Capítulo 9. contratação e convite

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- Oi mãe. - Digo, sorrindo para a pessoa deitada na cama do hospital assim que cruzo a porta do quarto.

A pessoa não reage, não me olha em resposta e nem demonstra ter ouvido minha chegada.

Já faz alguns dias que tem sido dessa forma. Minha mãe está piorando cada vez mais rápido e não há muito o que ser feito por ela.

Eu tenho 17 anos e logo vou ficar sozinho, pois sei que todas as tardes que passo com minha mãe podem ser a última. Ela vai morrer e eu não posso fazer nada para evitar isso. E ter consciência disso não torna nada mais fácil. Eu estou tentando não pensar nesse fato, pois sei que não vou conseguir lidar com a perda da minha mãe.

Ela é tudo o que tenho. Cresci com nós dois longe de sua família e sem querer saber da família do meu pai. Ela sempre foi tudo o que eu já tive e esteve presente em todos os momentos importantes para mim.

Nos primeiros sinais de sua doença, ela tentou esconder de mim e eu permiti. Senti medo. Acreditava que se fingisse que nada estava acontecendo, nada iria nos afetar. Fui um tolo.

Agora, estou vendo ela morrer dia após dia, na minha frente, e fingindo que nada disso está acontecendo.

Durante os dias em que ela ainda conseguia conversar, ficávamos falando sobre qualquer coisa que surgisse em mente por horas e mais horas. Minha mãe quando se cansava, pedia para que eu lesse trechos de livros para ela. Com o passar dos dias, eu chegava e ela já estava cansada demais, então eu só lia e ela me ouvia.

Agora, não tenho certeza se ela ainda está ouvindo, mas eu continuo lendo e falando com ela. Estou sendo o suficiente por nós dois.

- Como você passou a noite? - Dou um beijo em sua bochecha e me sento ao lado da cama. Pego em minha mochila o livro que estamos lendo. Enquanto procuro pela página em que paramos no dia anterior, atualizo minha mãe sobre as notícias da minha vida. Quero que ela saiba que vou ficar bem. - Tio Stuart volta da Inglaterra amanhã. Ele disse que vai ficar comigo por um tempo, pelo menos até o meu aniversário de 18 anos, que como você sabe, será em apenas alguns meses. Depois disso eu termino a escola, vou entrar na faculdade e ele vai poder voltar à Inglaterra.

Ela mexe a mão um pouco, e é a única reação que terei. Tomo isso como incentivo para continuar uma conversa.

- Sabe, eu estava pensando sobre a faculdade. Recebemos, na escola, alguns folhetos sobre a Universidade de Palmetto e há alguns cursos bem interessantes e diversos programas esportivos. Não que eu seja muito esportivo, mas seria legal ter algo assim para ocupar meu tempo na faculdade. O que você acha?

Conhecendo minha mãe tão bem como conheço, tenho certeza de que ela diria que eu não deveria entrar em nada que pudesse prejudicar meu desempenho acadêmico. Porém, ela também apoiaria qualquer decisão que eu tomasse, pois eu não iria decidir por nada sem ter certeza de que será o melhor e que, também, serei capaz de lidar com isso.

- Existe a possibilidade de que se eu entrar em um programa esportivo, terei uma bolsa de estudos. Só que claro, eu precisaria estar no time da escola já, o que eu não estou. - Dou uma risada e faço um carinho na mão da minha mãe. - Eu também pensei em estudar linguística. Sabe, primeiro estudar espanhol, que eu ainda não sei, e depois poderia estudar sobre a linguagem. Li uma coisa bem legal sobre neurolinguística e isso me pareceu interessante. Teria que fazer mestrado em outra universidade, mas eu realmente gostaria de estudar isso.

"É, mãe, eu sei que não temos dinheiro para isso, mas eu posso tentar uma bolsa. E eu também posso trabalhar para pagar por isso. Claro que não terei condições de ir para o melhor programa de neurolinguística do país, pois é em Harvard e além de muito concorrido, é muito caro. Só que eu posso tentar algum outro que ainda é bom, mas acessível."

I can't stop staring at you || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora