Lumeneré

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Eu queria me encontrar, mas para isso, teria que me perder.
Teria que admitir que estou perdida, pedir ajuda, gritar por socorro.

Olho em volta da casa e vejo bagunça, até a ordem mais minúscula, me incomoda.
Coloco música no fone, aumento e me deixo fora do mundo.

Mas não me ajuda, não me resgata.
Estou gelada, não pelo frio, pelo nada.
Sento próxima ao Sol, ele queima a pele que me da calor.

Sem valor, sem razão, sem coração, enlouqueço.
Quando saio fantasio com esperança, de ser algo, alguém, um foco, objetivo, abstrato.
De dia, tenho agonia.
De noite, não durmo.

Se durmo, não quero acordar e quando acordo não quero dormir.
Falta adrenalina e calmaria.
Falta preto e branco.
Falta eu mesma nas paredes do quarto.

Se fico sozinha gosto e gozo.
Se estou com pessoas já me apavoro.
A única companhia tolerável tem quatro patas, que não me entende por não me entender.
Repito músicas para sentir vontade.

Conta-se de que? Vontade-se de que?
Talvez eu termine essa poesia na cozinha.
Com a mão no fogo pra sentir adrenalina.
Ou, apenas vou incendiar a casa.
Garota para de arrumar desculpas, para de procurar alguém para colocar a culpa.

Estou perdendo a cabeça, fazendo besteiras.
Sim, sua resposta é sim.
Orbito vivamente quando fecho os olhos.

Vou colocar fogo no tapete, nos meus dedos.
Vou colocar fogo no meu fogo
Vou colocar fogo em mim mesma
Quem sabe queimando, eu faça alguma coisa.

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