Natural disaster

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O traçado verde na tela escura do monitor pisca incessantemente durante horas. Desfoco os caracteres e vejo o reflexo de meu rosto na tela; cansado e decepcionado.

—Não acredito que foi capaz de fazer isso.—troco para o reflexo de Bellamy ao lado, virando o pescoço para o olhar de fato—Essa não é a minha irmã.

Ele balança sua cabeça devagar, retribuindo a atenção em mim. A sala está vazia e iluminada pelas tochas instaladas em cada canto dela. Não temos um mínimo sinal para tentar compensar tamanha aflição. Respiro pela boca e a fecho quando tento formular qualquer frase que o console.

—Vamos dar a volta por cima.—passeio os olhos sem brilho por ele—Se ao menos conseguíssemos uma resposta...

—Raven teria construído uma catedral nesse tempo.

Noto também pelo monitor a abertura da passagem de panos, poupando meus movimentos para ver Octavia com Kara e Indra adentrando. Mantenho a posição, desviando somente minha visão para o banco que porta algumas jaquetas e mochilas.

—Sei que está chateado pelo que viu, irmão.

Bellamy permanece calado e de costas.

—Eu não podia deixa-los partir, fiz com que parecesse uma deserção.—Octavia insiste, me fazendo desacreditar—Acho que não tenho sido grata o suficiente por sua presença conosco. Sem você ainda estaríamos presos no bunker e não saberíamos que a vida poderia novamente seguir em solo verde, portanto, obrigada.

—E nós descemos e encontramos você.—carrega desprezo na voz, como se tivesse ganhado um presente de mau gosto.

Ela se recompõe com os dentes cerrados de maneira sutil, subindo e descendo o peito.

—A espiã?—busca atualização.

—Sabemos que vai conseguir, só se passaram algumas horas.

O silêncio desconfortável anuncia a saída do trio. Ainda não entendo como Indra pode ser tão fiel aos ideais de Blodreina. É evidente que não reproduziria qualquer feito por sua natureza, mas segue seus passos em quietude, realmente deve a amar como sua própria filha.

Me afasto do equipamento e espaireço a cabeça dando a volta na mesa. Sinto seus olhos me acompanharem.

Bia?—a voz baixa e confortável vem até meus ouvidos incidindo de onde até então Octavia se encontrava. Tommy, segurando uma mão no tecido, se prende a mim quando finalmente me acha—Posso entrar?

Relaxo os músculos com um frágil sorriso, indo até ele e abrindo mais a passagem.

—Claro, vem.

Na realidade, não poderia ter permitido, é confidencial, mas que se fodam as regras, é apenas uma criança. Ele caminha até o centro e eu sigo seus passos com um pingo de nostalgia.

—E aí, garoto?—Bellamy disfarça a feição por um momento.

—O que estão fazendo?—observa com curiosidade o teclado, papéis ao redor e fios conectados a um rádio.

—Agora, aguardando.—digo abraçando o corpo.

Os minutos passam sem alguma tarefa a ser cumprida, e Thomas fica. Conversamos trivialidades — o que há muito não fazia — e conseguimos por algum tempo escapar da realidade angustiante do nosso mundo. Bellamy interage com ele e proporciona um bom momento de diversão, me fazendo perguntar como ele e Octavia eram quando mais novos. Imagino a cena dos dois brincando no alojamento e tirando boas risadas um do outro, Bellamy o irmão mais velho idiota e Octavia a irmã mais nova que não podia viver além da porta do corredor. Sorrio até ficar deprimida com o caminhar da longa história.

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