É um pouco difícil de tornar em palavras
as dúvidas que sinto agora.
Não sei nem se deveria escrevê-las
porque assim as torno reais.
Toda a minha vida foi baseada em trazer orgulho.
A meu pai, a minha mãe e a mim.
Sempre senti como se fosse uma palhaça
o alívio cômico dessa grande história.
Sou parecida com meu pai, o feminino.
Sempre gostei disso, sempre me senti ainda mais parte da história por isso.
Minha personalidade é baseada na dele.
Um pouco grossa, afiada, nariz erguido e a boca nunca calada.
Gosto da minha versão do meu pai.
Alguns dizem que eu e a minha mãe somos idênticas.
O formato do rosto, a forma como senta.
O jeito de falar, o jeito de compreender e a cara debochada quando faço algo errado.
Gosto da minha versão da minha mãe.
Apresento também minha irmã.
Tenho sérias dúvidas de seus defeitos.
Tudo nela é certo, tudo nela é perfeito.
Ela pode ajudar, ela pode alguma coisa fazer.
Sinto-me personagem secundária dessa história.
Mas agora, que cresci, que cheguei no limite da adolescência, questiono quem de fato sou.
Dessa multidão que habita minha casa
quem desse grupo se formou por mim?
Valeria a pena eu dizer o que sinto?
Valeria a pena eu lutar por mim?
Se fecho a cara, estourada
se rio demais, estranhada.
Me sinto mais em casa na rua do quem casa.
Me sinto mais em família com desconhecidos.
É errado.
Me culpo por isso.
Mas o que posso fazer?
Minha família não me conhece e eu não quero que conheçam.
Esse livro que escrevo, cuja o título já penso em mudar novamente.
Virou meu irmão, meu mais alegre parente.
Entro nas notas e não preciso nublar
meus pensamentos, meus sonhos, minhas dúvidas.
A sua leitura, me instiga a continuar.
Não pelo reconhecimento mas por poder te identificar.
Somos instantes tão demorados, que odiamos quando o tempo não passa.
Agora, os meus pais parecem viver em realidades diferentes.
Mentiras e doenças, sangue na boca na viagem estridente.
Eu não sei mais o que fazer caro leitor, nem falar, nem tenho contas a pagar.
Por isso também não quero uma família.
Por isso também troco sempre pessoas na minha vida.
Porque não quero chegar ao ponto de início.
A desconfiança, ao conflito.
Ainda estou escrevendo quem eu sou, ainda estou me descobrindo.
Perdoem se essa não for a poesia que você vai pensar "alguém sente isso também".
Mas acho que chegou no capítulo
da personagem Verona, se matar.
Prazer, Victoria.
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Oficina do Diabo
PuisiQuanto mais rápido alguém brilha, mais rápido ela pode se queimar. Compartilho por meio desse livro minhas palavras moribundas em busca do meu significado. Ainda não sou boa, nem má, mas definitivamente sou a vilã.