Capitulo 24: Intimidade e Conflitos

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Beatrice estava acordando e se sentia maravilhosamente bem. Aquecida. Confortável.
Abriu os olhos devagar e foi se dando conta de onde estava. Então ela levantou a cabeça e abriu  bem os olhos, e se sentou na cama  incrivelmente assustada.
-Céus! Como vim parar aqui? Na cama do rei? Devia estar sonhando...
Então, viu Agnes pelo canto dos olhos. Sua dama estava com um sorriso no rosto, enquanto arrumava a roupa que Beatrice iria vestir naquele dia.
-Dormiu bem Vossa  Majestade?
Beatrice a olhou  incrédula.
-Agnes! Como eu vim parar nesse quarto?! Por Deus! Será que vim dormindo até  aqui?
A dama de companhia sorriu com gosto.
-Ah! Minha rainha! Se tivesse vindo sozinha dormindo, com certeza cairia da escada e quebraria a cabeça.
Beatrice amava sua dama de companhia! Ela a alegrava muito e sorriu  feliz junto com ela.
-Então conte-me! Como vim parar aqui?
Agnes sentou-se ao lado da cama.
-O rei foi buscá-la.
Beatrice sentiu seu rosto pegar fogo e seu coração bater acelerado.
Então, não foi um sonho!
Foi realidade! Ele realmente a carregou nos braços e se deitou ao seu lado a noite inteira.
-Ohhhhh...
Agnes sorriu maliciosamente vendo Beatrice se jogar nos travesseiros.
-Não teve uma boa noite minha rainha?
Beatrice abriu os braços e abraçou e beijou o travesseiro que Cornell dormiu.
-Achei que fosse um  sonho Agnes! Achei que fosse um sonho e sequer aproveitei...
Agnes deu uma risada jovial e espontânea.
-Não aproveitou, mas vai aproveitar. Porque o rei a pegou como se vossa Majestade  fosse uma joia rara.
Beatrice  ouviu aquilo e de repente, ficou séria.
-Nunca vou esquecer que ele me tornou uma prisioneira por  cinco longos dias e noites! Passamos frio naquele lugar, e só não passamos fome, porque Eda foi excepcionalmente maravilhosa!
Agnes assentiu.
-Isso é bem verdade minha rainha, mas pense naquilo tudo o que conversamos. Se quer agradar o rei, não pode se parecer como uma raposa quando vê uma galinha no terreiro.
Beatrice gargalhou.
-Que horror Agnes! Como pode me falar uma coisa dessas?
-Lhe falo porque sou sua dama de companhia, quase sua tutora. Vossa Majestade precisa ter mais mais tato, mais paciência para entender o rei, e principalmente, lhe oferecer alguma dificuldade. Vossa Majestade não entende o objetivo de uma caçada? Quanto mais difícil o animal, mas eles se esforçam para persegui-lo.
Beatrice se levantou e comeu uma maçã da travessa que estava em cima da mesa.
-Só sei ser eu mesma Agnes. Se eu tiver que fingir ser quem não sou, como eu vou ser eu mesma?
Agnes balançou a cabeça.
-Está muito filosófica, minha rainha. Sabe que as mulheres que falam o que pensam são vistas como inimigas da fé. Tome cuidado com o que fala. As paredes se mexem e contam coisas que nem sempre são as verdades ditas.
Beatrice ficou pensativa.
-Hoje devo conhecer a duquesa.
-Sim. Aquela mulher! Como disse a Vossa Majestade, o rei negou asilo a megera. Mas começou a nevar e a sacripanta não pode ir embora. A senhora fica andando pra lá e pra cá dando ordens para todo mundo. Ela que não se atreva a me dar ordens!
Beatrice olhou para a dama de companhia, com um sorriso maroto.
-Depois você quer que eu seja uma lady, sendo que você minha querida Agnes, fala como uma camponesa.
As duas riram juntas e Agnes se aproximou da rainha, envolvendo  as mãos entre as suas.
-Prometa-me que não vai falar algo sem pensar para a Duquesa, nem para ninguém em quem não confie verdadeiramente. Os ares do castelo mudaram minha rainha. Desde que a Duquesa megera chegou, tudo mudou.
Beatrice apertou as mãos da dama de companhia.
-Eu prometo querida Agnes. Agora me ajude a ficar bem bonita, e depois, vamos enfrentar a megera.
....
Beatrice chegou ao grande salão quando todos estavam por lá, junto a grande lareira. O rei chegou logo depois e se sentou  na mesa, iniciando o  desjejum. No salão estava toda a corte: os nobres, ministros do tribunal e os cavaleiros.
Ela sentou-se no seu lugar e -Cornell  deu-lhe  um leve aceno de cabeça.
Ela estava linda! Usava um vestido de veludo verde  com um cinto de ouro na cintura. Seus cabelos estavam presos numa trança pousada lindamente  no seu seio direito.
Sobre os ombros, uma pele de carneiro, que a aquecia. Minutos antes,  ele sentiu suas mãos frias quando a ajudou a subir  no cadafalso que para levá-la até a mesa.
Com o olhar, Beatrice agradeceu a Cornell.
Era a primeira vez que ela encarava as pessoas que moravam no castelo, os nobres, os criados, os ministros, depois de seu aprisionamento na Torre Vermelha.
Ela estava profundamente feliz pelo reconhecimento e  o amparo do rei nesse momento. Ele  havia apertado  levemente seus dedos e ela ficou comovida com esse gesto.
Quando ela sentou , os criados lhe serviram um grosso pedaço de carne.
Ela estava  faminta.  A boa noite de sono só lado de seu marido a encheu de apetite. Foi quando  de repente, seu estômago roncou bem alto. Cornell que estava sentado ao seu lado, levantou a sobrancelha divertido.
-Mais um pouco, vá, me dê um sorriso...-Pensou Beatrice.
Então, ele cortou a carne  de seu prato em pequenos pedaços,  e com um  meio sorriso, espetou um pedaço da carne na ponta da sua faca e levou até  sua boca.
Beatrice abriu a boca devagar e olhando fixamente para o marido segurou o cabo da faca e comeu delicadamente o que ele lhe oferecia.
Os dois estavam perdidos um no outro. E não viram a comoção que esse pequeno gesto causou em todos os presentes.
Os criados que observavam tudo, demonstraram que estavam  felizes com a reconciliação do casal real. A Rainha estava de volta e o rei quase  sorriu. Havia criados que trabalhavam ali há  dez anos e nunca haviam visto o rei sorrir.
Os nobres estavam escandalizados com o que  viam! Aquela intimidade aparente era uma indecência, era alarmante o que estava acontecendo ali.
Realmente viver naquele castelo atualmente era uma tarefa desafiadora!
Ursulla olhava a cena de seu lugar na mesa central, lugar que ocupava pelo seu título de nobreza, porém afastada do rei e da rainha. Sua expressão era de incredulidade e ódio. Um ódio mortal por ele estar ali, servindo aquela menina que agora era a rainha de Dalibor! Os dois se olhavam como amantes! E não como marido e mulher, nobres, monarcas!
Aquilo era uma heresia.
Ursulla se levantou, de súbito.
-Vossas Majestades! Gostaria de fazer um brinde a Rainha Beatrice que está conosco essa manhã, depois de sua prisão na Torre Vermelha.
Todos os presentes demoraram um pouco a entender o que Ursulla fazia e constrangidos se levantaram e saudaram a rainha.
O rei olhou para Ursulla pensando que poderia matá-la nesse exato momento! Como ela ousava fazer um brinde? E ainda mais um brinde ofensivo a Beatrice?
Porém, resolveu relevar. E levantou a taça e a brindou junto com todos. Ele notou  que Beatrice estava muito pálida e que seus lábios tremiam.
Isso não iria ficar assim! Ursulla iria ver o poder da realeza! Sim, ela veria!!
Mas não agora. Queria que ela pensasse que ele havia aceitado tamanha desfeita com resignação.
Desviando o olhar de Beatrice, o rei virou -se para Dragomir e começou a falar dobre as inundações que estavam acontecendo nas localidades próximas.
Beatrice se sentiu abandonada quando Cornell não lhe deu mais atenção. Estava preocupada com a raiva contida na voz de Ursulla. Seu olhar era assustador!
Ela baixou os olhos. Não sentia mais fome. Queria sair dali. Estava abalada com tudo aquilo! Precisava ir para sua câmara e ficar sozinha, longe de todas aquelas pessoas!
Nisso, Cornell lentamente, descansou  a mão na sua coxa, por debaixo da mesa.
Ela tremeu com o toque.
E sem pensar, entrelaçou seus dedos no dele.
E assim ficaram até o final do desjejum.

O REI SEM CORAÇÃO concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora