Você?

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[ Atualmente ]

—Eu te amo.—suas palavras são simples e límpidas. A sinceridade é palpável, de maneira um pouco incômoda e quase impossível de não ser apreciada.

—Eu...

Minhas palavras se travam ao fundo da garganta sem indícios de sair algum dia. Pego minhas roupas jogadas ao chão, ajeito-as no corpo e procuro arrumar meus fios de cabelo jogando para um lado. É uma benção não ter eles roçando nas costas...

—Preciso ver Thomas...—é a forma que arrumo de terminar a frase diante um sorriso sem brilho, como algo de última hora.

Claro que precisa...—murmura sem ânimo.

Saindo do dormitório e deixando Ben para trás, sigo pelo corredor pouco movimentado. Pego minha excelente retribuição a ele e analiso com peso na consciência. Eu tentei, mas nada saiu, nada do que ele desejava pelo menos. É que... as coisas não são mais como eram antes... Ou como eu estava acostumada que fossem.

Porra, já fazem seis anos.

A atmosfera ganhou mais peso desde o último ano e é quase impossível fugir dessa rotina mecanizada. Fora o trabalho, as refeições, os treinamentos e o resto, minha relação com o Bresson passou a ser arrastada, incompatível. Ele é excelente para mim em quase tudo, mas acho que... Céus... Não estamos no mesmo ritmo e eu odeio que essa minha incapacidade de dizer um "eu te amo" esteja acontecendo. Não é como se não o amasse, é que não quero fingir que tudo está mil maravilhas, mas também não quero o perder. O que é um tremendo egoísmo.

Pisco cachoalhando a cabeça. Preciso encontrar meu tio, antes que deseje voltar para um tempo atrás específico. Até porque Thomas está ocupado; que estúpida derrapada.

Aperto o passo no corredor de luzes frias, dobro à direta e pego as escadas, passando o menos-um quase voando, enquanto me guio pelo corrimão, e empurrando a porta pesada de acesso ao térreo. Algumas pessoas cruzam para lá e para cá em conversas pacíficas, outras fazem apostas e discutem de forma pesada. De certa maneira tudo consegue ser deprimente. Como na Arca quando no espaço, mas cinco vezes pior e mais suja. Ainda parada no lugar olho para meu lado esquerdo, o qual dá acesso direto ao centro do bunker. O cheiro de morte não precisa de muito para me alcançar. Engulo o desânimo que me pinica e pego a direção contrária, virando mais um dos corredores e empurrando direto a porta da sala de arquivos.

—Como faremos hoje?—disparo antes mesmo de pisar o segundo pé dentro.

Se Kane estivesse aqui, viraria para mim com a cadeira de escritório e provavelmente olharia para Abby em uma das cadeiras ao seu lado antes mesmo de olhar para mim. O que acontece é que nenhum dos dois estão aqui.

—Kane?—estico o pescoço e caço por ele—Mas que droga.

Me retiro da sala, batendo a porta às minhas costas. Mordo o canto interno da bochecha. Mudo minha rota para a enfermaria e rezo para que encontre ambos por lá, ou não saberei muito mais onde procurar. Entro na ala médica sem cerimônias devido a falta de atendimento dos últimos dias e bufo por não encontrar nada além de equipamentos e outras coisas.

—Estão conversando então.—digo só, abrindo mão da tarefa por hora.

Não vou quebrar minha cabeça pensando onde se encontram, não agora, então, o que fazer?

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Onde histórias criam vida. Descubra agora