Quando Aaron saiu com o seu humor "estável", voltei para minha cama e me afundei nas cobertas. Minha noite foi cansativa e longa demais. Ter que adaptar os meus horários em função de como meu irmão está nem sempre foi fácil, mas desde que saímos da casa da nossa mãe, tem sido praticamente impossível. Também não é nada fácil nos manter sendo apenas eu que posso trabalhar, e em horários bem esporádicos.
Aaron é, como Nicky costuma dizer, um trabalho em tempo integral. E realmente, ele é. A qualquer momento do meu dia eu posso ter que largar tudo para ir atrás dele.
Quando éramos adolescentes "normais" e vivíamos com nossa mãe, ela costumava dizer que ele só fazia tais coisas para chamar atenção, e não por ter algo a mais. Eu mesmo, inclusive, só tive noção da gravidade quando ele foi internado e conhecemos a Bee. Ela foi a psiquiatra responsável por atendê-lo e explicou para mim e nossa mãe o que ele tinha.
Quando ouvimos o termo utilizado, cada um teve uma reação diferente. Ela riu, dizendo que isso só poderia ser uma piada muito mal feita, pois ela não tinha criado nenhum filho para ser fraco desse jeito; e eu pedi por todos os detalhes e informações que ela poderia me dar. Senti que pela primeira vez eu estava realmente entendendo o meu irmão.
Eu sinto que nunca vou ser capaz de entender a mente dele, ou de entender o que ele sente, mas cada detalhe que eu aprendo, cada cuidado com ele faz com que eu fique um pouco mais perto disso.
Aaron e eu somos gêmeos, e não há ninguém no mundo que poderia ser para mim metade do que ele é.
No ano anterior, éramos veteranos e aquele deveria ser o último ano de nós dois. Eu pensava em faculdades, mas Aaron pensava em como a vida só se abria para mais complicações ainda.
Nossa mãe de nada ajudava, pois toda vez que ele faltava à escola por estar na fase depressiva, ela gritava e ficava violenta.
Aaron não conseguiu se formar, e eu o tirei daquela casa na primeira oportunidade que tive. Nosso primo, Nicky, ofereceu que ficássemos em sua casa, pois ele costuma sempre viajar pra Alemanha por conta do seu emprego. Graças a ele, não precisamos nos preocupar em ter dinheiro para o aluguel. O tratamento de Aaron já custa mais do que sou capaz de pagar.
A mudança foi só de bairro, mas parece que foi muito mais do que isso. Desde que saímos da casa da nossa mãe, não a vimos ou soubemos dela. Legalmente somos adultos, pois temos 18 anos, e ela não precisa mais se preocupar com os dois "filhos ingratos" - nas palavras dela, claro.
Durante o ano anterior, Aaron conheceu um garoto e eles se aproximaram bastante. Kevin foi muito importante em todos os eventos dos últimos meses, e ajudou mesmo quando não havia necessidade. Dividimos nossos dias para sempre ter um de nós disponível para o Aaron. O irmão gêmeo e o namorado. Formamos uma dupla e tanto.
Quando os dois se conheceram, fui contra. Acreditava que havia perigo nessa proximidade, pois em algum momento Kevin partiria o coração do meu irmão e isso poderia destruir meu irmão de um jeito que eu não seria capaz de fazer melhorar.
Mas, aos poucos, Kevin e Bee, juntos, me fizeram perceber que não preciso melhorar ou consertar alguma coisa em meu irmão. Ele não é quebrado. Ele é capaz de tomar as próprias decisões - desde que esteja estável e fazendo o tratamento, coisa que garanto que sempre esteja fazendo.
Sem conseguir dormir novamente, fico deitado tentando me esquentar ou forçar o sono a vir de todo jeito. Mas meu celular toca, e sempre preparado para ser uma emergência, atendo no segundo toque.
É o Kevin.
- O que aconteceu? - Para ele me ligar a essa hora, provavelmente algo ruim.
- O Aaron, ele...
Percebo pelo seu tom de voz, que ele está chorando.
- Kevin, onde ele está? Está machucado?
- Ele está preso.
Ah. Porra. Preso de novo?
- Você consegue me explicar? - Coloco a ligação no viva voz, e enquanto conversamos, saio da cama para trocar de roupa. Minha tentativa de dormir já era.
- Parece que ele invadiu a estufa de uma casa que fica no caminho da escola. Ele disse que era só para pegar uma flor pro namorado, que ele não estava vandalizando. Mas eles não acreditaram.
- Ligaram para você? - Tanto eu quanto ele somos seu contato de emergência, para o caso de coisas como essa acontecer. Sempre sinto frustração quando ligam primeiro para o Kevin. Sinto necessidade de sempre ser a pessoa que vai cuidar e resolver os problemas do meu irmão.
- Sim. Assim que chegaram na delegacia. Eu expliquei que ele é bipolar, e que deve estar em surto. Querem que alguém vá lá buscar ele.
- Eu vou.
- Não, você precisa assumir o lugar dele na escola. Por favor, confia em mim. Eu busco ele e trago para minha casa. - Me sento na cama, tiro a ligação do viva voz e levo o celular a orelha.
- Kevin, cuida bem dele. Por favor. E me liga se acontecer qualquer coisa.
Desligo o celular e saio correndo, por ver que já estou atrasado para a aula.
Ensino médio. Não gostei nem quando eu era obrigado a isso, então agora muito menos.
E saber que vou precisar ficar horas em salas de aula enquanto meu irmão está em surto só me deixam mais nervoso ainda. Em momentos assim eu fico feliz de que agora eu confie no Kevin, pois sei que com ele, nada de perigoso vai acontecer com meu irmão.
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I can't stop staring at you || AFTG
FanficTodas as manhãs, ao entrar em sala de aula, o olhar de Neil vai rapidamente até a cadeira ocupada por Aaron Minyard. O loiro, que se transferiu no início do ano letivo, raramente conversa com alguém da turma, e sempre que fala algo, é sobre as aulas...