Capítulo 4

147 17 5
                                    

{Anna Elis}

  Meu queixo simplesmente despencou.

- Casar? Espera, com quem?
- Lembra daquela mulher que te falei há alguns dias atrás? - Papai disse deixando sua comida de lado e unindo as mãos sobre a mesa.
- Há um mês atrás, o senhor quis dizer.

  Enfatizo, lembrando-me do dia que ele disse, por acaso, que estava ia almoçar com uma mulher. Era domingo, e eu até estranhei um pouco, pois Paul nunca deu satisfação nenhuma de sua vida para mim. Acabei não ligando e esquecendo, não previ que iria dar em casamento.

- Tanto faz, a questão é que eu e ela resolvemos então nos casar. Estamos felizes e ela vem para cá amanhã. - Paul conta tudo com tanta frieza, que não se importa que seja uma bomba atrás da outra.
- Amanhã? Espera, ela vem morar aqui? - Digo enrugando tanto minha testa que chegou a doer.
- Onde mais seria? - Paul retruca. - Anna e eu não queremos logo ficar juntos e não queremos fazer isso só depois do casamento. Aliás, a cerimônia será aqui nesse final de semana.
- Esse final de semana?! - Disparo.
- Vai realmente ficar repetindo as palavras que digo? - Paul rebate e eu engulo seco.
- Só estou... surpresa. - Suspiro. - Não tenho nada que fazer, a casa é sua e a vida também. - Retruco.
- Ter mais alguém em casa, que não seja os empregados, não vai fazer tanta diferença para você, já que vive trancada no ateliê de pintura. - Paul rebate firme novamente e eu não consigo rebater. Apenas suspiro.

  Paul é tão duro quanto minha mãe, mas, pelo menos, ele não me agride como ela fazia. Eles são iguais em quase todo, tanto na personalidade quanto na aparência, embora esteja no auge de seus 50 anos, Paul ainda continua bonito e galante. Os cabelos loiros bem claros, agora com alguns fios grisalhos, olhos azuis e a pele bem clara. Mamãe era da mesma forma, os cabelos loiros dela desciam totalmente lisos sobre as costas, quase chegando aos quadris, olhos tão azuis quanto o mar pelo sol da tarde, e a pele clara como a neve.
  Devem achar estranho que chamo a falecida Ana Luíza de mãe, mas nunca chamei Paul de pai. Não consigo ter ligação nenhuma com Paul, embora tenha o chamado de pai duas ou três vezes quando criança, então percebi que ele não retribuia o mesmo afeto. Ele sempre foi indiferente quanto a mim, mamãe dizia que era o jeito dele pois mesmo assim ele me colocou em uma boa escola, mandava mamãe comprar coisas para mim e brigava com ela quando eu aparecia com marcas roxas de sua maldade.
  Sinceramente, não sei quem é mais confuso deles dois.

- E tem mais uma coisa. - Paul começa. - Elis, você sabe muito bem o meio que convivo, sou um mafioso e minha futura esposa trabalha como assassina profissional para os mafiosos. - Ele termina e meus olhos quase caem sobre a mesa, de tão arregalados.
- Assassina? O senhor enlouqueceu? Trazer uma assassina para cá?!
- Eu também já matei gente, Elis, e isso nunca te preocupou, e eu muito menos ia colocar tua segurança em risco, então mais uma vez: não há o que temer. - Paul enfatizou.

  Eu vou morar por 2 anos no mesmo teto que uma assassina, há sempre o que temer. Mas o que eu posso fazer? Se ele a escolheu como esposa, não existe o que eu possa argumentar. Como "bom" pai que ele é, nunca mudaria seus planos por minha causa. Essa conversa não é um pedido de opnião, e sim um aviso do que ele já decidiu.

- Bom, então apenas felicidades ao casal e que ela não seja uma madrasta como a da Cinderela. - Não foi uma piada, foi uma provocação e por isso Paul não sorriu.
- Irei fazer o anúncio hoje a noite na festa de um amigo, mas sei que não ia querer está em um lugar cheio de mafiosos. - Ele diz, se levantando.
- Ainda bem que sabe. - Digo bebendo água.
- Mas você estará para o casamento e isso é uma ordem, não pegará bem as pessoas não te verem na cerimônia. - Ele diz antes de sair, sem ao menos ter terminado seu almoço direito.

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora