Capítulo 20. uma equação

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Faz semanas e já não aguento mais essa espera.

Neil não retorna minhas ligações nem minhas mensagens. Neil saiu do emprego. Neil não aceita minha entrada quando vou até seu prédio.

Há alguns dias parei de tentar contato, e só estou mais esperando. Mas não consigo não me sentir ansioso e angustiado enquanto isso. Ele não me deve nada, ou seja, eu sei que ele pode simplesmente ter decidido que eu não preciso fazer parte de sua vida. Mas percebi que quero que ele queira. E isso tem me deixado muito confuso.

Fiquei sabendo da morte do amigo de Neil por Aaron, que comentou que um dos alunos da escola havia falecido e outro ficado ferido por conta de um acidente. Mas, por ele não ser próximo de nenhum deles, não sabia informações sobre o estado de saúde dele.

Uma semana após o acidente, uma mulher que imagino ser mãe do Matt, amigo de Neil, foi até à farmácia para comprar remédios para dor com uma receita com seu nome. Isso me fez imaginar que ele estava se recuperando bem, apesar de ter se machucado no acidente. E me fez sentir muito por Seth. Só tive um único contato com ele, mas Neil sempre que teve oportunidade, falava com muito carinho do amigo.

Não sou uma pessoa boa para confortar ninguém, mas gostaria de pelo menos saber como Neil está após tudo isso e mostrar que ele poderia falar comigo sobre como se sente. Ambos perdemos pessoas importantes, e eu não me importaria de tentar ajudá-lo a lidar com isso.

Mas parece que ele não precisa de mim, e finalmente entendi isso. E estou respeitando. Ou, pelo menos, tentando.

Acho que como não sou de fazer amizade facilmente, criei um instinto protetivo com Neil. De um jeito parecido com como sou com Aaron, Kevin e Renee. Parecido. Porque, também percebi recentemente, há algumas diferenças. Só não consigo entender ainda quais são. E isso é outra coisa que tem me deixado confuso. E eu odeio ficar confuso.

Aaron percebeu que estou mais agitado ultimamente e distraído, e sei que ele me observa em silêncio diariamente. Mas não comentou nada até agora.

Kevin também, e por isso que me fizeram vir até a casa de Kevin para um jantar. Sei que eles pretendem me fazer contar o que está acontecendo. E, sinceramente, não vejo mais o porquê de manter isso apenas para mim.

Enquanto comemos pizza, sentados no chão da sala de Kevin, assistindo a um jogo de Exy da liga profissional, passo o dedo pela tela do meu celular, relendo todas as mensagens não lidas que enviei para Neil nas últimas semanas.

Suspiro quando bloqueio a tela do celular e o guardo novamente no bolso do casaco. Sinto o olhar do meu irmão em mim.

- Andrew – Aaron me chama. Viro a cabeça levemente em sua direção. – Conta logo.

Suspiro novamente e isso é engraçado para mim. O que mais tenho feito nos últimos dias é suspirar. É um saco ser uma pessoa impaciente.

- Estou um pouco frustrado.

- Isso eu percebi. Quero saber o porquê – ele insiste. Kevin morde sua pizza em silêncio. Ele deve imaginar sobre o que se trata, mesmo que a única vez que eu tenha comentado algo relacionado a isso faça tempo.

- Me aproximei de um dos seus colegas de turma, e aconteceu uma coisa que fez ele se afastar um pouco.

Aaron me encara como se esperasse que eu explicasse mais do que isso. Não queria dar detalhes de nada, mas ele não vai me deixar em paz até que eu fale.

Então eu falo.

- Achei que ele tivesse descoberto de mim e de você, e quis ter certeza disso – começo, encarando o chão para evitar seus olhos. – Me aproximei dele pra descobrir o que ele sabia.

I can't stop staring at you || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora