Capitulo 6: O Jantar de Apresentacao

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Agnes tentava arrumar os cabelos da Princesa Beatrice, mas ela estava inquieta.
Várias servas estavam em seu quarto, limpando sapatos, trazendo flores, vinho e fazendo várias coisas ao mesmo tempo.
Todos pareciam  nervosos, pois o rei finalmente iria conhecer sua futura rainha naquela noite. E isso era um grande acontecimento.
Vários sentimentos se misturavam dentro de Beatrice.
Amavelmente, ela se levantou e dispensou as servas de Dalibor que a agradavam de todas as maneiras. Precisava de alguns minutos sozinha com sua dama de companhia que a conhecia tão bem para tentar organizar seus pensamentos.
Assim que ficaram sozinhas, Agnes se aproximou e pegou as mãos da princesa. Um gesto permitido pela intimidade que as duas cultivavam.
-Nervosa, minha lady?
Beatrice abriu um largo sorriso.
-Como um coelho sendo perseguido por camponeses famintos.
Agnes ficou preocupada.
-Minha Lady, cuidado com suas palavras. com certeza essas que acaba de proferir não irão causar boa impressão ao Rei.
Beatrice fungou.
Um rei que nem estava aqui para me receber...
Agnes começou a se abanar, nervosa.
-Milady, ouça-me: as paredes falam.
Beatrice alisou seu vestido. Sabia que estava especialmente bonita aquela noite.
-Não quero causar boa impressão. Quero que ele me aprecie, Agnes.
A dama de companhia suspirou
De novo essa ideia? Como a princesa podia ater esse tipo de pensamento ainda?Apreciando ou não, o acordo estava feito. A certidão, o dote e a cessão das propriedades já havia  sido assinada pelos reis Ozzil e   Roland de Hawuise.
Então, o rei apreciando ela ou não, o casamento seria realizado. As coisas eram feitas assim desde o início dos tempos, e ninguém podia confrontar um rei. Jamais! E a igreja também apoiava esse tipo de situação. Não entendia  porque a princesa Beatrice queria complicar as coisas, com aquelas histórias de apreciação, de... amor?
Balançando a cabeça, Agnes pegou a bandeja de ouro onde estava a coroa da princesa.
Fez uma reverência e Beatrice a colocou diante do grande espelho de metal polido que foi providenciado para seu quarto.
A princesa olhou sua imagem refletida nas placas metálicas.
-Será que ele vai me apreciar?
Agnes suspirou novamente.
Um suspiro profundo enquanto pegava o manto azulado que combinava com seu vestido de brocado com fios de ouro nas mangas e na barra.
-Sim, vai apreciá-la porque, sua beleza é pura e casta como a da Virgem.
Beatrice sorriu.
Era melhor deixá-la sonhar enquanto havia tempo.
Agnes beliscou a bochecha de Beatrice e pediu que ela mordesse os lábios para dar lhes dar um pouco de cor, e ficar rosado como uma pétala de flor.
Antes de saírem, paradas de frente uma para a outra, ambas se deram as mãos. Carinhosamente, Agnes deu uma última ajeitada nos longos cachos que fizera em Beatrice e a olhou com orgulho e apreensão.
-Está pronta milady.
......
O grande salão estava repleto das pessoas que moravam no castelo: duques e duquesas, condes, conselheiros do tribunal, cavaleiros e nobres de menor estirpe. Todos vassalos do rei, aguardando a chegada do seu soberano para que pudessem se sentar nas longas mesas dispostas para a farta refeição daquela noite.
Beatrice estava muito nervosa. Olhava a todo instante para o arco de entrada por onde o rei finalmente se juntaria a todos.
Ela estava curiosa, queria muito saber como ele era, sua aparência, pois ele era conhecido como Cornell, o Belo. Agnes havia lhe falado que por vezes, o demônio mora na beleza, mas ela procurava pensar positivamente. Ele seria bonito e bom. E a apreciaria.
Decidida a abandonar os  pensamentos ruins,  começou uma conversa sobre bordados com a Princesa Justine do Reino de Dazzo, que fazia parte da comitiva da Rainha Heloise, quando o arauto entrou no salão para anunciar a chegada do rei.
O coração de Beatrice se acelerou.
Finalmente iria conhecer seu marido. A guarda real adentrou o salão e logo em seguida  todos se curvaram quando o rei entrou e se sentou no trono.
Beatrice fechou os olhos desde que o primeiro homem da cavalaria entrou, fez a reverência de olhos fechados e continuou até um pequeno burburinho chegou aos seus ouvidos. Era a hora de abrir os olhos.  Então ela o viu. Um homem grande, com os cabelos que batiam no pescoço. Lindos cabelos da cor  da castanha e olhar forte e magnético. Ele era o homem mais bonito que seus olhos haviam visto.
Não que ela tivesse visto muitos homens em sua vida, mas aquele era sem dúvida nenhuma, o mais lindo de todos!
Sua imagem era imponente e forte. Seus músculos apareciam sobre a túnica e o gibão na cor roxa, demonstrava todo poder que emanava dele.
Beatrice não conseguia tirar seus olhos do rei de Dalibor.
-Oh meu Deus! Que sorte a minha! -pensou feliz.
-Aproxime-se milady.
Cornell falou com sua mãe. Ele estendeu a mão para que ela se sentasse no trono que havia sido seu por muitos anos.
Ela fez uma reverência e se sentou elegantemente.
Cornell avistou a mulher loira que tinha ficado de olhos fechados durante seu passeio até o trono.
Esperava que não fosse ela a sua noiva, pois aquilo era uma atitude extrema e impertinente.
Dragomir sussurrou algo no ouvido do rei. Ele assentiu com a cabeça.
-O rei convoca a presença da Princesa Beatrice de Hawuise.
O coração de Beatrice quase saltou da boca. Graciosamente ela percorreu o meio do salão passando por uma pequena  multidão curiosa,  até chegar bem em frente ao rei de Dalibor.
Fez uma reverência.
-Vossa Majestade.
Então se olharam.
O que Beatrice viu foi olhos profundos e azuis. Mas não havia nada dentro deles. Nenhuma emoção. Nenhuma reação. A frieza a chocou um pouco, mas mesmo assim, ela esboçou um tímido sorriso antes de olhar para o chão.
Cornell a olhou irritado.
Era ela!
Como ela ousava agora olhá-lo daquela forma? A petulância daquela mulher! Olhando -o diretamente nos olhos!
Cornell estendeu a mão para que ela sentasse num trono bem menor do que de sua mãe, do lado esquerdo.
Beatrice sentou-se jovialmente. Não queria pensar que não viu a apreciação que tanto desejava nos olhos do rei.
Não queria pensar que ele havia desviado o olhar, não demonstrando sequer um simples gesto de boas vindas.
Quando o arauto começou sua apresentação, declamando poemas sobre as peripécias de um duque glutão, Beatrice claramente se divertia. Ria e batia as mãos como se fosse uma criança.
Cornell franziu a testa. Estava irritadíssimo com as atitudes de Lady Beatrice e mal havia postos os olhos em cima dela.
Onde essa princesa havia sido educada? Olhou para sua mãe com uma interrogação nos olhos azuis.
A mãe abaixou os olhos escondendo um sorriso.
Seu marido tinha razão. Ela era a noiva perfeita para ele!
Quando a comida foi servida, Beatrice olhou disfarçadamente para ele, enquanto os criados o serviam com grande e suculento  pedaço de carne de perdiz. Uma  faca de caça com um lindo punho de couro e metal descansava ao lado do seu prato. Calmamente,  o rei degustava seu  copo de cerveja cerveja, parecendo não ter presa de se alimentar.
Ele fez um gesto para que todos começassem a comer sem ele.
Beatrice então colocou um pequeno pedaço de carne na boca e esticando a cabeça por entre o rei e Heloise, ela falou:
-A comida não está do seu gosto majestade?
Cornell ouviu aquela voz linda e meiga e pensou que era a voz de um anjo. Demorou algum tempo para perceber que a princesa se dirigia a ele.
Ele colocou a taça de madeira suavemente na mesa e a olhou. Sequer notou que todos no salão observavam a cena atônitos com o que ela acabara de fazer: falou diretamente com o rei, ainda por cima interrogando-o.
Ao invés de baixar os olhos, ela ao contrário, o encarou enquanto colocava mais um pedaço de carne na boca.
Suas mãos eram pequenas. E ela comia com uma delicadeza encantadora.
Cornell ficou paralisado. Ficou olhando para seus gestos de pegar a carne com as mãos, e colocar na boca, como se não fosse a coisa mais sensual que ele havia visto na vida.
Ele fixou os olhos em sua boca.
Ela abaixou a cabeça corando.
Porque ele a olhava daquela maneira? Beatrice se sentou incomodada com a intensidade do olhar. A emoção a distraiu e ela quase engasgou com o pedaço de carne.
Rapidamente apareceram servos para acudi-la, enquanto ela tossia desesperadamente para se livrar da carne agarrada em sua garganta.
O rei nem a olhou.
Beatrice estava desesperada. Sentia que o ar faltava em sua garganta e não estava mais conseguindo respirar.
Meu Deus! Que vergonha! Engasgar no seu banquete de apresentação com todas aquelas pessoas a olhando, esperando que algo de muito ruim lhe acontecesse.
Mas Agnes agiu com rapidez deu um tapa nas costas da princesa, fazendo com que ela jogasse o pedaço de carne preso em sua garganta que caiu diretamente em cima do prato do rei.
As duas o olharam petrificadas.
Todos estavam realmente consternados com aquela   cena deveras desconcertante.
Muitos nobres estavam escandalizados, outros acharam graça da situação e outros olhavam para a princesa com raiva e desprezo.
A Dama de companhia batendo na princesa para que ela não morresse engasgada com um pedaço de carne, a princesa com o rosto vermelho, cabelos desgrenhados, com a mão no peito arfante como se esperasse um castigo terrível.
Todos esperavam silenciosamente para saber qual a atitude que o rei tomaria diante daquela situação inusitada. Mas ele continuou bebendo sua cerveja como se nada estivesse acontecendo.
Fazendo uma reverência, Beatrice falou com a voz rouca depois de tanto tossir.
-Perdão, vossa majestade.
Cornell retirou o pedaço de carne que havia pulado para seu prato e jogou no chão para os cachorros comerem.
-Está dispensada.
Beatrice suspirou entre indignada e aliviada. Ele nem a olhara! Ela podia ter morrido bem ali na sua frente e ele não fez nada! Será que aquele homem estava preparado para cuidar dela num perigo eminente?
Quando a princesa saiu com sua comitiva, a Rainha Heloise, falou baixinho para que ninguém a ouvisse.
-Da próxima vez, corte os pedaços de carne da sua noiva.
Cornell se afundou na cadeira.
O que seria da sua vida daqui pra frente?

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora