Capitulo 17: A Prova Nupcial

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Beatrice acordou sentindo frio.
Ele havia saído da cama e ela nem havia  notado.
Depois de se amarem mais uma vez antes do amanhecer, ela havia dormido em seus braços e parecia que anjos a haviam levado ao céu e agora lhe traziam de volta para ela acordar assim:sozinha.
Abrindo bem os olhos, viu Agnes em pé ao lado da sua cama.
Sua expressão era de desespero.
-Vossa Alteza, quer dizer, Vossa Majestade, Vamos! Levante-até ! Rápido!
Beatrice não tinha acordado direito e, não estava entendendo o que estava acontecendo naquele quarto. Queria explicações. Como Agnes pôde fazer isso com ela, justo hoje? Então, ela se sentou na cama cambaleante de sono é muito exasperada.
Seu corpo doía em lugares onde ela nem sabia que existia.
-O que... está acontecendo aqui, Agnes? Dê-me uma boa explicação, senão...
Agnes olhou para a rainha completamente nua e corou com pudor,  mas rapidamente vestiu a camisola pela cabeça de Beatrice e colocou sobre o seu ombro um manto de peles.
Arved também estava no quarto de costas parecendo aflito  e falando.
-Temos que nos apressar, temos que nos apressar minha rainha...
Assim que percebeu que a rainha estava devidamente vestida, o criado de Cornell fez um sinal para que elas avançassem para fora do quarto.
Agnes a pegou pelo braço e a levou praticamente correndo até a câmara da rainha. Quando entrou no quarto, praticamente a jogou na cama sob o olhar assustado de Beatrice.
-Agnes! O que está acontecendo aqui?
A dama de companhia ajeitou as várias fitas da sua camisola, colocou uma touca em seus cabelos e puxou as cobertas da cama, indicando que ela deveria se deitar.
-Rápido vossa majestade, rápido. Em alguns minutos milady descobrirá.
Beatrice afundou na cama sem entender o que acontecia.
-Mas.. você terá que me explicar isso muito bem Agnes... muito bem mesmo.
Agnes, olhou para ela e seu semblante era sério.
Sério como ela nunca havia visto antes.
-Vossa Majestade, apenas confie em mim. Finja que está dormindo. O rei nos pediu que fizéssemos isso.
-Mas...
Sem titubear, Agnes pegou uma coberta e jogou sobre a cabeça de Beatrice cobrindo-a completamente.
Pela primeira vez, Beatrice pensou que deveria castigar Agnes por aquilo. Onde já viu fazer isso com ela...
Quanto ia retirar as cobertas do seu rosto, ouviu a porta se abrir e uma voz masculina irritada  falou:
-Vejam com seus próprios olhos.
Era Cornell!
-A Rainha Beatrice dormiu em seu próprio quarto! Não deveria dar ouvidos às vozes entre as paredes. Como o arcebispo sabe muito bem, um castelo é cheio de conversas maldosas, caluniosas.
Oh céus! O Rei estava ali, com o Arcebispo Gregor, clérigos e nobres de todos os reinos!  O burburinho era audível debaixo das cobertas e Beatrice tremia da cabeça aos pés.
Aquele homem de novo! O que ele pretendia com essa fiscalização incessante?
Agora,ela era uma rainha! Como se achava no direito de se meter em sua vida privada?
Homem impertinente!
Então lembrou-se que não havia falado com o rei sobre o que viu na noite anterior. Ele estava bisbilhotando a conversa dos três reis e agora essa situação vexatória.
-Vossa Majestade, peço que não me julgue. Estou apenas cumprindo com meu dever de zelar pela ordem e pelo cumprimento da fé cristã.
Cornell o olhou com desdém.
-Certamente que sim, vossa eminência.
Então era isso! Ele os estava estava vigiando!
Beatrice resolveu ajudar a situação, movendo-se para que ele pudesse ver que era ela mesmo que estava deitada na cama.
O arcebispo levantou a sobrancelha.
-Hummmm...então ela dormiu realmente no seu quarto? Sono pesado de Vossa Majestade... Ou eles foram mais rápidos para contornar a situação? Pensou o velho padre.
Fazendo uma reverência, o arcebispo olhou para o rei Cornell.
-Vossa Majestade, agora devemos ver a prova nupcial.
Cornell o olhou sob suspeita.
Sabia que não devia se contrapor ao arcebispo. Apenas se perguntava o porque dele está agindo assim, com tanta obstinação, para ter certeza sobre a pureza de Beatrice e sua  relação matrimonial.
Ele saiu do quarto sem olhar para ninguém. Seu porte altivo demonstrava o quanto  ele estava definitivamente irritado.
Cornell caminhou a passos largos até sua câmara que ficava no mesmo corredor, com os outros  seu encalço. Arved abriu a porta do quarto já devidamente arrumado e deixou que as dezenas de homem entrassem no quarto para comprovarem que o que houvera ali foi um simples ato de consumação de núpcias.
