Não sou tão horrível quanto pensa

6.2K 520 101
                                    

Cambaleio para trás batendo em uma das hastes que sustentam a barraca. É incrível como essa merda tem efeito rápido.

—Vá para a nave.—Raven pede me dando as costas e organizando as coisas.

—Eu preciso te ajudar de alguma forma, não pode fazer tudo sozinha.—digo um pouco distante para não contagia-la.

Ela se vira apoiando uma mão na mesa.

—Relaxa, eu e Finn damos um jeito nisso.—seu meio sorriso tenta me convencer.

Repasso o plano na minha cabeça. Não posso andar até a ponte e muito menos atirar. Em alguns minutos meu estado pode se tornar pior ou deplorável, depende de como meu organismo irá reagir. Não consigo ajudar à distância.

Meneio positivamente encarando o chão, aceitando que terei de ficar.

Passo a língua em meus lábios para impedir que qualquer resquício de sangue escape deles e minha cabeça começa sutilmente a se confundir com os movimentos realizados ao meu redor. Fecho os olhos por um tempo até que passe.

—Tomem cuidado.—a observo uma última vez e me viro para sair, mas antes que eu possa, Jasper entra bruscamente.

Nosso olhar se cruza por um momento e eu logo o desvio para o lado de fora. Não queria que me visse assim, mesmo que ainda não esteja ruim de fato. Ainda sinto seus olhos em meu rosto, porém os leva para Raven em seguida.

—Vim aqui para ajudar. V-vou ser o atirador.—sua voz trêmula entrega o quanto não quer fazer isso.

Jasper ganhou uma nova fama pelo ocorrido de mais cedo. Como mérito de coragem na troca de tiros, o chamam de atirador, pouco criativo, mas o fez crescer a autoestima e criar coragem para fazer coisas que a maioria não quer. Talvez seja pelo melhor crédito com as garotas.

—Viu? Acabei de ganhar mais ajuda, não se preocupe, Bia.—fala a Reyes.

Sorrio fraco, me viro e então saio.

Meus passos ainda são seguros, mas a cada novo que dou, minhas pernas parecem pedir por descanso. Minha cabeça é atingida novamente aos poucos pela confusão que se torna o movimento das pessoas e tudo mais ao meu redor. Tento seguir firme. Quando estou subindo a ponta da plataforma, sendo traída por meus sentidos, tropeço em um pequeno desnível das placas de metal, caindo com as palmas da mão no chão.

Vamos, levante!

Faço força para me reerguer, mas o ambiente parece girar impiedosamente, me fazendo pressionar as mãos no chão e esperar que passe. O gosto metálico me atinge de novo, dessa vez me forçando a expeli-lo para fora desesperadamente.

—Beatriz?—alguém pergunta saindo à minha frente.

Levanto a cabeça e vejo Murphy. Que seja minha mente me pregando peças. Limpo minha boca com o antebraço, não me importando com o quão nojento pareça.

Ele corre até mim e me ajuda a levantar com calma. Pareço retornar um pouco para o meu eu e puxo ar para meus pulmões.

—Obrigada, consigo andar sozinha.—digo orgulhosa demais quando me oferece apoio.

Dou três passos adiante e piso em falso, indo quase de cara no chão de novo.

—Tem certeza?—questiona segurando meu braço e me encarando. Reviro os olhos.

Sinto a ânsia querer retornar e minhas pernas fraquejam. Apenas sei que não vou vomitar de novo porque acabei de colocar pra fora tudo o que podia.

Fraca demais para seguir o caminho sem querer sentar por um minuto inteiro, ele me carrega para o lado de dentro. Olho ao redor enquanto avançamos. Os colchonetes no chão, pessoas deitadas e outras sendo cuidadas. Vejo Octavia ajudando seu irmão e lhe entregando um pouco de água, seu estágio evoluiu tão rápido quanto o meu.

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Onde histórias criam vida. Descubra agora