Oficina do Diabo

O horizonte

- Imaginei que estivesse aqui...
- Eu estou sempre aqui meu amigo.
Uma pausa longa se estendeu
batendo sobre os cabelos de Dínora.
Vestida de noiva e fumando um cigarro
ela se apoiava na frente na janela.
Apoiava minhas ideias também em seus lábios violetas.
- Fiquei preocupado com você.
- Você sempre está preocupado comigo.
Ela fugira do casamento a pouco.
Como um tornado que você não pode prever
e como um medo que você nem sabe que podia ter.
Dínora o olhou, com a mesma intensidade de sempre.
- Se eu me casasse com ele, estaria traindo meu grande amor.
- Eu achei que ele era o seu grande amor.
E qualquer um.
Para fazer uma mulher como ela subir em um altar só poderia ser amor.
- Então me diga, quem é seu grande amor?
- O horizonte.
O brilho das pupilas dela mudou, uma cor feliz e retratável.
Ela sempre contou sobre sua fascinação pelo horizonte.
Sobre o chamado que ela sentia, como se a vida ainda estivesse para começar.
- Você anda falando com ele?
- Começou ontem, como um ex namorado que você ainda tem o gosto dele na boca.
Louca
perdida.
Eram as duas maiores características que Juan daquela achava mulher.
Ela sempre estivera perdida na vida, sempre com medo de estar faltando algo.
E sempre fora louca, como um filme de aventura.
- Eu preciso viver Juan, preciso seguir o que o horizonte me diz. Minha liberdade.
- Seu conceito de liberdade é muito complicado.
Era ridículo, na visão dele.
Mas ela era sua amiga, sua melhor amiga
e jamais poderia acabar com seus sonhos.
- Eu sou livre Juan! Eu sou um passarinho! Um puta passarinho!
- E todo passarinho precisa voar.
Dínora sorriu, pegando o rosto dele ainda com o cigarro na mão.
- Eu vou fugir, para a liberdade.
- Vou sentir sua falta.
Verdade.
- Poderia vir comigo e finalmente eu te daria a chance de se apaixonar por mim.
Mentira. Ela jamais faria isso.
- Eu tenho uma vida aqui, não posso deixar tudo isso.
- Então tenha uma filha e coloque o meu nome nela.
Aquilo não era uma ideia, era uma ordem.
Que felizmente ele iria respeitar.
Dínora Rosales.
- Posso saber aonde você achar a liberdade?
- Não vou te contar.
E com isso, ela o abraçou.
Despedidas.
Saudade.
- Quando encontrar o horizonte, grite meu nome.
- Isso já era um plano.
E assim terminou.
Dínora lá e Juan cá.
Os dois sabiam que jamais voltariam a se ver.
Um ciclo era um ciclo
e para encontrar o destino dela, ela teria que se livrar dele.