Ah! Se todos soubessem o que havia se passado naquele quarto! Naquela cama! Do delicioso frenesi que viveu ao lado dela! Ninguém em mil anos, muito menos aquele arcebispo deveria saber do que aconteceu.
Cornell sentou-se em sua cadeira real enquanto observava a cena. Arved pegou o lençol manchado de sangue e mostrou ao arcebispo e a todos os presentes.
O velho padre  chegou perto e experimentou com os dedos a textura exposta no lençol e a cheirou.
Cornell levantou as sobrancelhas.
Sua intuição dizia que devia prestar mais atenção a este homem. E o faria.
-Isso comprova que a Rainha Beatrice era pura e casta. Vossa eminência concorda? Creio que agora pode voltar para sua igreja. Ficamos satisfeitos com sua presença em nosso reino, mas creio que já é hora de vossa eminência partir.
O arcebispo Gregor o olhou com os olhos alertas.
- Vossa Majestade, infelizmente, devo  lembrá-lo novamente das obrigações  do casamento e suas consequências, caso não sejam cumpridas a contento das leis de Deus.
Cornell estava impaciente.
Desde as primeiras horas da manhã, foi acordado por Arved, alertando-o que o arcebispo sabia que a rainha havia passado mais horas do que deveria no quarto do rei e que não havia dormido em sua câmara.
Ele acordou de um pulo e juntamente com Arved, Agnes e alguns cavaleiros de sua inteira confiança, organizaram um torneio no campo de treinamento para que ele pudesse ter um álibi, enquanto os criados pessoais cuidavam da rainha.
Estava cansado e terrivelmente consternado com as emoções sentidas na noite anterior. Precisava se recompor.
Precisava pensar no que aconteceu e como agiria dali em diante.
Sentiu tantas emoções diferentes, intensas só lado dela e com ela, que o estavam deixando assustado.
-Não. Não é necessário.
O Arcebispo Gregor falava com o rei, enquanto observava os detalhes do quarto.
Tudo parecia em ordem. Nada fora do lugar.
-Certamente vossa majestade tem razão. Está na hora de eu retornar aos meus trabalhos eclesiásticos. Porém, gostaria de lembrá-lo que a mulher é filha de Eva, que é a responsável por expulsar Adão do Jardim do Éden. Sua conivência com a serpente, fez a mulher ser capaz de muitas coisas impensáveis. Inclusive lançar todos os tipos de feitiços sobre todos os homens. Todos.
Cornell permaneceu impassível.
Não iria permitir que esse homem interferisse no seu casamento, na sua privacidade e principalmente, nas suas decisões.
Sabia que a igreja tinha um poder político muito grande na vida das pessoas, inclusive na vida dos reis, mas não iria se dobrar a Gregor. Por isso precisava ser muito cauteloso.
Tenso, Cornell assentiu.
-Não me esquecerei, vossa eminência. Devo lhe dizer que Dragomir lhe entregará uma boa oferta para distribuir aos necessitados  de sua igreja.
Satisfeito com o que ouviu, o arcebispo saiu do quarto e junto com ele, as pessoas que nada mais tinham a fazer, a não ser espalhar boatos.
Sozinhos, Arved olhou para o rei preocupado.
Cornell lhe devolveu o olhar.
-Peça a Robbyn para acompanhar a partida do arcebispo. Discretamente. Quero saber se ele chegará bem a sua paróquia. Também quero ser informado imediatamente dos passos desse senhor, e convoque Dragomir e Erasto. Diga que os aguardo.
-Sim, vossa alteza.
Quando Arved ia saindo, Cornell o chamou.
-Investigue  quem passou a informação da noite passada ao arcebispo.
-Não precisava nem pedir Vossa Majestade. Essa será minha missão.

Quando ficou sozinho Cornell abaixou a cabeça, que doía como nunca. Sentia que poderia haver problemas brevemente com o arcebispo e sua corja de  bisbilhoteiros.  Um castelo era  feito de intrigas. Mas era necessário descobrir de onde nascia o mal para extermina-lo pela raiz, para que não pudesse crescer e se propagar.
Ele sempre sentia quando as coisas não iam bem e tendiam a piorar.
Mas naquele momento tudo o que ele mais precisava era entender o que aconteceu na noite anterior.
Porque havia agido daquela maneira? Colocando seus sentidos no comando e esquecendo completamente da razão?
Precisava se afastar. Sabia que não devia fugir. Mas se ficasse, ele não sabia o que podia acontecer. Tinha um profundo desejo por Beatrice, que não passou depois da noite que passaram juntos, pelo contrário, seu desejo aumentou, e pela primeira vez, não sabia como agir numa situação e decidiu que se afastar era a melhor solução.
Iria colocar Robbyn e Dragomir, seus homens de confiança no comando do reino e ele ia se afastar do seu maior problema no momento: Beatrice.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora