Capítulo 4. feelings

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Quando cheguei em casa, minha mãe já estava dormindo. Fui direto para meu quarto, onde estudei, em silêncio, e preparei o material que prometi ao Aaron que levaria no dia seguinte. No momento em que me deito para dormir, já são quase 4 da manhã e fico frustrado por conta de mais uma noite mal dormida.

As insônias são algo comum de acontecer, mas sempre tenho esperança de que elas cheguem ao fim por conta própria. O farmacêutico para quem trabalho me deu alguns comprimidos que devem ajudar em noites como essa. Nunca tomei nenhum deles. Acho que, inconscientemente, eu saiba que posso precisar deles em outro momento, então eles estão sempre ali. A espera. Tudo na minha vida está sempre esperando por algo. Esse algo até agora não chegou para nada.

Cedo demais, acordo e fico esperando pelo meu celular despertar - como em todos os dias acontece.

Me arrumo rápido e passo no quarto da minha mãe antes de sair. Ela está deitada, com a coberta tampando sua cabeça. Sento ao seu lado e seguro sua mão entre as minhas. Ela deve estar com dores novamente. Sofro sempre que a vejo e ela sofre quando eu estou por perto. Ela quer me proteger disso, mas nenhum de nós sabe o que fazer.

Tento sempre aproveitar esses momentos em que ela está apagada por conta da medicação forte para dor, e me aproximar para sentir o contato da pele fina e frágil da minha mãe na minha.

- Estou com saudades - minha voz é baixa, para que ela não acorde.

Saio do quarto, dando uma última olhada quando estou na porta. Pego algo na cozinha que dê para comer enquanto vou pra escola e saio de casa. Como sempre, vou andando. Matt, meu antigo melhor amigo e vizinho, está saindo de casa nesse mesmo momento. Ele acena para mim de dentro da sua camionete e acelera. Deve estar indo até a casa da namorada, Dan. Ele sempre fazia esse roteiro, então imagino que ainda o faça.

Quando chego na escola, Aaron está sentado no lugar de sempre, mexendo no caderno.

- Oi - digo, animado, ao me aproximar. Ele levanta o olhar e parece confuso.

- Você está falando comigo?

- Sim. - Me sento na mesa à frente da sua e abro a mochila para tirar o material que preparei. Olho de canto de olho e reparo que ele está diferente de como esteve nos últimos dois dias. O cabelo está arrumado demais, a postura está reta e os olhos só demonstram tédio, e não preocupação. - Aqui - entrego a folha. Ele a segura, ainda com um olhar confuso.

- O que é isso?

- O que eu te falei ontem que entregaria.

Dou de ombros, me levantando e já indo para minha carteira. Ele continua olhando para o papel que entreguei e o lê, tentando entender o que é.

Sorrio ao observar sua confusão. Aaron, então, pega seu celular e digita algo. Ele fica encarando a tela até chegar o que imagino ser a resposta para sua mensagem.

Sinto que estou começando a entender o mistério que é Aaron Minyard.

Passo o restante das aulas pensando no que essa interação com o loiro me indicaram. E quando chego em casa, estou distraído demais para pensar em qualquer coisa além do garoto que parece ser dois. Ao entrar na cozinha me assusto ao dar de cara com um homem alto e sério.

- Tio Stuart? - Olho em direção à porta de entrada, olhando pra rua. Vejo um carro chique estacionada em frente ao jardim.

- Neil, como vai? - Ele se aproxima e me abraça. Seus gestos são muito frios e não há nenhum carinho no abraço.

- O que aconteceu? - Ele estar aqui não é um bom sinal.

Minha mãe se afastou da família há alguns anos e não sei porquê um deles iria simplesmente aparecer em nossa casa. Ela não queria que nenhum deles soubesse da doença.

I can't stop staring at you || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora