra casa, romper o noivado e seu pai, ficaria desmoralizado em todos os reinos por culpa dela.
Ou então, o rei poderia fazer pior, e ele estava em seu direito pleno de mandá-la para a morte por ter apontado uma adaga para ele.
Nenhuma dessas opções era boa.
Mas agora era tarde demais. Estava feito.
Sendo assim, decidiu que ia enfrentar com coragem seja qual fosse a decisão real.
Suspirando fundo ela aguardou o guarda pessoal do rei abrir a porta, e anunciá-la.
Embora estivesse trêmula dos pés a cabeça, ela  ergueu o queixo, pronta para aceitar o seu destino.
.
Quando ouviu a batida da porta se fechando, era como se fosse estivesse indo para  uma prisão da onde ela não sairia com vida.
Então, ela se viu sozinha numa ante câmara, onde se via uma mesa grande, com uma tigela  de ouro com frutas da estação e uma jarra grande de  vinho. Ao lado da  lareira,  ficava duas poltronas de um veludo vermelho como sangue.
Beatrice tremeu um pouco com essa terrível comparação. Estava simplesmente apavorada!
-Oh céus!
Com a mão no coração ela tentou acalmar-se. Ela era uma mulher corajosa, mas temia muito pelo momento de seu encontro com o rei, despoja daquela noite fatídica. Dois atos imperdoáveis de ser cometer a um soberano. Tentando se distrair, ela andou devagar pelo ambiente.
As paredes de pedra eram cobertas por um veludo azul debruado em ouro e em uma outra parede, ela era coberta por espadas de diversos tamanhos e modelos e no meio delas brasão de Dalibor com seu trevo se quatro folhas e um grande felino, mostrando os dentes.
Ameaçador.
Era um ambiente extremamente austero e masculino.
-Como ele... _Pensou Beatrice _como ele...
Sem entender o porque, seu corpo formigou em suas partes íntimas. Desde a noite que estiveram juntos no estábulo, cada vez que ela pensava no rei, alguma coisa acontecia com o seu corpo. Um formigamento onde nunca havia existido nada.
O fato dela estar ali, já era esperado e aguardado por muitos. Ela  começou a notar vários o olhares enviesados  dos nobres enquartelados no castelo  cada vez que ela saía  do  seu quarto. E o próprio rei, depois daquela noite, mantinha uma distância polida e terrivelmente irritante.
Cornell simplesmente fingia que ela não existia.
Sequer olhava para ela quando estavam nos longos banquetes,   Em alguma apresentação dos arautos ou nas cavalgadas matinais.
Todas as vezes que eles se encontravam, o rei não demonstrava nenhuma consideração por ela, nem nenhum tipo de admiração como na noite anterior.
Em busca de sua apreciação, ela se preparou para o jantar. Ela mesma escolheu o vestido que iria usar. Uma linda túnica de veludo vermelho comprada por seu pai dos caixeiros viajantes. Pediu a Agnes que deixasse seus cabelos soltos e eles caiam como uma cascata de ouro sobre os seus quadris. Ela sabia que estava muito  bonita e agradável aos olhos.
Quando ela fez sua entrada no grande salão, notou  que todos os olhos recaíram sobre ela e notou que alguns nobres suspiraram diante da sua beleza.
Mas o rei sequer a olhou.
Entrou no grande salão como se estivesse fugindo de uma manada de javalis e  na hora do jantar, pediu que o servo lhe servisse uma sopa de legumes o que causou um constrangimento geral. Afinal, ninguém havia se esquecido do que aconteceu na noite do jantar de apresentação.
Quando acabou o refeição, os jovens trovadores  da corte de Dalibor entoaram cantigas sobre um casal apaixonado e assim que os versos cantados  demonstravam mais paixão e envolvimento, o Rei deixou o salão com seus soldados o seguindo deixando-a profundamente decepcionada.
Afinal, ela  havia se arrumado para ele! Queria muito poder demonstrar toda a sua beleza para que ele a apreciasse como uma joia preciosa, mas ele sequer a olhou durante toda a noite.
Beatrice suspirou.
As lembranças lhe causavam uma estranha dor no coração a qual jamais sentira e era totalmente nova para ela.
Caminhando até a grande janela, esperava  pelo momento em que estaria frente a frente com o rei, sem saber qual era o seu destino.
Então, ela viu uma porta lateral se abrindo e ele, o rei, em carne, osso e pura beleza, saiu do aposento, vestindo apenas uma calça apertada nos lugares certos e uma túnica branca da cota de malha solta sobre seu corpo musculoso.
Beatrice fez uma reverência completa ao vê-lo parado olhando-a fixamente.
O silêncio se instalou.
Beatrice então o olhou nos olhos. Não sentia mais medo. Apenas inquietação.
Estava pronta para sua punição.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora