Por minha mente passa todos os palavrões que conheço em inglês e em outras idiomas (porque é óbvio que palavrão a gente aprende com uma facilidade imensa, independente da língua). Mentalmente, amaldiçoo a existência de Neil Josten, a minha e do meu irmão.
O encaro e não consigo disfarçar minha expressão. Nesse momento, estou com muita raiva. De todos.
- Você ficou louco - retruco, tentando me afastar. Neil rapidamente vem até mim, segurando em meu braço. Olho de sua mão para seu rosto, para sua expressão séria.
- Eu realmente quero saber o que está acontecendo. - Sua voz é baixa, como se estivesse contando um segredo. Irônico que ele está tentando tirar um segredo de mim. - Deve haver algum motivo para você fazer isso tudo, e eu quero entender.
Dou uma risada. Ele não faz ideia de como está parecendo ridículo nesse momento.
- Você não sabe do que está falando - debocho.
- Então me explica.
Como se fosse fácil simplesmente explicar isso pra ele.
Tento me afastar, mas ele aperta ainda mais meu braço.
- Qual o seu nome? - Sua pergunta me pega de surpresa e eu respondo antes mesmo de pensar com clareza.
- Andrew.
Percebo que Neil sorri e me xingo. Não deveria deixar nada disso acontecer. Parece que estou em um campo com areia movediça. Estou sendo puxado para algo que não consigo controlar.
Frustrado, me sento no chão frio da farmácia e escondo o rosto nas mãos. Ouço um barulho que imagino ser Neil sentando de frente para mim, e sinto seus pés contra os meus.
- Quem é ele?
Penso em sua pergunta.
Ele é meu irmão, parte de mim. E muito mais do que isso.
Suspiro, erguendo a cabeça e olhando em seus olhos.
- Meu irmão gêmeo - a verdade sai com muita facilidade. Neil assente com a cabeça, como um incentivo para que eu continue. E eu continuo. - Somos irmãos. E ele é minha responsabilidade.
Passo a mão no cabelo, pensando no que falar. Neil aguarda, em silêncio.
- Quando éramos crianças, meus pais viviam um péssimo relacionamento. Minha lembrança mais antiga é dos dois discutindo enquanto eu e Aaron brincávamos. Meu irmão não lembra muito do nosso pai, e eu fico feliz por isso. - As lembranças de tantas brigas presenciadas inundam minha mente. Tento não pensar nelas, e manter o foco. - O casamento dos dois era uma merda e eles nem tentaram fazer dar certo. Mas eu amava meu pai. Ele era uma pessoa incrível para mim e meu irmão, e isso fazia com que minha mãe o odiasse ainda mais.
"Ela nunca foi uma pessoa boa e eu a odiava demais. Me sentia culpado por não gostar da minha própria mãe, mas hoje em dia não sinto mais nada disso.
"Quando eu ainda era criança, meu pai morreu de ataque cardíaco. Aconteceu quando ele estava com meu irmão, e isso deixou o Aaron com muitos traumas. Quando eu soube o que aconteceu, fiquei tão preocupado comigo mesmo, que nem dei importância para como meu irmão estaria reagindo. O que foi um erro."
Dou um sorriso triste, perdido em lembranças.
- Minha mãe ficou ainda pior depois da morte dele. Todo o mínimo de atenção e carinho que ela ainda dava para nós, acabou. Ela se tornou violenta, e passamos por alguns anos insuportáveis vivendo com ela. - Percebo que Neil continua olhando fixamente para mim, sem esboçar nenhuma reação. - Quando eu finalmente percebi que havia algo de errado com meu irmão, já era meio tarde. E eu não sabia o que fazer.
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I can't stop staring at you || AFTG
Fiksi PenggemarTodas as manhãs, ao entrar em sala de aula, o olhar de Neil vai rapidamente até a cadeira ocupada por Aaron Minyard. O loiro, que se transferiu no início do ano letivo, raramente conversa com alguém da turma, e sempre que fala algo, é sobre as aulas...