A primeira coisa que sinto é minha cabeça latejando. Depois, ouço meu ouvido zunindo. Aperto meus olhos mesmo fechados e mexo a cabeça passando a mão no lugar atingido. Abro os olhos e me sento no chão. Não sei se estou vendada ou se perdi a visão. Tudo está preto e silencioso.
—Olá?—minha voz se prende na garganta e uma atmosfera silenciosa recai sobre mim—Não... Não, não, na-
Me levanto com auxílio da parede pontiaguda e caço a porta, a qual imagino em um dos possíveis quatro cantos. É tudo igual. Escuro, frio e sufocante. Uma segunda vez no nada. Mesmo em movimento não saio do lugar. O chão levemente macio me incomoda com uma coceira crescente na espinha. As íris desorientadas correndo de um lado para o outro.
Paro me centrando.
Há somente uma escolha: esperar.
Imaginar a possibilidade de nunca mais sair pela gravidade de meu erro é angustiante, e certamente não irá ajudar, mas lembrar da fuga dos meninos acalma meus nervos em algum nível. Uma hora, certo? Uma hora é o máximo, não passa disso. Cruzo meus braços e tento caminhar de um lado para o outro no que parece o vazio do esquecimento. Murphy vai avisar os outros, e se não o fizer, Ben irá. Logo poderei sair. Fecho os meus olhos, mas os abro pela indiferença, não consigo ver meus próprios pés que se posicionam em ritmo um a frente do outro.
Faça da calma sua aliada, já esteve nessa situação.
Tomo ar; quente e pesado. Não tem como acabar, não é? Não posso sufocar. Diante a ausência de algo para abstrair é impossível direcionar os pensamentos por caminhos bons. Desvio-me para a parte bem sucedida do plano, sem esperar que minha mente me tapeie em seguida:
Acha mesmo que eles não foram mortos logo depois que você apagou?
Ah, não comece. Tapo meus ouvidos sem força com as mãos, mas me dou conta de que a voz tem origem da minha cabeça. A região que recebeu a pancada afunda em uma dor aguda, passo meus dedos por cima e posso jurar sentir a viscosidade do sangue. Pare de imaginar coisas. Foco, preciso de foco, é uma luta contra o meu Eu, não é algo impossível.
Retomo meu controle, mudando de direção.
Nada me perturba além do breu, até que retorne a me questionar sem ter conta: há quanto tempo estou aqui?
Tempo o suficiente para ninguém estar te esperando ao lado de fora.
Não vou me deixar levar, é somente uma resposta automática do cérebro, tendo em conta toda a situação... Trinco a mandíbula determinada, porém a insegurança alcança outra rachadura no meu muro de falsa estabilidade.
Acha mesmo que Bellamy já não seguiu em frente? Ou até mesmo Octavia? Têm uma vida nova agora. Um peso a menos.
Aperto os olhos com tanta força que os sinto doer. Meu sangue pulsa nas minhas orelhas e meus dentes se apertam uns contra os outros. Minha estrutura treme enxergando o colapso de um bombardeio de questionamentos infelizes chegando. O funcionamento do meu corpo toma a minha atenção. O ranger dos meus joelhos em movimento me aflige. Não sei se fiz a escolha certa ao ficar andando.
Você é apenas mais um monstro no mundo. Mount Weather? Suja suas mãos tanto quanto as deles... Maya te ajudou, como consegue viver em paz depois de sua morte? Jasper te despreza...
—MERDA, PARA!—grito, em vão. Quando me dou conta, já estou jogada no piso. Meu peito se move descompassado e eu engulo o nó que me incomoda.—Eu... eu tentei mantê-los a salvo.
Mentira.
Traga as memórias boas... Me esforço, penso nas árvores e me vejo andando sobre a grama. Eu... Murphy, Ben e garota. Tentamos fugir e a terrestre é morta.
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OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100
FanfictionComo um planeta que fora dominado pela radiação durante quase um século poderia transmitir um ambiente acolhedor ou até mesmo seguro para alguém? Regada por ainda mais ameaças e hostilidade, capaz de destruir qualquer um que ouse baixar a guarda, es...