Capitulo 7: Encontro Noturno

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Cornell não conseguia dormir. Para tentar esquecer o que acontecera aquela noite, ele decidiu escrever os pergaminhos que teria que entregar pela manhãs  bem cedo ao primeiro ministro para quantificar a colheita antes que o inverno chegasse. Milagrosamente, o silêncio se abateu sobre o castelo. Finalmente todas aquelas  pessoas que estavam acomodadas no castelo  decidiram  ir dormir. Ele havia deixado o salão havia umas três horas atrás. Mas muitos nobres ainda ficaram por lá, bebendo e se divertindo com o arauto e com o bufão da corte.
Ele estava inquieto.
A cena do banquete não lhe saia da cabeça.
Será que ele deveria ter feito algo ajudá--la ? Ou deveria tê-la punido pela sua reação tão incomum? Fechar os olhos, falar diretamente com ele, despejar um pedaço de carne em seu prato?
Ele acreditava que muitos nobres pensavam que ele havia sido bondoso demais com uma princesa estrangeira, mas ele tinha que admitir que sua mansidão se deu pelo fato de ter ficado sem ação.
Ela, aquela jovem beldade havia deixado ele sem saber o que fazer?
Mas ela poderia ter morrido asfixiada bem ali na frente de todos.
Seu coração se apertou.
De novo, as velhas emoções desagradáveis voltaram e ele não suportaria passar por esse redemoinho de sensações.
Joanne. Sempre Joanne a lhe assombrar.
Ele também não havia conseguido salvá-la. E hoje, novamente, ele quase viveu a mesma situação.
Sabia que não cumpriu com seu papel de noivo cortês. Pior que isso! Ele era um cavaleiro! E não cumpriu com seu dever de salvar uma donzela em perigo. Uma princesa. Sua futura rainha.
Beatrice...
Ela tinha os olhos mais lindos que jamais vira!
Céus... aquela boca pequena comendo a carne em pequenos pedaços, era uma tentação fora do comum... quando um pouco de molho escorria pelos dos lados,ela passava a língua lentamente para se limpar. Um gesto tão simples, mas que agora, ao se lembrar, fez seu membro ficar ereto. Sentia um desejo repentino e indomável de provar aquela língua.
Cornell foi até a janela pegar um pouco de ar. Precisava da brisa noturna ou quem sabe, um banho de água fria para amenizar o desejo  que sentia.
Ele vestia apenas o calção e uma túnica branca, mas não sentia frio. Ao contrário, seu corpo estava em chamas.
Cornell ficou preocupado, pois sabia que não devia pensar nela dessa maneira. Não podia olhá-la e desejá-la como estava fazendo agora.
O casamento de ambos tinha apenas uma função: gerar filhos. Estabilidade. Legado.
Mas ao se lembrar da voz meiga e a forma como ela o olhou, o apreciando, lhe trazia pensamentos mundanos...bem mundanos...
Saiu do quarto.
Precisava da noite para trazer a paz e a calma que ele tanto precisava. A noite sempre foi seu refúgio, o lugar dos segredos inconfessáveis.
Seus guardas pessoais ao vê-lo caminhando para o estábulo, quiseram acompanhá-lo, mas ele os dispensou.
Queria ficar sozinho. no escuro e no silêncio da noite que ele tanto amava.
O rei caminhou pelas sombras até o estábulo.
Pode ver alguns aldeões bêbados de vinho barato que  era servido nas tabernas. Voltavam para suas casas, ziguezagueando uns com os outros e falando alto. Alguns reconheceram o rei. Aquela figura majestosa que passou por eles como se um demônio o tivesse perseguindo, mas ele não viu ninguém.
.....
-Shiiii...você não consegue ficar quietinha? É muito parecida com sua dona. Quer acordar todos? Se continuar a refugar assim, não te levarei pra passear.Estou falando sério menina.
Cornell ouviu a voz. A mesma voz meiga e divertida que o estava atormentando a horas.
Cornell se aproximou devagar.
-O que faz aqui sozinha a essa hora milady? sozinha? Sem nenhum guarda?
Beatrice levou um susto com a voz soturna e assustadora. Sem pensar duas vezes, ela desembainhou da sua cintura uma pequena adaga que soltou tão logo viu quem era.
Ajoelhando-se, ela ficou com a cabeça abaixada. Agora iria ser castigada. Como ousou apontar uma adaga para o rei?
-Perdão Vossa Majestade. Não era minha intenção ameaçar sua vida.
Cornell encostou as costas nas vigas de madeira grossa que sustentavam o estábulo.
-Levante-se Milady.
Beatrice levantou levemente não tirando seus olhos do dele.
-Não esperava encontrá-lo meu Lorde. Trouxe a adaga para me proteger... mas não de vossa Majestade.
Cornell a olhava fixamente.
Ela era esperta. Sabia que corria riscos mesmo estando num castelo fortificado. Isso demonstrava que era cautelosa.
-Sabe usá-la?
Beatrice suspirou ao ver a figura masculina recostada parecendo calmo e agradável. Então ela sorriu. Um riso franco e jovial.
-Sei usar muito bem Vossa Majestade. E também sei usar uma espada. Eu tive aulas com o melhor espadachim de todos os reinos, Sir Alexander de Bentley.
Cornell estava espantado com aquela informação.Ele gostava de mulheres corajosas e que sabiam se defender.
Esse pensamento o congelou. Ele disse: "gostava"?
Ela acariciava sua égua, lhe falando palavras tolas e sem sentido, que iam e vinham na cabeça, mas ele só prestava atenção na sua voz doce e melodiosa.
Cornell então olhou para sua silhueta esguia. Ela usava apenas uma túnica de dormir com um manto de carneiro por cima. Seus cabelos loiros estavam soltos e iam até os seus quadris.
Sua mão coçou.
Seu desejo naquele momento era tirar aquele manto e despir sua roupa e fazer amor com ela ali  mesmo. Sob o feno.
Cornell sentou suas mãos tremerem. Foi preciso uma força sobre-humana para se afastar para o outro lado do estábulo onde as sombras podiam encobrir o seu corpo. Ele estava ereto.
Então ele caminhou até a baía do seu garanhão, e para distrair dos seus pensamentos de luxúria e paixão, começou a  escovar Amis num compasso lento.
Seu corpo o traía. Seus pensamentos o traíam. Ele só desejava acalmar seus sentidos e se retirar dali imediatamente.
Antes que o rei se escondesse na escuridão, Beatrice  percebeu que o rei estava com  a parte de baixo do seu corpo diferente. O que será que era aquilo? Ela não sabia.
Ambos ficaram calados por um longo tempo, cada um perdido em seus pensamentos, fingindo estarem absorvidos nos cuidadosos de seus respectivos cavalos.
Ela virou de costas pra ele.
Ele era uma visão tão linda diante de seus olhos, que estremeceu.
Seu corpo sentiu um formigamento diferente assim que sentiu que a presença masculina  se aproximava em sua direção. Ele parou atrás dela, pegou uma mecha de seus cabelos os cheirou.
Calêndula.
Beatrice então tomou coragem e virou-se de frente para ele. Nunca estiver lá tão perto devem homem antes. Não sentia temor, nem receios. Naquele momento tantas coisas passavam por sua cabeça, mas ela só conseguia olhar para aqueles profundos olhos azuis que mergulhavam seus olhos.
Ela corou envergonhada. Não devia fazer aquilo. Era errado. Mas ela sustentou o olhar.
E, entregue  àquelas emoções Janis sentidas, deixou que seus olhos percorressem os longos cabelos castanhos, a sua pele marcada por pequenas cicatrizes de batalha. Queria tocá-lo. Queria sentir a sua pele contra a sua.
Esse desejo  foi mais forte que ela.
-Vossa Majestade, posso tocar o seu rosto?
Aquela pergunta pareceu tirar vc Cornell do transe em que ele se encontrava.Então seus olhos ficaram frios novamente.
Aquela sensação completamente desconhecida, o assustou.
De onde saiu o desejo que ele tinha de rasgar arroios roupa, deita-la no feno e penetrá-la  com força até que ela  sr satisfizesse em seus braços?
Ele sabia que precisava  se afastar dela. Mas seus pés estavam presos no chão.
Ele não respondeu a sua pergunta.
Porque sabia que sua voz ia soltar uma palavra que não deveria ser dita: -Sim!
Seus pensamentos estavam lhe matando! Ela era uma princesa! Não uma mulher qualquer!
Era sua futura esposa! A mãe de seus filhos.
Não podia ter aqueles tipos de pensamento sobre ela.
Beatrice viu o rosto dele passando por diversas tipos de reações.
Ela queria tocá-lo, porque sentiu que era isso que ele queria. Que ela queria.
Levantou a mão lentamente. Mas parou ao ver a frieza cortante do olhar  dele sobre  suas mãos estendidas no ar.
-Você ousaria me tocar sem a minha permissão?
Beatrice sentiu as lágrimas vindo aos olhos, mas jogou a cabeça para trás num gesto de desafio.
-Peço a Vossa Majestade que me perdoe por desejar toca-lo sem a sua permissão.
Cornell fixou seu olhar no rosto que estava corado e viu as mãos pequenas lentamente retornaram para a frente do seu corpo, no gesto habitual de princesas e rainhas.
Seu porte altivo não disfarçava a decepção no olhar.
-É o terceiro perdão que me pede essa noite Milady. Não deverá  haver o quarto. Minha paciência é muito pequena e se esgota facilmente. Pode sair agora.
Beatrice estava chocada com as palavras dele. Depois de alguns minutos, ela fez uma reverência saiu.
Andou uns poucos metros e olhou para trás. Para o homem e seu cavalo. Ele havia sido duro com ela. Porque?
Porque não podia tocá-lo? Afinal, era sua  noiva, sua futura esposa.
Desafiando a sorte, ela voltou, virou-se para ele com a cabeça erguida e falou:
-Boa noite, meu noivo.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora