Capítulo 52

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{POV. Anna Kariênina}

Minha cela não era nada além de um cubículo de concreto e grades na frente, com uma cama de cimento com um colchonete por cima, e um vaso sanitário. Fedia a esgoto e eu fiquei sentada encolhida sobre a cama após ver um rato e algumas baratas andando, só o que me faltava era esses incentos nojentos serem meus companheiros de cela. Odeio incentos.
Não sei quantas horas se passaram desde que eu estava aqui, mas pareciam séculos devido a saudade que eu sentia de Elis. Eu daria tudo para esta com ela, a essa hora devíamos está muito longe daqui, construindo uma vida nova longe de toda a merda que foi nossa vida.
O delegado foi bem claro que eu não deveria receber visitas de mais nenhum que não fosse meu advogado, então quando um carcereiro apareceu abrindo minha cela e me chamando quase um sussurro, tive a certeza que aqueles lá fora já estava arquitetando algo, subornando os carcereiros e alguém veio me visitar. Meu coração se acelerou enquanto o homem me algemava e começamos a andar, ele entrou em um corredor que não havia celas, era tudo muito escuros e só conseguia ouvir os pingos da água caindo das infiltrações. Já estive em situações como essas quando ainda criança ia visitava meu pai, a diferença é que agora eu serei quem é visitado, não a visita.
Quando chegamos perto de uma porta metálica, ele tirou minhas algemas. Mal sabe ele que com meus pés livres eu poderia muito bem me livrar dele mesmo algemada.

- 30 minutos. - Ele disse abrindo a porta e eu assenti.

Assim que entrei, meu coração salto juntamente com aquela garota de cabelos cacheados que saltou da cadeira atrás da mesa, corremos uma até a outra e eu deixei-me perder naqueles braços, mesmo sentindo um pouco de dor no meu corte por causa do impacto. Sem querer, senti lágrimas descerem de meus olhos quando senti aquele aroma doce do perfume nos cabelos quentes de Anna Elis, ouvi seu choro baixo enquanto me apertava com força e eu só queria me perder nela, esquecer que estávamos na porra de um presídio e eu estou presa.
Por alguns minutos não houve palavras, apenas o calor daquele abraço cheio de sentimentos de saudades, até que Elis se afastou um pouco e então seus olhos curiosos vascularam todo meu corpo. Meu peito se apertou ao ver as sombras um pouco escuras abaixo de seus olhos, um indício de que ela não estava conseguindo dormir e chorava muito. Eu não quero a ver assim, eu não posso lhe ver assim.

- Laranja definitivamente não é a tua cor. - Ela comentou de repente com a voz um pouco falha e eu soltei um sorriso doloroso. - Como você está? Stefan me contou que o machucado não tinha sido tão grave, mas mesmo assim estou preocupada.
- Eu estou bem, minha flor, não a perigo em questão ao machucado. - Segurei seu rosto com minhas duas mãos tentando lhe passar confiança em suas palavras.
- Mas e aqui? Como está com os outros presidiários? - Ela perguntou. - Esse lugar me da arrepios.
- Você já esteve em um presídio antes? - Perguntei rindo curiosa e nos sentamos uma de frente para a outra nas cadeiras, com a mesa entre nós.
- Não.
- Imaginei. - Sorri brevemente. - Os presos aqui praticamente beijam o chão que eu piso, como se eu fosse a própria deusa da morte.
- Como assim? - Elis sorriu.
- Querida, a tua mulher é uma das maiores assassinas profissionais dessa cidade, tenho respeito. - Soltei com um sorriso malicioso e Anna apertou os lábios em um sorriso estranho. - O que foi? - Sorri confusa.
- Você acabou de dizer que é minha mulher. - Elis contou e eu corei percebendo o que eu realmente dito.

Um silêncio estranho houve e o sorriso dela se desfez, dando lugar a uma feição triste e preocupada.

- Stefan está fazendo o que pode, mas disse que tua situação é complicada demais, você é a única acusada do assassinato, não conseguiram mais pegar ninguém, e também tem provas. - Elis contou e eu suspirei. - Dei a ideia a Jones que conseguisse subornar algum dos peritos para saber o resultado do que foi períciado e quem sabe até conseguir mudar a provas. - Me surpreendi um pouco.
- Você realmente está pensando estrategicamente como uma assassina profissional. - Comentei e Elis corou um pouco, eu segurei sua mão sobre a mesa. - Vamos da um jeito nisso, eu vou sair daqui. - Ela assentiu. - Mas e você, como está cabecinha depois do que Dorgles contou? - Perguntei preocupada.
- Eu não sei se quero falar ou pensar nisso agora. É tudo muito confuso. - Ela suspirou e meu coração se apertou ao vê-lá aquele jeito.

Me levantei e andei até ela, Anna Elis afastou um pouco a cadeira da mesa e eu, tomando cuidado com meu machucado, me sentei sobre seu colo. Acariciei seu rosto macio e gelado com minhas duas mãos e uni nossas testas brevemente, nossas respirações quentes se cruzaram e soaram com aquela promessa daquelas palavras que ainda pairavam entre nós.
Então a beijei.
[...]

{POV. Anna Elis}

Como Nossos Pais - Elis Regina tocava em meus fones de ouvido e eu só conseguia abraçar meu próprio corpo enquanto chorava sentada no chão de meu quarto, após ter voltado da visita a Anna Kariênina no presídio. Meu estômago se apertou ao ver Anna Kariênina naquele uniforme laranja e pensar que ela pode passar anos lá e não tivermos nosso depois.
Minha mente está tão confusa que não parou mais de doer, a cada batida da música eu lembro de toda a história absurda da família que eu fui incluída. Paul disse que havia dado meu nome de Elis em homenagem a sua cantora brasileira preferida, e eu me pergunto se isso é realmente é verdade ou ele estava me manipulando para continuar o que ele não teve tempo de terminar? Mas por que me incluir se de qualquer jeito Anna faria todo o restante do trabalho, que mentes doentias tinha Dorgles, Paul e Anna Luíza.
Eu disse a Anna Kariênina que não queria falar ou pensar, mas a realidade é que essa história não para de soar em minha mente como um disco arranhado. A verdade, é que eu não consigo pronunciar algo que eu não entendo. Por que Paul mentiu pra mim? Minha mãe amava qual dos meus pais? Paul ou Dorgles? A única certeza que tenho é que aquele infeliz a qual atirei e Anna Kariênina esfaqueou era realmente meu pai, por causa de toda nossa semelhança e a cicatriz. A cicatriz da família Stone a qual meu sangue pertencia.
Meu Deus, que merda! Minha cabeça parece que irá dar um nó!
Vejo a porta de meu quarto ser aberta de repente e assim que os olhos de minha melhor amiga Elena pousa sobre os meus, eu desabo ainda mais e ela joga sua mochila no chão, e corre até mim. Elena se ajoelha para me abraçar e eu chorei lhe apertei com força.
Elena não disse nada, apenas retrubiu e me amparou até que alguns minutos depois acho que meu estoque de lágrimas acabou e fiquei apenas a lhe abraçar.

- Vim assim que soube, todos da cidade estão comentando do assassinato e o rosto de Anna Kariênina está estampado em todos os jornais. - Minha melhor amiga contou.
- Ai Elena, eu estou tão... - As palavras me faltaram.
- Eu sei, amiga, eu sei. - Ela acariciou meu rosto molhado de lágrimas. - O que a tua madrasta fez foi horrível, eu sei. Ela deve ter sido pega em um dos trabalhos dela como assassina e... - Eu lhe interrompo.
- Eu estava com ela, Elena.
- O que? - Ela arregala seus olhos caramelados.
- Eu estava com Anna Kariênina ontem, estávamos em uma missão.
- Você ajudou a matar aquele homem?
- Aquele homem era meu pai biológico. - Conto respirando fundo, já mais calma.
- O que?! Espera, mas e tio Paul? - Elena parecia horrorizada.
- Se está difícil para você entender, imagina para mim. - Suspirei e ela engoliu seco.
- Então, você teu matou o próprio pai? - Ela perguntou assustada, eu logicamente vou ver muitas vezes esse olhar caso eu queira contar para mais alguém o que houve, mas eu quero esquecer isso, então jamais contarei a mais ninguém.
- Tecnicamente não, só ajudei. - Dei de ombros. - É, eu sei. Sou horrível, não julgo se quiser ir embora. - Encostei minha cabeça em minha cabeça, fechando os olhos brevemente, até que sinto a mão de Elena sobre mim.
- Eu nunca entendi esse teu mundo, Anna, mas nunca te abandonei, então irá ser agora.

Meu coração se aqueceu ao ver novamente aquele olhar terno de Elena e o meio sorriso, sua compreensão e amparo é tudo que eu preciso nesse momento. Pois estou usando todas as minhas forças para me manter em pé por mim e por Anna Kariênina. Não sei se conseguirei me manter viva se ficar muito mais tempo longe de seus olhos verdes.
[...]

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora