Your own hell

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• Flashback on •
[ Horas após M.W. ]

Ouvi batidas suaves na porta do meu dormitório, deixando o livro qualquer que acompanhava sobre a mesa ao lado da cama. Não sabia se poesia era para mim, mas encontrava uma sombra bela em suas palavras subjetivas.

—Entra...—falei com palpável preguiça.

Com um rangido curto, vi Marcus entrar no cômodo com alguns poucos curativos no rosto. Suspirei me recordando do meu pedido na montanha. Já havia o feito, não poderia voltar a trás e nem queria. Um esclarecimento curto me bastaria.

—Ainda quer conversar?—questionou ele ainda pronto para dar meia volta caso fosse preciso.

Comprimi os lábios me ajeitando na cama com uma dor ligeira dos ferimentos do procedimento e assenti com a cabeça. Observei o homem de trajes escuros se aproximar e se sentar na ponta do móvel. Da última vez, recuei com repulsa, nessa, me proibi a fazer novamente.

—Como se sente?—insistiu ao ver que eu não abria a boca para um mínimo "olá".

—Jackson me disse para passar uns dias em repouso para a recuperação das perfurações, estou bem...—repuxei um canto da boca enrolando a ponta do cobertor no meu indicador.

Não era à toa que eu evitava essa conversa. Não sabia ao menos como me portar novamente à sua frente sem querer mandá-lo em bora.

"E você sabe de tudo por trás disso?", a indagação de minha mãe ecoou longinquamente como em todas as outras vezes em que o assunto vinha à tona.

—Pedi para que conversássemos porque preciso saber uma única coisa, creio que nada mais...—criei coragem e preparei mentalmente a forma correta de me dirigir sem dar para trás—Nunca soube o real motivo de me prender, Kane. Eu roubei, claro, não sou tola, mas nem ao menos demonstrou tentar relevar ou me fazer devolver... Como fizera Jake uma vez. Você sabia meus motivos...

Mordi meu lábio inferior internamente, buscando afastar as lembranças. Kane respirou fundo e ouviu cada singular palavra com as sobrancelhas sutilmente unidas ao centro.

—Sabe que eu e Liz éramos próximos, fomos muito amigos quando jovens e compartilhávamos segredos um com o outro.—ele começou, passando uma mão em sua barba por fazer e olhando as repartições de metal no chão—A ida dos delinquentes era um deles.

—Mas a falha só foi descoberta três anos depois, não minta para mim.—trinquei a mandíbula certa de minhas palavras.

—Sim, você tem razão, mas o sistema de suporte a vida estava demonstrando problemas frequentes na época. Jake apenas decidiu ir a público quando não possuía mais reparação.—me olhou irrefutável com uma pausa curta—O Concelho traçava rotas de fuga muito antes de tudo acontecer e o envio da Nave Êxodus estava planejado para um ano depois de sua prisão. Com alguns contratempos, a missão só fora colocada em prática dois anos após o previsto, no período em que o pai de Clarke expôs a problemática irreversível.

Meneei a cabeça com confusão estampada nitidamente no meu rosto. Onde diabos queria chegar? Repassei sua explicação em minha cabeça atentamente. Estava dizendo que...

—Foi tudo premeditado? Minha mãe tinha concordado com isso? Com toda essa merda?!—me exaltei com o que clareou diante a junção das peças.

O homem engoliu em seco, tecnicamente consentindo.

—Ela encarou como o melhor para você... Garantir que vivesse sem riscos à ausência de oxigênio e conhecesse a Terra.—sorriu entristecido fitando o imenso vazio—Elizabeth sabia que não aguentaria cuidar de você, mesmo com seus esforços. Sua rotina de roubo foi a oportunidade perfeita para que conseguíssemos fazer tal plano.

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Onde histórias criam vida. Descubra agora