Capitulo 30: A Estratégia

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Cornell voltava de seu treino matinal com os seus fiéis cavalheiros e neste momento, ao passar pelo corredor principal do castelo encontrou Ursulla.
Ao vê-la parou subitamente.
Em meio aos nobres e criados que pararam para reverência-lo, o rei parou em frente a Ursulla e a olhou friamente.
-Vá até a sala do trono.
Ursulla sorriu nervosa e fez uma outra reverência.
-Sim, Vossa Majestade.
Assim que Cornell saiu junto com sua comitiva, Ursulla ficou parada pensando no porque daquela convocação. Com certeza, o rei iria intima-la a deixar o castelos e partir.
Ursulla caminhou devagar enquanto pensava   rapidamente numa estratégia para permanecer ali, já que naquele momento não tinha a quem recorrer. Se não ficasse no Reino de Dalibor literalmente não tinha  para onde ir.
Os nobres da sua comitiva, tinham seus próprios castelos e terras. Ou eram simplesmente encostados em algum familiar rico e propenso a recebê-los.
Mas ela? Ela não tinha ninguém!
Maldito Piers! Que a abandonou e lhe deu um título que não valia de nada!
Seu marido poderia ao menos ter lhe dado um castelo para que pudesse sobreviver com dignidade. Mas não! Até o fim  ele foi um mesquinho ingrato!
Ursulla caminhou  devagar até a sala do trono, sob os olhares de desdém da corte de Dalibor.
Eles, assim como ela, sabiam o que aquela conferência com rei significava: acabou o inverno e ela teria que ir embora do reino de Dalibor.
Ela sabia que teria que resolver aquela situação sozinha.
.........
Cornell sentou no seu trono e Arved imediatamente veio lhe falar.
-Vossa Majestade, tenho notícias da rainha.
Cornell sentiu o seu coração disparar.
Beatrice era realmente seu ponto fraco.
Só de ouvir falar seu nome, ele sentia um estranho tremor. Há dias tinha uma vontade imensa de estar ao seu lado, compartilhar de sua companhia adorável e alegre. Pensava no quanto seria prazeroso acompanhar mais de perto a  gravidez e ter a liberdade de tocar em seu ventre. Ele realmente sentia muita  falta dela. 
Sabia que havia sido duro com ela. Sabia que lhe devia uma conversa mais serena e equilibrada, onde talvez pudesse lhe contar a origem do seu medo.
Do seu medo imenso de perdê-la.
Mas ainda não estava pronto para aquilo.
Ainda não.
Havia uma semana que não a via.
No dia seguinte a conversa que tiveram, ele teve que partir para as terras de seu pai, pois ele se  encontrava de cama e sua mãe enviou uma mensagem convocando-o.Pretendia retornar rapidamente, mas acabou tendo que resolver os assuntos pendentes nas terras de Clement. Com a doença repentina do seu pai e com tantas tarefas a cumprir, Cornell sentia-se esgotado.
-Diga.
Arved aproximou-se mais do rei para que pudesse lhe falar com um mínimo de privacidade.
-A rainha pediu para chamar Thri novamente. Parece que o  futuro reizinho finalmente se movimentou, e Vossa Majestade está aflita, achando que isso é incomum. Nesses  dias de vossa ausência, nossa rainha tem permanecido em sua câmara e quase não vem ao salão principal nem para fazer as refeições que estão sendo enviadas ao seu quarto por Eda.
Cornell permaneceu calado.
Ouvia a tudo atentamente.
Então o bebê se mexeu!
Ele nunca havia sentido aquele sentimento: um misto de alegria e orgulho. Seu filho se mexeu! Aquilo era muito bom! Sinal que estava com boa saúde.
Se pudesse sairia correndo pelos corredores e a tomaria nos braços e beijaria sua boca macia, com paixão e desejo. Desde que deixaram de dormir juntos que Cornell não dormia bem.
Ele não queria admitir, mas sentia falta do corpo dela junto ao seu.
De poder acordar no meio da noite e poder tocá-la e te-la para si.
Beatrice...
O que faria com ela? O que faria com esse sentimento forte e poderoso que teimava em invadir seu coração?
Logo ele, conhecido por não ter um coração, estava  com o  coração completamente entregue aquela jovem e obstinada mulher.
Lentamente, Cornell falou:
-Ela fez bem em chamar Thri.
Arved continuou.
-Esse é apenas um conselho de um velho. Agora, nossa rainha carrega em seu ventre o herdeiro deste reino. Nosso futuro rei. Trate-a com a reverência que ela merece. Os erros acontecem para caso,  o encontremos uma outra vez, saibamos fazer diferente. Precisa lhe dar uma segunda chance, milorde.
Cornell ficou em silêncio.
E nesse momento a atenção dele desviou para Ursulla  que entrava no salão, esbanjando beleza e auto confiança
Ursulla sabia era uma mulher muito bela.
Seus longos cabelos pretos estavam presos sob o véu e  seus olhos azuis eram pequenos e pareciam pacatos e serenos, mas Cornell sabia o que se escondia ali debaixo de toda aquela harmonia facial.
Sua beleza exterior em nada condizia com sua língua ferina e com seu caráter deveras duvidoso.
-Chegue mais perto.
Ursulla subiu as pequenas escadas que chegavam até o trono do rei.
Ursulla o olhava sedutoramente.
Ele era um homem lindo e forte. Sua filha deu sorte de ter um homem daquele. Uma pena que ele fosse tão impertinente, frio e extremamente cruel.
Ursulla fez uma pequena reverência. Precisa usar de todas as suas táticas para permanecer em Dalibor.
-Tem rezado muito ultimamente Duquesa?
Ursulla ficou assustada com a pergunta. Porque ele lhe perguntava isso?
-Não... quer dizer sim, vossa majestade.
Cornell repousou os braços do trono  e afundou no tecido macio sem tirar os olhos frios de Ursula.
-Acorda cedo para rezar. Algum pecado a incomoda?
Todos os nobres presentes na sala, se olharam entre si.
Que perguntas incomuns eram aquelas? No salão podia-se ouvir o voo de uma mosca. Silêncio total.
Ursulla o olhou com certo cinismo.
-Não sabia que estava proibido rezar, Vossa Majestade. Se cometi um erro por fazer orações pelo povo de Dalibor, peço que me perdoe milorde.
Cornell estreitou os olhos. Quem ela achava que era para falar com ele daquela maneira?
-Cuidado como fala comigo Duquesa. - murmurou Cornell. - Minha paciência já se esgotou com milady.
Ursulla abaixou a cabeça e estava irritada consigo mesmo por não ter medido suas palavras e assim, poder causar a ira do rei sobre si.
- Lhe peço perdão novamente, Majestade. Eu não estou muito bem esses dias. Minha saúde jaz debilitada e ás vezes, sinto como se a qualquer momento, minha vida fosse se esvair...
Cornell levantou a mão para que ela parasse de falar e então, tomou um gole de vinho olhando -a friamente.
-  Lhe fiz uma pergunta e quero uma resposta concreta.Porque a uma semana atrás saiu da capela como se estivesse escondendo algo?
O coração de Ursulla deu um pulo.
Ela colocou a mão no peito como se estivesse muito ultrajada pela pergunta.
-Creio que Vossa Majestade está falando da manhã que fui levar umas frutas para o velho capelão. Soube que ele estava adoentado e fui fazer essa pequena caridade.
Cornell impulsionou seu corpo para frente, e a olhou dentro dos olhos.
-Fazendo caridade com as coisas alheias, Duquesa?
Ursulla ouviu pequenas risadas ao seu redor.
Maldito! Como ousava falar com ela daquela maneira? Humilhando-a na frente de todas aquelas pessoas?
Mas tinha que usar de sabedoria. Fingindo estar ofendida, Ursulla abaixou-se diante do rei.
-Sim! Sinto muito se o ofendi com isso, meu rei... lhe peço perdão. Novamente...
Cornell a olhou com os olhos duros e frios. Não acreditava nela. Embora soubesse que o capelão estava doente, ele sabia que Ursulla seria incapaz de fazer uma gentileza para alguém.
Não foi o fato de estar na capela que lhe chamou atenção, mas sim a sua atitude. Foi sua atitude lhe pareceu suspeita e sua intuição não falhava.
Existia algo mais aí.
Cornell voltou sua atenção novamente para a mulher a sua frente.
-Você não precisa se preocupar com meu povo. Do meu povo,  eu cuido. Há entretanto, uma outra coisa mais importante que essa, que vossa alteza precisa saber.
Ursulla tremeu. Era agora.
-Quando você irá partir?
A duquesa o olhou perplexa.
-Vossa Majestade foi muito bom em me deixar permanecer aqui e gostaria de lhe pedir para que eu possa permanecer sob sua estadia até que.... Bem... até que eu resolva para onde ir...
Cornell levantou-se num ímpeto.
-Seu tempo de estadia em Dalibor acabou. Não é mais bem vinda aqui. Dragomir, providencie a partida da Duquesa e de sua comitiva. Imediatamente!
Ursulla estava tão perplexa que num primeiro momento não soube o que fazer. Ele estava expulsando-a do castelo! E do seu reino! Como ele ousava expô-la aquela situação tão vexatória?
Quando Cornell desceu do trono e se preparava para sair, Ursulla se jogou aos seus pés, e falou:
-Vos peço em nome de Joanne, minha filha, que eu possa permanecer mais alguns meses milorde...
Cornell olhou para a mão que segurava seu antebraço. Ursulla a retirou imediatamente diante do olhar gélido do rei.Ele ficou em silêncio por um longo tempo.
Vendo que não havia conseguido seu objetivo, Ursulla resolveu usar de outra estratégia.
-Me deve isso Vossa Majestade, já que foi o responsável indireto pela morte de minha filha e minha neta.
Cornell sentiu seu coração falhar. Como ela ousava lhe dizer aquilo?
Ela sabia muito bem onde atacá-lo. Sabia que esse acidente era sua maior vulnerabilidade e Cornell a odiou naquele momento, por ela usar isso contra ele.
Ursulla levantou devagar. Sabia que tinha acertado no alvo.
Todos no salão do trono estavam petrificados com o que viam e ouviam. Aquela mulher tinha muita coragem de falar isso para o rei de Dalibor.
E agora? Qual seria a reação dele?
-Lhe dou trinta dias para que possa resolver para onde vai. Trinta dias. Nem um dia a mais.
Ursulla sabia que em trinta dias seria difícil mudar a sua situação. Mas pensaria nisso depois. Agora, era somente aproveitar a cara de sofrimento do maldito rei de Dalibor.
Havia vencido.
Ele não sabia, mas as cartas não estavam todas sobre a mesa.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora