Amando um Major - Jasper Hale

Capítulo 15

 No momento meu único desejo é que a dor parasse, não sei ao certo quanto tempo se passou, mas parece uma eternidade. Conforme as horas passavam, a sensação de desespero e agonia atingiu níveis altíssimos e impossiveis de resistir, eu já não tinha forças e nem cordas vocais para gritar, tenho a impressão de que o veneno está me destruindo para depois reconstruir, para me tornar uma predadora destrutiva e mais resistente.

- Falta pouco, meu amor - Ouvi um sussurro baixo e algo gelado acariciando meus cabelos.

 Infelizmente não consegui abrir os olhos e muito menos reconhecer o timbre de voz, meus sentidos estavam bastante fracos e aéreos, o alfato demonstrava ser incapaz de reconhecer qualquer aroma, meus ouvidos captavam pouquíssimos sons do ambiente ao redor, a visão se tornou praticamente nula e inexistente, me sinto perdida e mergulhada em um mar tempestuoso e revolto.

 Em alguns momentos fui capaz de sentir ondas de calor reconfortantes e tranquilos se espalhando pelos músculos tensos de meu corpo, nesses poucos minutos consegui relaxar e apreciar esse delicioso alívio, mesmo que fosse algo instantâneo. Logo depois tudo retornava duas vezes pior, minhas veias queimavam e pareciam prestes a derreter, meus ossos estavam quase entrando em estado de fusão com a pele.

 Meus pensamentos eram povoados pelo desejo ardente de que Deus tivesse piedade de minha alma, a morte se tornou um desejo vivo e muito tentador naquela hora, porém flashs de minha vida passaram bem diante de meus olhos. Toda minha trajetória foi transformado em um filme de longa metragem, memórias perdidas ou adormecidas foram ativadas.

 Consegui lembrar do momento de meu nascimento, quando abri os olhos pela primeira vez e a claridade intensa daquela sala de hospital me cegou, a sensação satisfatória de meus primeiros passos, o desespero ao ver meu pai ser morto diante de meus olhos, o tão famoso e esperado primeiro beijo, a escolha do vestido perfeito para o primeiro baile, a decisão de nos mudar para Forks, e finalmente o momento em que encontrei Jasper.

 O dia mais inesperado de todos.

 Todos os sentimentos foram ampliados e intensificados, no início senti raiva por saber sua real natureza e ainda sim me sentir atraída e o desejar, medo e preocupação por não saber a extensão de minhas emoções, Jasper nunca demonstrou incerteza ou insegurança, por trás daquela aparecia forte e intimidante, existe um homem doce e apaixonado, alguém que sofreu e deseja ardentemente ser aceito e amado, algo que estou mais que disposta a fazer.

 Senti a dor diminuindo até atingir níveis aceitáveis, meus sentidos retornaram e estavam muito mais aguçados do que antes, pude ouvir a movimentação dos Cullen no andar de baixo da casa, pude sentir o aroma único e forte de cada vampiro presente, e por fim, o último e extremamente fraco batimento de meu coração, o que jamais imaginei ser possível, é estranho estar morta e viva ao mesmo tempo.

 Muito estranho.

 Abri os olhos ainda um pouco atordoada, olhei pela janela e me encantei com a visão de lindos raios solares invadindo a vidraça, pude captar sons dos animais pela floresta, ri como uma criança ao descobrir um mundo totalmente novo e aberto a experiências. Pequenas partículas de poeira sobrevoam o quarto, olhei pelo restante do cômodo e meus olhos se focaram na figura parada próxima a porta.

- Jasper - Sussurrei baixinho, minha voz estava mais doce e sensual, algo como sinos batendo.

- Você está linda, querida - Respondeu meu companheiro estendendo a mão.

- Temos a mesma temperatura agora - Constatei ao entrelaçar nossos dedos - Você está ainda mais bonito que antes - Observei os mínimos detalhes de sua fisionomia.

- Diz isso porque ainda não se olhou no espelho - Riu divertido - Vem comigo - Pediu me arrastando pelo quarto.

- Eu acabei de passar pelo momento mais doloroso da minha vida e não ganhei nem um beijinho, que tipo de namorado é você? - Perguntei ouvindo as risadas de seus irmãos.

- Me desculpe, fiquei eufórico quando você despertou - Jasper estava nitidamente envergonhado.

 Ele se aproximou um pouco hesitante e tocou meu rosto com cuidado e adoração, seus dedos tocaram cada traço marcado sobre minha pele fria e marmorizada, por fim colou seus lábios nos meus. Meu peito poderia ter explodido somente ao sentir a textura de sua boca na minha, sempre soube que meu amor por ele é forte e estável, mas agora tenho certeza de que é algo muito mais intenso e verdadeiro, eu nasci somente para ama-lo incondicionalmente.

- Uau, isso foi um senhor beijo - Ri extasiada e sentindo os efeitos sobre meu corpo - Deve ter sido difícil para você se segurar - Inclinei a cabeça para o lado.

- Valeu a pena - Deu os ombros - Agora venha comigo - Pediu e em um piscar de olhos estavam em frente a um enorme espelho.

 Olhei meu reflexo e arfei surpresa com aquela visão, a diferença se tornou gritante, meus cabelos ficaram ainda mais negros e cacheados, os toquei impressionada com o brilho e maciez dos fios, minha pele ficou mais pálida e sem nenhuma imperfeição, sobrancelhas mais definidas e cílios mais longos e curvados. Minha boca assumiu um tom rosa quase avermelhado e ficou mais cheia, porém o que mais chamou minha atenção foram os olhos, vermelhos como sangue.

 Meu corpo também sofreu alterações acentuadas, minha cintura se tornou mais fina e delicada, meus seios firmes ficaram mais fartos e convidativos, minhas pernas exibiam músculos definidos e torneados. A transformação me garantiu uma aparência angelical e pura, algo surreal e impossível de se olhar por muito tempo, é  como admirar uma pintura antiga e bastante formal.

 Céus, eu estou maravilhosa.

- Santa mãe de Deus - Recuei um passo, ainda sem acreditar nas mudanças.

- Os outros estam ansiosos para vê-la - Dispertei de meus pensamentos conturbados.

- Tudo bem, também quero ve-los logo - Concordei depositando mais um beijo em seus lábios.

 Descemos as escadas usando a velocidade humana, tenho receio de não conseguir me controlar e acabar causando um desastre ou coisa pior, como por exemplo derrumar as paredes da mansão. Encontramos a família toda reunida, inclusive minha mãe, senti minha garganta queimar, apertei o corrimão da escada com força e congelei no lugar. Os batimentos de seu coração eram acelerados, pude sentir a pulsação intensa em suas veias, e principalmente o cheiro adocicado de seu sangue.

- Podemos fazer isso outra hora - Jasper tentava me reconfortar.

- Não, tudo sob controle - Respondi evitando manter contato visual com minha mãe.

 A verdade é que cada fibra do meu corpo grita por seu sangue, posso imaginar a textura viscosa do líquido avermelhado descendo por minha garganta. No entanto, minha mente me lembra constantemente do laço que nos une, tudo aquilo que passamos juntas, os diversos sacrifícios e vitórias que conquistamos, cerrei os punhos enquanto terminava de descer os últimos degraus da escada, maldição, não posso me descontrolar.

 Isso vai ser mais difícil do que imaginei.

- Irmãzinha, você parece um anjo - Emmett foi o primeiro a se manifestar.

- Obrigada - Agradeci tentando não demonstrar o quão tensa estava.

- Meu ursinho tem razão, você está ainda mais bonita - Sorri agradecida para Rose.

- Minha filha, você ficou tão mudada - Recuei antes que minha mãe se aproximasse e corri para longe.

 Inferno, eu quase a ataquei.