Capítulo 11. conforto

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O som alto da música pouco me importa nesse momento. Estar sentado ao lado desse garoto, que pouco conheço, faz com que todo o restante pareça estar em segundo plano. 

Neil, pelo que mostrou até agora, é uma pessoa muito disposta a ser ele mesmo. E também parece ser muito querido pelas pessoas que estão nessa festa. Além do grupo que esteve na farmácia e as duas meninas que o cumprimentaram quando chegamos, mais algumas pessoas se aproximaram para comemorar que ele está presente. 

Enquanto Neil comenta sobre a rotina na farmácia e todas as informações que eu possa precisar, me concentro apenas no som de sua voz e em sua reação corporal. Ele antes tirou o calçado e está com os pés na piscina, pouco se importando com a calça jeans molhada ao redor dos tornozelos. Ele pouco olha na minha direção, e se concentra mais na água da piscina do que nas pessoas ao nosso redor. 

Sua voz é baixa, mas num tom firme.
Penso em Aaron, que deixei para trás no dia anterior. Ele ignorou todas as mensagens que enviei desde que sai da casa do pai do Kevin, e não atende minhas ligações. Só sei que ele está bem porque Kevin e Nicky responderam algumas das mensagens que enviei.
Sinto falta do meu irmão. E não suporto estar em um clima ruim com ele, mas não sei como resolver isso, não agora pelo menos. 

- O que te fez mudar de escola? - Neil olha em minha direção. 

- Como assim?

- Você não estudava lá no ano anterior. Por que veio pra ela agora?

Dou de ombros. 

- Reprovei na antiga e queria um lugar diferente, como uma forma de recomeçar. - A resposta não parece muito confiante, mas não posso dizer a verdade. O que poderia acontecer se ele soubesse que essa era a única escola em que ninguém sabia que somos gêmeos? Ele provavelmente usaria isso contra nós dois. 

Não posso me dar ao luxo de confiar em ninguém. 

- Por que você parece se isolar de todos? - Questiono, em uma tentativa de mudar o foco da conversa. 

- Ah. - Seu tom de voz é baixo. Neil se deita para trás, no chão frio e úmido. - Porque desse jeito é mais fácil. 

- O que é mais fácil?

Ele fecha os olhos e se levanta novamente. 

- Me acostumar a ser sozinho. 

- E por que você gosta de ser sozinho?
- Eu nunca disse que gosto, Minyard. - Neil dá uma risada, mas não parece ter a menor graça. - Mas é a minha sina. É meu destino ficar sozinho, e eu só quero facilitar o processo para mim mesmo. Menos pessoas para eu sentir falta depois…

Ele olha para mim e fixa seu olhar no meu. Neil não pisca e não fala mais nada. 

- Parece que você tem algo que quer falar sobre isso. 

- Não tenho nada para falar. - Seu tom de voz é seco, mas a fala sai trêmula.

- Pensa em mim como uma pessoa estranha e que vai esquecer tudo o que você falar pelos próximos 10 minutos - começo, sem ter certeza do porquê de estar fazendo isso. Talvez eu queira uma oportunidade de entrar em sua vida e descobrir suas intenções. Ou talvez eu só não goste de ver alguém triste. Ou de ver ele triste. - Fale tudo o que você quiser falar e depois a gente volta a ser duas pessoas que apenas estudam juntas, onde nunca conversam. Que tal?

- Você está tentando ser meu psicólogo?
- Talvez. - Dou de ombros. - Talvez eu só ache que é necessário verbalizar pelo menos uma vez nossos pensamentos. Mesmo que não seja feito nada sobre isso, já ajuda. 

Ele respira fundo e ri novamente. 

- Então se prepare, porque você vai ouvir a triste vida de Neil Josten. 

I can't stop staring at you || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora