Capítulo 14

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{POV. Anna Kariênina}

Pouco depois que Paul saiu, terminei meu café e fui me arrumar para receber os tais fornecedores. Coloquei uma calça de couro preta cintura alta e bem colada, um salto e uma camisa da mesma cor, a última era gola alta e tinha mangas compridas meio bufantes, ela só ia até um pouco baixo dos seios, então ainda ficou um pouco de pele amostra. Deixei meu cabelo em um rabo de cavalo alto e coloquei os brincos simples de pérola da cerimônia de ontem.
Se eu sou a nova chefe de uma das maiores máfias de San Diego, então eu tenho que parecer ser uma. O poder também está nas aparências.
A governanta da casa me avisou que os homens já haviam chegado e então desci para a sala, eles se levantaram assim que me viram descer as escadas.

- Bom dia, senhores. - Ofereci minha mão para os cumprimentar.
- Bom dia, senhorita. - O homem de cabelos morenos disse ao segurar minha mão, um gesto galante e de flerte.
- Senhora, afinal, sou casada agora, bem casada, aliás. - Enfatizo cada palavra enquanto aperto a mão do ruivo.
- Achei que Ralph ia nos receber. - Ele diz desconfiado.
- Sou esposa dele agora, por tanto também faço parte dos negócios. Posso fazer a negociação. - Digo firme e com postura.

Se algo que aprendi com o crime é que jamais devemos baixar a guarda, postura é que o nos deixa inabaláveis.
Nesse momento ouvimos passos nas escadas e vejo quando Elis aparece, agora usando uma calça moletom cinza larga, descalça e uma camisa branca com estampa do Eminem, pelo menos tem bom gosto. Os cabelos estão meio bagunçados e molhados, e ainda com cara da ressaca. Ela não diz nada e anda até a sala de jantar ali perto, onde o café da manhã ainda está posto.

- Sentem-se.
- Ela vai nos escutar? - O ruivo indica e vejo quando Elis nos olha, provavelmente nos ouvindo.
- Não tem problemas. - Afirmo. - Agora deixem de enrolação, e vamos começar a negociação.
- R$ 70.000,00 dólares em uma carga de 3 caminhões inteiros da mercadoria. - O homem joga um papel sobre a mesinha de centro a minha frente no outro sofá.

Isso equivale a não sei quantas dezenas de toneladas, porra. Tento conter minha surpresa e mantenho meu rosto neutro.

- Meu marido só quer pagar R$ 50.000,00 dólares. Essa é a nossa oferta. - Conto e eles soltam uma risada incrédulos.
- Isso aqui é a derivação pura da cocaína, droga nova e testada como uma das melhores. Não há outros vendendo dela por aqui ainda. R$ 70.000,00 dólares! - O de cabelo moreno diz invicto.
- Mas há em outros estados, Estados Unidos é enorme e Ralph consegue outro fornecedor. - Rebato.
- Mas não com a mesma qualidade. - O ruivo debate.
- Adolescentes bêbados em uma festa não consegue distinguir a diferença de cocaína e pó de arroz. R$ 50.000,00 dólares!
- Então o segundo maior mafioso de San Diego perderá sua popularidade de ser um dos melhores traficantes. - O homem é avio com a negociação e eu semicerro meus olhos por um instante.

Vamos, Anna Kariênina, você consegue!

- E vocês perderam um dos maiores clientes, saibam que como o segundo maior, meu marido pode muito bem acabar com a boa reputação de vocês também. Os Borges e os outros respondem a Ralph, a influência que temos, e vocês poderam dezenas de contratos, ou até mesmo, suas vidas. - Minhas palavras saem afiadas como as pontas de facas que uso em torturas.
- Isso é uma ameaça? - O homem de cabelos morenos soa razoamente firme mas eu conheço aquele olhar, o engolir seco da saliva. O medo pelo que sou.
- Sou a primeira dama do segundo maior mafioso de San Diego, mas sabem também que sou a maior assassina profissional desta cidade. E assassinos não fazem ameaças, e sim, avisos! - Rebato com força, é como está em um jogo de xadrez com eles. - R$ 50.000,00 dólares, pegar ou largar? - O canto direito de minha boca sobe com minha ameaça pairando no ar.

Os homens se entreolham por um instante, até que:

- Aceitamos.

Ele joga uma caneta sobre o papel, com uma cara nada satisfatória mas o meu sorriso no rosto é enorme. Uma satisfação que me faz quase suspirar, entretanto me controlo.
Assino o contrato e por um segundo analiso minha escrita. Anna Kariênina Ralph Vegas, o nome Albuquerque de minha mãe havia sido deixado de lado e agora eu era uma nova mulher, uma mulher casada com um milionário mafioso.

- Foi um prazer negociar com os senhores. - Levantei do sofá e ofereci minha mão a eles.

No entanto, eles apertaram minha mão sem nenhum prazer, e eu suspirei quando finalmente a empregada fechou a porta para eles. Eu precisava de um pouco de água, acho que nunca fui tão lassiva em minha vida, será isso o que estou me tornando?
Andei para ir até a cozinha mas parei na sala de jantar quando ouvi Elis dizer em um tom ácido:

- Você sabe como lidar com as pessoas.
- Sei como matar elas também. - Digo no mesmo tom ácido mas ela sequer estremece ainda de costas para mim.
- Você ocupou rápido seu novo posto.

Andei até ela e levei minha boca a poucos centímetros de seu ouvido. Mesmo de ressaca, ela ainda tinha aquele mesmo cheiro suave com uma pintada leve de cheiro de tinta, como se tivesse impregnado em sua pele.

- É o que as pessoas maduras fazem, Anna Elis, assumem quem são de verdade. - Sussurro a alfinetada e enfim sinto ela se estremecer.

Um sorriso satisfeito me escapa e volto a andar, esse pequeno debate me soou mais satisfatório do que com os fornecedores de drogas, que poderia ter me custado a vida.
[...]

{POV. Anna Elis}

Estava com tanta ressaca ontem que não consegui ir a faculdade, provavelmente Elena também não, fiquei o dia inteiro dormindo e a noite terminando o quadro da mulher na praia fotografando o nascer do sol, ainda não havia achado um nome para a tela.
Desci do carro em frente ao campus e andei até a entrada, ouvi risos e quando olhei havia algumas pessoas olhando pra mim. Estranhei mas não dei bola, não é de hoje que fazem bullying comigo então nem ligo mais. Mas até que eu havia me arrumado hoje, meu cabelo até estava bem cacheado. Entrei no corredor e mais risos soaram em direção a mim, quando olhei para Elena em seu armário no fim do corredor, ela estava com olhos arregalados ao lado de Eliot, e aquilo me deixou em pânico.
Que merda está acontecendo? Será que me vesti errado? Estou suja?
Praticamente corri até Elena.

- O que está acontecendo? Estou com algo no rosto?
- Não, amiga. Você está ótima. - Elena disse rápida.
- Então por que estão todos rindo de mim, mais do que o normal? - Digo tentando me controlar.

Elena não responde mas quem aparece é um garoto de uniforme.

- E aí, Elis! - Ele coloca as mãos para atrás da cabeça com movimentos estranhos de dança. - Bler bler bler. - Ele então coloca o dedo na língua como se estivesse vomitando.
- Sai daqui, seu palhaço! - Eliot o empurrou mas o cara saiu ainda rindo com os outros e eu fiquei ainda mais assustada.
- Que. Merda. Está. Acontecendo?! - Digo entre dentes, Eliot e Elena se entreolham. - Me digam agora! - Grito irritada. Eliot não diz nada e me entrega seu celular.

Abro um vídeo do storys da Savana e arregalo os olhos ao ouvir a música alta e havia sido filmado.
Porra!

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora