Borboletinha

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Eu não sei o que senti na hora da minha morte

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Eu não sei o que senti na hora da minha morte.
Nem mesmo me lembro dos segundos anteriores.
Mas estava de joelhos
levando uma bala dentro do meu corpo.
Me lembro do cheiro da minha casa, de comida.
A cor das paredes que eu escolhi, amarelo
mesmo odiando essa cor, escolhi por você.
O tapete deve estar na delegacia, com o sangue fresco do meu corpo nele.
Você deve ter tirado nossas fotos, para não se lembrar do meu rosto.
Trocado todos os lençóis de cama.
Naquela manhã, eram brancos, como um hospital normal.
Tem sempre o seu cheiro, mais forte que o meu
com uma gota do conhaque que você toma antes de deitar.
O meu travesseiro é maior, não gostava de dormir no ralo.
Mas você sempre reclamava disso, e eu sempre pedia desculpas.
Minhas roupas são sempre claras
verde claro
azul claro
rosa
roxo não, violeta.
Você não gostava de roupas escuras, eu amava te ver feliz.
A penteadeira dourada com meus batons e perfumes, deve ter sumido.
Você me abraçava enquanto eu passava o batom laranja, acariciando o meu rosto.
O banheiro então, cada lajota esverdeada você vai precisar reformar
senão terá nelas os meus dedos, de tanto amor e prazer que fizemos naquele chuveiro.
Vai olhar pela janela e lembrar deu mexendo no jardim.
Das nossas flores e dos nossos sonhos.
Você vai chamar mais alguém como me chamava?
Borboleta, porque eu parecia uma a voar.
Se sentar na mesa de jantar, e sentir aquele cheiro de comida
vai pensar em mim, óbvio.
Só eu cozinhava e tinha o maior prazer nisso.
Quando esquecer da sua cabeça
vai recordar deu dizendo que ela sempre estava grudada.
E se o telefone do seu trabalho tocar
calma, não sou eu.
A noite, vai ser pior.
Porque de noite tudo fica ainda melhor.
Não terá ninguém para dar amor
carinhos
borboletinhas em broches e correntes.
Todo o segundo da sua vida você vai lembrar
do dia que resolveu me apontar uma arma
e começar a atirar.

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