Capítulo 16. recomeço

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Pelo terceiro dia seguido, acordo com o despertador tocando em meu celular. Ainda com muito sono e sem conseguir manter os olhos abertos, estico a mão pela cama procurando pelo celular. Quando o encontro, após longos segundos de busca, a porta do meu quarto se abre.

- Neil, está na hora - Tio Stuart diz em um tom animado.

Me viro de bruços na cama, puxando a coberta por cima da cabeça e resmungando.

Desde que comecei a tomar remédio para a ansiedade, sinto sono o tempo inteiro.

A ideia não surgiu de mim e eu nem aceitaria, mas Tio Stuart me levou - contra minha vontade - em um psiquiatra e ele me explicou que isso seria ideal para mim. Descobri que lidar com o luto não é tão fácil, mas existem algumas coisas que podem me ajudar.

Faz pouco mais de um mês que minha mãe morreu, e não fiquei um único dia sozinho desde então. Tio Stuart consegue trabalhar enquanto estou na escola e faz ligações o tempo inteiro. Já falei que ele poderia voltar para casa, pois é muito mais necessário estar na Inglaterra do que nos Estados Unidos, mas ele não aceitou. Ele repete, todas as vezes, que é mais importante ficar do meu lado nesse momento. Não tenho como convencer ele a desistir de mim, então estou começando a aceitar sua ajuda.

Há duas semanas, deixei que ele me levasse em um terapeuta. Conversamos por uma hora e pareceu que não se passaram nem 15 minutos. Foi mais fácil do que imaginei que seria, e isso me fez querer voltar lá nas consultas seguintes.

Tio Stuart se aproxima da cama e puxa minha coberta, e sorri quando me vê resmungando.

- Eu preparei um café para nós dois. Mas preciso que você tome um banho e se arrume. Temos alguns apartamentos para visitar hoje - ele fala, sentando ao meu lado na cama.

- Ok - concordo, mas sem me mexer.

Tio Stuart é previsível, e não sai do meu lado até que eu realmente me levante da cama. Acho que ele percebeu um lado meu que nem eu sabia existir: o lado preguiçoso e que gosta de dormir.

Quem diria que controlar minha ansiedade me faria conseguir dormir direito?! Bom, acho que o psiquiatra e o terapeuta.

Quando minha mãe morreu, eu entrei em estado de choque. Fiquei com medo de ficar sozinho e me desliguei de tudo. Por alguns dias, não fui ao trabalho e nem à escola. Só queria ficar no quarto que antes minha mãe ocupava, deitado em sua cama e olhando para o teto. Tio Stuart me forçou a sair de casa e me levou até um psiquiatra. Após 3 consultas em uma mesma semana, e longas conversas, recebi o diagnóstico de transtorno de ansiedade e iniciei o tratamento com medicação. A visita ao terapeuta faz parte do tratamento e é (de acordo com os dois) uma forma de evitar que eu entre em uma depressão e precise de tratamento para isso também.

Minhas consultas com o terapeuta me fizeram ver que preciso de algumas coisas para focar nesse momento, para tentar seguir em frente. Antes, eu não conseguia ver um futuro após perder minha mãe. Achei que ficaria sozinho no mundo, mas agora acredito que tenho meu tio, e ele não irá me deixar. Lidar com isso não é fácil, e ainda é assustador saber que tem pessoas que realmente se importam comigo.

Na maior parte do tempo, sinto que não mereço isso tudo.

E nem o apartamento que ele insiste em me dar.

Mas, o apartamento faz parte do nosso acordo.

Assim que levanto da cama e pego a roupa que deixei separada na noite anterior, percebo ele sorrindo para mim. Tio Stuart está digitando algo no celular e continua sentado na minha cama quando vou em direção ao banheiro.

Ligo o chuveiro e entro embaixo da água gelada para espantar o sono.

Tomo um banho longo, sentindo meu corpo relaxar e minha mente fica desperta, conseguindo me concentrar em coisas importantes para o dia de hoje.

I can't stop staring at you || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora