Capitulo 22:Ursulla

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Ursulla colocou as mãos a frente como a maioria das mulheres da nobreza faziam.
Ela era uma mulher que havia se casado com o rei Piers e lhe dado somente uma filha, a princesa Joanne.
Na incapacidade de gerar outros filhos, o rei a dispensou e casou-se com uma nobre de outro reino, dando a Ursulla um  título de nobreza  e algumas poucas regalias no castelo.
-Vossa Majestade deve saber que o reino de Hakon, passa por inúmeras dificuldades...
Cornell assentiu.
-Não devo entrar em detalhes sobre o que acontece lá, pois como vossa Majestade sabe, eu não sou suficientemente versada em assuntos dessa natureza.
O rei levantou as sobrancelhas ironicamente.
Sentiu de repente, uma súbita vontade de rir.
Ursulla era uma mulher dissimulada e perigosamente manipuladora. Todos sabiam que ela era praticamente a rainha regente de Hakon, já que o Rei Piers, gostava mesmo era caçar, ter filhos com suas várias amantes e tê-las todas sobre seu teto como um Sheik oriental.
-Sim. Sei que Hakon atravessa uma grave crise. Mas o rei Piers, acaba de se casar novamente não é mesmo? Me parece que a nova rainha lhe trouxe um excelente dote.
Ursulla levou ao peito, fingindo um desconforto.
Nunca diria a ele que foi expulsa do castelo pela nova rainha! Era uma humilhação profunda o que  vivera naquele último ano.
-Exatamente Majestade, e como sou uma pessoa digna, devido que  era preciso deixar a nova rainha, reinar absoluta em seu castelo e por isso, me retirei de Hakon.
Cornell ficou sério. Aquela conversa não era bem o que esperava. O que Ursulla pretendia não era algo que ele queria consentir.
Ela era a lembrança viva de uma vida que ainda o destruía. Ao olhar para Ursulla ele se lembrava do que havia acontecido com Joanne, e isso não estava contribuindo para dissipar sua tensão, que já estava a mil, por causa dos atribuições reais e...bem... de Beatrice.
-Chegue ao ponto, Ursulla.
Ursulla ajoelhou-se diante do rei.
Ela já havia feito coisas piores na vida. Precisava ajoelhar-se diante desse homem para garantir uma boa vida, até que pudesse pensar em algo melhor pra fazer. Um novo casamento quem sabe.
Ursulla sabia que no reino de Dalibor havia bons partidos na corte.
Quem sabe não conseguisse conquistar algum nobre? De preferência com um bom título e muitas terras.
Mas isso veria depois. Agora, precisava estar ali.
De joelhos.
-Eu imploro a vossa Majestade, asilo em Dalibor.
Cornell a olhava surpreso e irritado.
Não queria a presença de Ursulla no castelo e nem em suas terras.
Ele ficou dividido.
Era conhecido por acolher vários nobres que haviam passado por problemas em seus reinos de origem. Mas eles tinham algo para oferecer. Ursulla não tinha nada, e ele também não lhe devia nada.
Ainda se lembrava com bastante exatidão o tratamento que ela lhe dava: frieza e desdém. Ela nunca o havia respeitado. E quando Joanne morreu, ela estava no castelo e foi a primeira pessoa a culpá-lo pela morte da filha e da neta.
Ela mal sabia o que tinha acontecido, mas havia sido a primeira a lhe apontar o dedo, causando um estrago profundo na sua alma.
E agora ela estava ali. Ajoelhada humildemente, porque havia sido expulsa do Reino de Hakon por Piers e Alice.
Não estava disposto a aceitar seu pedido de asilo.
E não o faria.Havia alguma coisa na personalidade de Ursulla que nunca o havia deixado confortável.
E agora, sua intuição estava muito sensível, dizendo-lhe: não a deixe ficar .
E se tem um coisa que Cornell respeita são os seus sentidos aguçados. Eles sempre o protegeram dos predadores nas caçadas e principalmente, dos inimigos no campo de batalha.
-Levante-se Ursulla. Minha resposta a seu pedido de asilo é não. Já tenho aqui no castelo cerca de cem pessoas sob a minha responsabilidade, entre nobres, criados , meus cavaleiros, sem contar os soldados.
O inverno se aproxima e você e seu séquito  não são bem vindos.
Não há nada em Dalibor para você.
Ursulla continuava ajoelhada e suplicou levantando as mãos.
-Vossa Majestade, lhe peço em nome de Deus, se não poderia reconsiderar meu pedido?
Cornell estava aborrecido. Como ela ousava continuar pedindo, se ele já havia dado sua palavra?
Ele se levantou e deixou a mulher ajoelhada para o trono vazio.
-Faça uma boa viagem de Retorno, Ursulla.
Antes que ele deixasse o sala do trono, Ursulla correu até ele e se ajoelhou pegando no seu manto.
-Vossa Majestade! Tenha misericórdia desta pobre mulher! Posso ao menos pernoitar esta noite? E alimentar a mim e minha corte?
Cornell sabia que iria se arrepender, mas seu senso de humanidade falou mais alto e depois de um longo silêncio, ele respondeu.
-Sim.
...
Ursulla foi levada a um quarto onde dividia o espaço com outras mulheres nobres.
Estava profundamente enraivecida pela atitude de Cornell. Como ele ousava fazê-la passar por aquela humilhação? E ainda lhe negou o asilo!!Ela não sabia o que iria fazer amanhã.
Teria que provavelmente recorrer a um convento e viver enclausurada lá até a sua morte.
O ódio por Cornell a corroía. Seria capaz de fazer qualquer coisa contra ele!
Ele era um homem que não tinha consideração por nada e nem por ninguém.
Joanne estava certa em fazer o que fez!
Ele não merecia nada além de dor e sofrimento.
Amanhã seria outro dia, e tinha certeza que algo ia acontecer.
Algo que permitiria que ela ficasse ali, além da vontade de Cornell.
Se não acontecesse, ela iria fazer acontecer!

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora