A Rainha Heloise, agora duquesa de Clement, estava em sua câmara real decorada em matizes azuis e douradas.
Sua dama de companhia penteava seus longos cabelos enquanto ela esperava que o Rei Ozzil, seu marido, a chamasse em seu quarto para que pudessem se despedir.
No outro dia, antes do dia amanhecer, ela partiria para Dalibor e só voltaria depois que sua missão estivesse cumprida: o casamento do seu filho único Cornell com a Princesa Beatrice.
Distraida, Heloise foi até a janela do seu quarto. O pôr do sol estava lindo e ela amava a paisagem bucólica de Clement, as terras que haviam escolhido para viver após a abdicação do trono de Dalibor.
Suspirando, Heloise não se cansava de pensar o quanto aquela decisão havia sido positiva na vida de todos.
Cornell assumiu o reino de Dalibor e assim daria prosseguimento a herança da família, e ela e Ozzil poderiam aproveitar a companhia um do outro, agora como duque e duquesa, donos de suas próprias terras e exército, sendo apenas senhores feudais e vassalos do rei de Dalibor.
Nisso, ela ouviu uma leve batida na porta, e o Rei Ozzil entrou.
Heloise se surpreendeu com a atitude do marido, não esperava que ele viesse até seu quarto. Ozzil ainda era um homem belíssimo. Corpulento com sua armadura têxtil, ele preencheu todo o espaço com sua presença.
Eles estavam juntos há muitos anos, mas ela ainda se sentia profundamente apreciada pela maneira que seu marido a olhava.
Ela fez uma leve reverência.
-Vossa Alteza.
Ozzil se aproximou de sua esposa e pegou a mão de Heloise. Deu-lhe um beijo no pulso e um pequeno cheiro. Ele sempre fazia assim.
-Minha lady.
Os servos entravam e saíam arrumando a comida em cima da mesa de carvalho que ficava próximo a grande janela, da onde podia-se ver toda Clement.
-Podem sair agora.-Disse Ozzil para os servos, ficando somente aqueles que lhes serviriam o jantar.
Heloise agradeceu com os olhos o marido. Tudo o que ela mais queria naquele momento era estar a sós com ele em seu espaço reservado.
Ambos degustaram calmamente a sopa de carneiro com ervas e o bom vinho que era fabricado na própria propriedade.
Assim que terminaram a refeição, continuaram sentados conversando gentilmente sobre a organização para o inverno.
Passado um tempo, Ozzil dispensou as camareiras que se sentavam no chão enquanto esperavam o que eles fariam após o jantar.
Heloise sorriu assim que se viu sozinha com Ozzil e se jogou nos braços em seus braços.
Acariciou lentamente a barba cerrada do marido.
-Como o amava!
Seu marido a olhou com carinho.
-Não estava com fome hoje minha lady?
Heloise buscou seus olhos.
Eles se conheciam.
Haviam vivido muitas coisas juntas. Inclusive, lutaram juntos. Na juventude, quando ambos eram jovens e recém casados, Ozzil saía para as batalhas, e ela o acompanhava.
No começo, ela ficava em suas tenda real sem participar de nada.
Uma noite, quando o rei convocou sua presença, após fazerem amor, ela curiosamente perguntou como estava indo a batalha.
A contragosto, Ozzil lhe falou do pesadelo que estavam vivendo. Estavam perdendo a luta.
Animada com a abertura que lhe foi dada, ela lhe deu sugestões, estratégias e soluções para usar no campo de batalha.
O rei Ozzil a olhou incrédulo. Ela tinha um olhar minucioso e detalhista sobre práticas militares e ele então, decidiu ouvir sua mulher, e colocou em prática tudo o que eles conversavam durante as noites em sua tenda em pleno campo de batalha.
Até que chegou o dia em que ela resolveu lhe mostrar o que sabia fazer com um arco e flecha.
E então, apesar do conflito interno do rei e do assombro geral dos cavaleiros que o seguiam obstinadamente, Heloise começou a batalhar junto com eles.
E foi assim que aprenderam a se respeitar e a se amar. Apesar de nunca terem se conhecido até o dia do seu casamento, eles construíram uma relação gentil, amorosa e sólida.
-Te ouço.
Heloise não sabia como começar.
-Meu querido marido, será que estamos fazendo a coisa certa?
Ozzil a olhou. Ele entendia. Cornell e Beatrice.
-Estamos fazendo o melhor nessas circunstâncias. Cornell precisa se casar e continuar nossa linhagem e Beatrice é perfeita para ele.
-Sim, eu sei... mas...
Ozzil foi até a mesa e encheu uma taça de madeira com vinho.
-Não há mas, Heloise. Quero que confie em mim. Sei bem o que ele sofreu com a morte de Joanne. O acordo com Hewise foi que Beatrice se casaria com ele. Está feito. Não há como voltar atrás sem que haja derramamento de sangue.
Heloise abaixou a cabeça. Ele tinha razão.
E nesse caso, não havia como confrontá-lo.
Ozzil se aproximou novamente da esposa e entrelaçou as suas mãos.
-Eu sei o que está pensando minha querida lady. Mas creia, eles irão aprender a se amar. Ou pelo menos, aprenderão a viver numa cordial convivência.
Heloise beijou as mãos de Ozzil.
-Eu sei, meu marido. Mas, o meu coração de mãe gostaria que ele pudesse ter escolhas.
Ozzil sorriu.
-Nesse caso, você sabe que um rei não tem escolhas. A escolha é se casar, ter filhos e continuar o legado.
A rainha abaixou os olhos maliciosa.
-De onde está saindo tanto romantismo assim minha lady?
Heloise sorriu e encostou a cabeça no peito do marido.
Eles haviam conquistado aquela intimidade durante os anos de amizade e amor que construíram juntos. Sozinhos no quarto podiam ser o que eram: um casal. Simplesmente marido e mulher.
Ele acariciou o rosto de Heloise.
-Quero que confie em mim. Apesar da obrigação do casamento, demorei muito tempo para encontrar uma princesa que tenho certeza, fará o coração de Cornell acordar para a vida novamente.
Heloise se aconchegou mais no peito do Ozzil.
-Eu confio, meu rei.
Ozzil beijou a sua testa.
-Confie e verá com seus próprios olhos.
Heloise sorriu.
-Sim, eu verei.
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O REI SEM CORAÇÃO concluído
Ficción históricaO Reino de Dalibor é governado por Cornell, também conhecido como o Rei sem Coração, isso porque na juventude, Cornell se casou com a Princesa Joanne e ela faleceu de maneira inesperada e misteriosa, junto com seu filho Primogênito. Passados 10 an...