Cornell, Beatrice e a comitiva real estavam todos prontos para a viagem.
O destino: O reino de Craig, o motivo: o casamento real de Derek e Roshlyn.
Beatrice acordou animada, embora soubesse que provavelmente iria sentir um pouco enjoo e mal estar por conta da longa distância de Dalibor até Craig com todo o peso da gravidez de cinco meses, ela estava motivada e feliz com a viagem.
Há muito tempo não saia, permanecendo os dias e as noites no castelo contando as horas para a chegada do bebê, e procurando não pensar na sua situação com Cornell, que permanecia calado, distante e enclausurado em sua frieza que a fazia a fazia chorar de tristeza e desesperança.
Porém, por mais que ele estivesse distante, foi prestativo e gentil durante todos os preparativos para a longa viagem. O rein demonstrou estar sensível a sua gestação e providenciou uma carruagem grande para que ela pudesse fazer uma viagem confortável, ao invés de ir cavalgando em seu cavalo por dias a fio.
Beatrice suspirou.
O ar das primeiras horas da manhã estava fresco e agradável. Ela novamente sentiu-se feliz e leve em poder sair do castelo e poder ir à uma comemoração com pessoas diferentes do Castelo de Dalibor.
O clima no castelo não estava nada bom. Cornell estava nervoso, pois a sua rede de vigilância ainda não havia identificado quem havia estado na câmara naquela noite.
Ela sabia o quanto aquele assunto era importante para ele. E para ela também.
Conviver com as pessoas, desconfiando de cada uma delas, não era nada bom. Beatrice também sentia no fundo da sua alma que havia alguma coisa errada no castelo. Alguma coisa estava fora lugar. Embora estivesse grávida e isso trouxesse felicidade para o povo do reino, ela não se sentia plenamente confortável e aceita pela corte de Dalibor.
Os nobres viviam falando pelas colunas e a algum tempo, sentia um ar pesado e tenso que a fazia cada vez mais estar ausente das atividades coletivas e das refeições no salão de onde sabia que iria se encontrar com as pessoas que viviam ali e que pareciam de alguma forma, nao aceitá-la como sua soberana.
Para evitar esse tipo de constrangimento e desconforto, ela passava a maior parte do tempo em seus aposentos, apenas com suas damas de companhia, bordando o enxoval do bebê. Abria exceções diárias, fazendo longas caminhadas pela manhã, enquanto todos dormiam.
Talvez por causa desse isolamento forçado, estivesse feliz em viajar para Craig.
Beatrice estremeceu e tocou sua barriga.
Seu filho era o que a fazia ter forças para digerir todas aquelas adversidades. Ela sentia um amor infinito por aquela criatura que era muito ativa, dando -lhe chutes diários no pequeno espaço que ocupava em seu ventre..
A gravidez ainda era uma caixinha de surpresas e curiosidade.
Há alguns meses, Lady Heloise havia ido ao castelo para visitá-los, e sabendo da sua inexperiência, lhe contou como seria o parto.
-Eu fiquei grávida sete vezes ao longo desses anos, mas somente a gravidez de Cornell chegou até o fim e foi o dia mais feliz da minha vida. O parto não é um momento fácil, mas é um momento inesquecível. Você verá.
Ela sentiu um misto de ansiedade pelo desconhecido e ao mesmo tempo, sentiu tristeza ao ouvir a sogra falar sobre as perdas que passou. Não podia se imaginar na mesma situação de Lady Heloise. A gravidez era uma mistura de sensações. Era realmente impressionante que uma mulher carregasse dentro de si um outro pequeno ser. Eram tantas as emoções que a gestação lhe trazia, que muitas vezes acordava chorando por não poder se explicar como acontecia aquele doce mistério.
E havia a solidão.
Cornell não se aproximava dela havia meses. Ele andava carrancudo e passava os dias trancado por horas com seus ministros em longas reuniões, deliberando sobre as pendências familiares ou comerciais dos súditos do reino, treinando com as espadas com seus soldados ou participando de longas caçadas ficando dias e dias longe do castelo.
Ela sofria. Havia perdido a ilusão de que Cornell poderia amá-la. Ele era conhecido como o rei sem coração e isso a cada dia demonstrava ser uma realidade.
Então ela virou-se e Cornell estava ao seu lado.
-Está na hora de partirmos milady.
Beatrice olhou para a mão forte e calosa que lhe era estendida. Ela demorou um tempo mais do que esperado para entender o que acontecia.
Com os olhos baixos, ela estendeu a mão lentamente. Beatrice estremeceu. Suas mãos se tocaram lentamente e ela sentiu que ele apertava seus dedos com força. Seus olhos se encontraram, e permaneceram assim, por alguns minutos, mas que pareceram horas para ambos.
Cornell a guiou até a carruagem. Ela sentou-se, sem olhar para ele. Não queria se iludir novamente, mas podia jurar que viu uma chama se acender nos frios olhos azuis. O rei ficou um instante parado na porta da carruagem como se fosse lhe dizer alguma coisa, mas depois de alguns minutos ele virou as costas e saltou para cima do seu cavalo.
....
A viagem já durava alguns dias e a sensação desagradável de desconforto gerava em Beatrice enjoos e mal estar.
Mas decidiu que não ia reclamar de nada. todos ali estavam nas mesmas condições que ela. Privação de sono, percorrendo estradas mal acabadas e as dificuldades ocasionadas pelo cansaço dos animais.
Porém era um verdadeiro alento quando chegavam nos vilarejos ou quando eram recebidos nos mosteiros pelos monges. Nos mosteiros, podiam se banhar, comer e descansar, para no outro dia, pegarem novamente a estrada antes que o dia raiasse completamente.
Numa das noites quando haviam chegado em um dos mosteiro, o rei, os nobres e os seus cavaleiros desceram de seus cavalos rapidamente e entraram imediatamente no salão, onde um farto banquete os aguardava.
Porém , antes de tomar um copo de cerveja e ocupar seu lugar na grande mesa, Cornell olhou ao redor e notou que a comitiva da rainha não havia entrado no recinto e se preocupou imediatamente. Olhou para Lethouds, e o cavaleiro que comandava aquela viagem percebeu a preocupação presente no olhar do rei e imediatamente tomou a frente da situação, saindo com cinco homens para averiguar o que acontecia.
Voltou minutos depois e lhe sussurrou no ouvido.
-Vossa Majestade, a rainha está passando por um momento delicado neste instante.
Cornell olhou para Lethouds e imediatamente compreendeu que Beatrice passava por alguma dificuldade ou corria algum tipo de perigo?
Saiu do salão apressado seguido por seus soldados,, deixando todos os presentes atônitos.
Ao chegar no pátio externo encontrou Beatrice rodeada por suas damas de companhia que lhe afrouxavam as suas vestes e lhe abanavam freneticamente.
Ela estava pálida e quando o viu ali naquele momento delicado, sentiu-se pior do que já estava se sentindo.
Ele aproximou-se e ela antes que pudesse evitar, regurgitou nos pés do rei.
Todos ficaram calados diante da cena.
Beatrice levou as mãos a boca e sussurrou:
-Perdão meu rei... eu.. eu...
Cornell não perdeu tempo. Pegou Beatrice no colo e entrou no mosteiro sendo seguido pelo cortejo de soldados e amas devidamente embaraçados.
Beatrice estava envergonhada. Como pode fazer isso! Santa Maria a perdoasse por não ter sido forte o suficiente para passar mal dentro de seus aposentos.
Os monges guiaram o rei até o primeiro pavimento onde se encontrava as câmaras reservadas à rainha e sua corte.
Beatrice aproveitou vê se aconchegou no peito forte de Cornell.
Sua armadura a incomodava, batia levemente em seu rosto podendo lhe causar pequenos arranhões, mas ela não se incomodava. Sem pensar, levantou os braços e o envolveu pelo pescoço.
Seu lugar era ali.
As condições de saude de Beatrice deixaram Cornell preocupado.,
Quando a colocou sobre a cama, ela lhe parecia pálida e muita abatida .
-Me perdoe milorde, eu não pretendia...
Cornell colocou os dedos sob seus lábios e ambos se olharam profundamente.
-Nada que a água não limpe.
Ele disse baixinho.
Beatrice sorriu, e ele ficou ali. Olhando aquele lindo sorriso e quase sorriu também.
Ela estava com uma aparência cansada , mas mesmo assim, tinha um brilho, umbencanto que lhe tirava as palavras. Enquanto estavam ali bem próximos um do outro, ela fechou os olhos. E vontade dele era ficar ali, parado, prostrado, olhando aquela beleza quase divina de que tanto sentia falta.
Beatrice julgou ter visto uma ternura estampada no rosto de Cornell e timidamente , tocou a cama, convidando a estar junto a ela.
Cornell fingiu não ver seu pequeno gesto de carinho e antes que virasse as costas e partisse, ele pode ver seu abatimento é um a tristeza profunda se instalar nos olhos azuis. Beatrice fechou os olhos com força. Não queria demonstrar todo o seu cansaço e decepção.
-Agnes, cuide para que vossa Majestade tenha toda a atenção necessária.
E saiu, deixando-a com uma solidão enorme que também o assolava.
...Eles estavam viajando a dias, e, embora ela estivesse cansada, em nenhum momento demonstrou fraqueza ou fez nenhum tipo de comentário sobre as dificuldades da viagem. Sua força de espírito era notável e ele sentiu um vazio imenso ao fechar a porta de seu quarto.
Queria poder dizer a ela o quanto se orgulhava de sua atitude, mas...ainda não era o momento. Para afastar o sentimento desolador de solidão ele acompanhou seus soldados bebendo com eles o maravilhoso hidromel fabricado pelos monges, onde ficou até o sono chegar.
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O REI SEM CORAÇÃO concluído
Fiction HistoriqueO Reino de Dalibor é governado por Cornell, também conhecido como o Rei sem Coração, isso porque na juventude, Cornell se casou com a Princesa Joanne e ela faleceu de maneira inesperada e misteriosa, junto com seu filho Primogênito. Passados 10 an...